Teatro
Como agarrar um marido antes dos 40
Isabel Bonorino
Gênero criado por Martins Pena na primeira metade do século XIX, leva público
ao teatro e faz alegria de diretores gaúchos
Casais, adolescentes, homens e mulheres de diversas idades assistiram à nova
temporada da peça "Como agarrar um marido antes dos 40", de Cláudio Benevenga,
no teatro Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre.
Se no público havia alguma interessada em agarrar um marido, não se pode afirmar,
afinal ninguém assumiu ter ido assistir à peça em busca de um manual ou bula
sobre o assunto, mas sim pelo tÃtulo que sugeria boas gargalhadas.
"Não interessa se ela é coroa,
panela velha é que faz comida boa."
A música utilizada já na entrada do público dá o tom do que vem pela frente.
Lúcia, interpretada por Marlise Damine, é a advogada quase quarentona que sofre
de TPM. Desesperada por ainda estar solteira às vésperas de seu aniversário,
ela divide seus medos com a prima com quem mora no centro de Porto Alegre. Débora,
papel de Suzi Martinez, é a psicóloga, aparentemente equilibrada, separada pela
segunda vez, que demonstra tranqüilidade e desinteresse por relacionamentos,
ocupando seu tempo com trabalho, leitura e saÃdas ocasionais, mesmo que seja
sozinha, caracterizando a tÃpica mulher moderna, independente e bem resolvida.
As duas dividem o apartamento com Dalva, Denizeli Cardoso, a empregada metida
e debochada, que acaba roubando a cena com sua atuação hilária, recheada de
crendices e ditados populares, que garantem a comicidade da peça. Após afirmar
que mulher que não casa antes dos quarenta fica encalhada, a doméstica cria
o ambiente para envolver as primas na busca por um marido para Lúcia no curto
perÃodo de seis meses. A partir desse momento, se desenrola o roteiro que mostra
as situações tragicômicas que muitas mulheres já passaram ao encarar um novo
relacionamento e as expectativas de que o mesmo possa se transformar em um compromisso
mais sério, no caso de Lúcia, um casamento. O ponto alto da peça não é o final
que, conforme opinião de alguns entrevistados, mereceria uma revisão, mas sim
quando a supersticiosa Dalva incorpora a Rola Lola, uma espécie de entidade,
provavelmente inspirada na "pomba-gira" dos umbandistas, que acaba orientando
a desesperada advogada em sua empreitada em busca de um marido e leva o público
às gargalhadas que tanto esperavam.
O mesmo diretor de `Como emagrecer fazendo sexo' conta que para escrever a peça
se inspirou em uma amiga que estava na faixa dos 40 anos. Bem sucedida profissionalmente,
ela não conseguia ter nenhum relacionamento amoroso e começou a se incomodar
extremamente com o fato. Encantado com o universo feminino, que ocupa boa parte
de seu repertório, Benevenga, que também está com 40 anos, passou a pesquisar
mais sobre o tema, colher informações, conversar com amigas e observar as mulheres
em geral a fim de retratar a fase que muitas que optam pela carreira atravessam:
chegar aos 40 anos sem ter encontrado um marido, um companheiro e sem ter formado
a própria famÃlia. Roteirizar o tema pareceu uma boa idéia e, cerca de dois
anos depois, a peça estava pronta. Também escritor, ele faz na peça a reflexão
sobre a fase que chama de `meio da vida` e os questionamentos que tanto mulheres
quanto homens se fazem ao chegar aos 40 anos: o que querem para suas vidas a
partir daquele momento.
Feedback nas coxias
Em janeiro de 2008, o diretor selecionou as três atrizes, que tiveram desde
o começo um bom entrosamento, apesar de não se conhecerem, fato que garantiu
o sucesso com o público na estréia em junho, após três meses de ensaio. Observador,
o diretor assiste não só à peça, mas também à reação da platéia. Dos bastidores,
confere o resultado de cada uma das falas e cenas que escreveu e dirigiu. Vem
do público o retorno imediato de seu trabalho em forma de risadas e comentários.
Para ele é comum ver "mulheres na platéia se cutucando ou comentando ao ver
determinadas cenas e se identificar ou lembrar de situações como as enfrentadas
pelas personagens", relata divertido e satisfeito.
O resgate dos que não iam
Benevenga é publicitário, mas trabalha com teatro há vinte anos, primeiro como
ator e depois explorando sua criatividade para fazer cenário, figurino e produção.
