Um dado importante à respeito de Porto Alegre, e que tem uma relação
direta com o resto do país e com o mundo, é seu avanço
como pólo de desenvolvimento cultural e artístico.
Reconhecidamente exportadora de talentos musicais, famosa por sua Feira do
Livro, com movimentos/eventos de teatro completando década de (re)existência,
agora, mais que nunca, mostra-se em plena consolidação como pólo
referencial em artes visuais.
De Bienal em Bienal foram sendo sedimentadas as estruturas que descambaram
numa VI Bienal do Mercosul pioneira pela implantação de um projeto
pedagógico com repercussões mundiais, por toda a rede de ensino
regional e evento cuja trajetória lastreou iniciativas de levante da
cena artística local como as paralelas ESSA POA É BOA e BIENAL
B.
2009 é ano de Bienal do Mercosul que desde sua última edição
vem refletindo sobre suas relações não apenas com a arte
propriamente dita, mas como sua presença afeta o público local.
Tenho certeza que os diálogos que se estabeleceram entre uma Bienal que
buscava a legitimidade globalizada e os movimentos artísticos paralelos
locais construídos com linguagens alternativas e populares, foram experiências
assimiladas e recodificadas para a seleção da nova curadoria e
construção da VII Bienal do Mercosul e vejo nisso um dado relevante
e positivo.
A nova curadoria é um binômio entre o conhecimento teórico,
fresco e firme de Victoria Noorthoorn e a "mão na massa" didádica
artística com tempero publicitário de Camilo Yáñez.
Junte-se a vontade e a importância de retomar uma aproximação
de suas relações com Porto Alegre, com o Rio Grande do Sul, crucial
para uma legitimação local e conceitual, inclusive junto aos alunos
que pretende atingir, e teremos as bases da nova Bienal que se aproxima. Nas
palavras da curadoria, percebe-se um movimento de expansão/retração
em looping, que pretende se referenciar em Porto Alegre como ponto de retração
máximo, expandindo-se para o global para justamente ganhar distanciamento
e observar nossa Porto Alegre/Rio Grande do Sul no contexto internacional. Olhares
de entorno e de umbigo, que pretendem fazer o público olhar para o centro,
para si e para sua posição com o resto. Isso é importante
e muito educativo.
Se a curadoria promete intensificar o desenvolvimento pedagógico através
da qualificação de equipes do evento e rede docente regional,
imagino que a associação da experiência embutida na curadoria
com a experiência assimilada dos processos paralelos, subsidiadas por
uma intensa campanha de publicidade e informação, fará
florescer uma intensa produção de material gráfico interativo
e de internet, no que acho muito interessante prestar atenção
às relações de design que serão associadas ao processo
e já antecipo parabéns pela acessibilidade que imagino que esse
material terá. Tudo isso soma e será positivo para "re-enfiar"
conceitos artísticos no desenvolvimento do conhecimento escolar, tão
importante para a construção de público consumidor de arte.
Tomara que funcione, que o público realmente se identifique com as estratégias
que serão criadas e participe ludicamente. Acredito que esse tempero
calcado em marketing de guerrilha com bastante design subliminar possa fazer
diferença em tempos das novas gerações de adolescentes
informatizados.
A curadoria da nova Bienal do Mercosul, em sua apresentação
inicial, mostra interesse, ainda, em ampliar os campos da próxima Bienal
para a literatura e a arquitetura. No campo literário espero que seja
mais em relação à própria linguagem, que se volte
para um discurso mais sintonizado com o público em geral, crie situações
de linguagem popular, ou que seja relativo à publicações
artísticas e didáticas. Não gostaria de ver misturado Feira
do Livro ou saraus de poesia com bienal de arte. Acredito que é necessário
foco na Arte em si. Livro, música e teatro, tudo muito legal, mas cada
um no seu quadrado, com respeito às identidades conceituais de cada área.
Mas isso eu posso ter entendido mal e é só uma divagação...o
tempo irá revelar melhor essa relação.
Por outro lado, acredito que os pontos relativos à arquitetura que os
curadores pretendem abordar sejam muito bem vindos em vários aspectos.
Sim, Porto Alegre tem suas belezas arquitetônicas particulares, que lhe
dá personalidade e identidade específica em sua relação
com o espaço global e além disso, estaremos resgatando e valorizando
esse aspecto cultural muitas vezes desprezado e bastante depredado/dilapidado
ultimamente. Claro que a relação entre a Bienal e o Museu Iberê
Camargo é forte fator de estímulo a que essa questão seja
relevante na próxima temporada, e acredito que teremos uma parceria peculiar
nesse sentido, mas ok...se torna válido se levarmos em conta a representatividade
arquitetônica internacional que o NOSSO museu em Porto Alegre representa.
Quem sabe em breve, assim como São Paulo, não teremos uma bienal
de artes com uma bienal de arquitetura, movimento que já vem sendo sonhado
pelo nosso IAB faz um tempinho e que talvez fosse uma boa oportunidade de transdiciplinaridade
das relações de mercados de ambas as áreas?...heim? heim?
Ideiazinha pra detrás da orelha né?...
Sim, 2009 trará uma Bienal do Mercosul feita para Porto Alegre, para
as crianças e adolescentes do Rio Grande do Sul, e espero que toda essa
operação cultural respingue nos esforços da classe artística
local, brava gente brasileira, que também está na expectativa
dos diálogos que possam se construir e fomentar, de um sistema de artes
mais humano, mais popular, mais democrático, que não seja apenas
um mercado para poucos, mas uma dinâmica e desmitificada aproximação
entre público e arte gerando "um lugar ao sol" para todos os
seus profissionais e agentes, principalmente estes, que vivem em Porto Alegre.
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