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Teatro

"O grande protagonista é de fato o dinheiro ou a sua falta"
Marcelo Spalding


Um dos mais importantes dramaturgos do Rio Grande do Sul, Ivo Bender fala sobre o teatro gaúcho e os textos que temos assistido no Estado. AG - Como o senhor vê o atual momento do teatro gaúcho?

Ivo Bender - O teatro gaúcho vive um momento de grande efervescência, embora certos governos de plantão procurem atrapalhar sua atividade. Mas, como o teatro "vem morrendo" desde o desaparecimento dos festivais dionisíacos na Atenas derrotada por Esparta, no início do século IV a C. , não será este ou aquele governo que irá impedí-lo de acontecer. Se assim fosse, nosso teatro não teria sobrevivido à boçalidade da censura à época da ditadura militar, à prisão de atores e atrizes, ao banimento de obras consideradas uma ameaça à tal de segurança nacional. Portanto, apesar dos pesares, o teatro gaúcho vai bem, obrigado.

Há um crescente interesse por oficinas, tanto de criação literária quanto de interpretação teatral, mas não se ouve falar de oficinas de dramaturgia, e talvez a sua seja pioneira. Por quê?

Certamente isso ocorre porque a dramaturgia é um gênero literário difícil, rebelde e que pede mais do que a simples edição do texto: a peça teatral exige ser encenada. E a encenação custa caro. Então eu diria que além de ser uma prática difícil e quase desconhecida, os possíveis autores de teatro não querem arriscar-se na tarefa. O que é uma pena. Daí essa oficina: ela surgiu, basicamente, com o objetivo de dar oportunidade de criação, discussão e leitura dramática para os textos que forem escritos.

A que o senhor atribui a recorrência de montagens gaúchas de textos clássicos, em especial de Shakespeare?

Um texto clássico, lido ou encenado, é sempre um desafio para diretores e atores, figurinistas e cenógrafos. Um texto clássico é um texto ao qual sempre voltamos: ou por que é uma grande obra de arte ou porque é um tesouro de sabedoria. Reler ou encenar Sófocles ou Eurípedes, Racine ou Molière, Shakespeare ou Nelson Rodrigues equivale a um curso que se fizesse em que a disciplina real fosse a vida.

Pelo que se vê, as Companhias de Teatro costumam ou adaptar textos literários ou criar elas mesmas os textos, raramente investindo na contratação de um dramaturgo. É isso mesmo? O diretor é o grande protagonista, hoje? O grande protagonista é de fato o dinheiro ou a sua falta. A encenação é uma atividade dispendiosa e a adaptação de um conto ou duma peça de teatro sempre livra o grupo de pagar direitos autorais. É, pois, compreensível, embora se possa discutir a validade dessa prática, que alguém do grupo adapte, recorte, crie ou recrie um texto. Se o adaptador não desfigurar a obra, menos mal. Há pouco ainda vi uma peça em que foi retirada uma cena inteira. Era uma cena que preparava o desfecho e, naturalmente, fiquei sem saber porque a ação dramática dera aquele salto. Mas o pior é que nem nos anúncios e nem no programa do espetáculo havia qualquer menção a cortes ou adaptações.

Poderíamos dizer que há uma novelização do texto teatral, com textos de riso fácil e que apostam no nome dos protagonistas?

Sim. E vou mais além: há uma banalização que trata de agradar o público, banalização em que aparecem atores apenas sofríveis que nos chegam da televisão. São espetáculos em que a ausência de compromisso com o teatro é evidente. Quanto a isso, nada a fazer. O público é que deve se educar e ser mais exigente.

Qual o grande dramaturgo em atividade no Estado?

Deve haver mais de um. No entanto, pelo que já disse acima, esses dramaturgos têm seus textos engavetados: não são encenados nem, tampouco, editados.

24/04/2008

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