Para ele, "é complicado viver de arte, no Brasil e, principalmente, no Sul,
é pior ainda. Precisa ser multimÃdia", afirma. Ele lembra ainda que há 20 anos
não existia público para teatro no estado, sendo que, com as comédias mais leves,
o público começou a modificar a opinião sobre as montagens gaúchas. Segundo
o diretor, o marco dessa abertura foi a peça "Se meu ponto G falasse", que resgatou,
entre o público de teatro, pessoas que não iam ver montagens gaúchas por preconceito
com a produção local, além disso, outro segmento foi captado: pessoas que não
iam por simples falta de hábito. Para ele, o sucesso da comédia de costumes,
que aborda temas do nosso cotidiano de forma engraçada, beirando o deboche e
a ironia, se dá por garantir momentos de alegria e descontração para um público
que enfrenta um mundo numa época cada vez mais complicada e sai de casa em busca
de diversão e de uma hora de boas risadas. O gênero, que tem como criador o
francês Molière, é considerado por muitos o mais caracterÃstico do teatro nacional
e teve como principal representante o escritor Martins Pena, que caracterizou
com bom humor o cotidiano da sociedade brasileira na primeira metade do século
XIX.*
Tocando no assunto
Benevenga conta que em 1997, escreveu seu primeiro texto teatral e para sua
surpresa recebeu por ele o prêmio da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
`A verdadeira história do Titanic` logo foi montada em Porto Alegre e estimulou-o
a persistir no caminho das artes cênicas. Na seqüência, escreveu "Esse pitéu
é uma parada" e "Como emagrecer fazendo sexo", peça que em três anos já atingiu
mais de 80 mil espectadores em todo o estado.
O vencedor do Prêmio Açorianos de Melhor Ator Coadjuvante e indicado ao Prêmio
Açorianos de Melhor Texto Original em 2005 já tem planos para o próximo ano.
O novo projeto já tem nome: `Próstata`, peça em que o autor pretende retratar,
pela primeira vez em sua carreira, o universo masculino. Para isso, já iniciou
a pesquisa de campo, indo inclusive consultar um proctologista e sentir literalmente
na pele uma das situações se não temidas, mais evitadas por grande parte dos
homens brasileiros: o exame de próstata. Graças ao preconceito e ao machismo,
o câncer de próstata, que poderia ser identificado, controlado e combatido com
o simples exame de 'toque', é uma das maiores causas de mortes de brasileiros,
segundo estatÃsticas do Ministério da Saúde. Se assim como na abordagem da TPM
feminina, Benevenga conseguir fazer os homens rirem de si mesmos e de seus medos,
desmitificando temas e tabus em favor de uma vida mais saudável e com menos
preocupações, já terá alcançado o sucesso, mesmo que haja uma única apresentação
com apenas um homem na platéia e ele, de repente, se toque!
*A comédia de costumes caracteriza-se pela criação de tipos e situações de
época, com uma sutil sátira social. Proporciona uma análise dos comportamentos
humanos e dos costumes num determinado contexto social, tratando freqüentemente
de amores ilÃcitos, da violação de certas normas de conduta, ou de qualquer
outro assunto, sempre subordinados a uma atmosfera cômica. A trama desenvolve-se
a partir dos códigos sociais existentes, ou da sua ausência, na sociedade retratada.
As principais preocupações dos personagens são a vida amorosa, o dinheiro e
o desejo de ascensão social. O tom é predominantemente satÃrico, espirituoso
e cômico, oscilando entre o diálogo vivo e cheio de ironia e uma linguagem à s
vezes conivente com a amoralidade dos costumes. Antologia de comédia de costumes.
Flávio Aguiar.
13/08/2008
Comentários:
Há datas para apresentação nos dias 22 ou 29 de agosto de 2009?
Favor retornar com valores!
Aguardamos com urgência.
Rotary Club Uruguaiana Santana Velha , Uruguaiana/RS 05/07/2009 - 17:33
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Isabel Bonorino
Isabel Bonorino é jornalista, radialista e relações públicas. Musicista, dedicou-se ao canto lÃrico de 1995 a 2005, atuando como soprano nos corais da Ospa e PUC. Foi colaboradora da Revista Literária Blau e produtora/apresentadora na Rádio da Universidade, onde criou o programa "UFRGS em Canto". Atualmente é produtora e repórter da TV Assembléia.
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