Leonardo Brasiliense: Valesca, não há razão para
rodeios quando se pode ir direto às perguntas difíceis: por que
escrever?
Valesca de Assis: Escrevo como uma necessidade de expressão estética
e, até, terapêutica. É o meu canal de comunicação
com o mundo, a minha maneira de transformar a realidade.
Leonardo Brasiliense: Tuas primeiras três novelas (A valsa da
Medusa, A colheita dos dias e Harmonia das Esferas) tinham um caráter
trágico intenso. Depois vieram as novelas dirigidas ao público
juvenil (Diciodiário e Vão pensar que estamos fugindo). Essa mudança
foi por acaso (por conjunturas externas) ou teve algum motivo mais pessoal?
Valesca de Assis: Diciodiário nasceu de uma provocação
da Elaine Maritza, da Artes e Ofícios, para que eu escrevesse uma história
sobre "grilos" de adolescentes. Foi um grande e novo aprendizado.
Gostei muito de escrever, tanto que seguiu-se a ele o Vão pensar que
estamos fugindo! Talvez o fato de ter me tornado avó, tenha me motivado
para outras escritas... Mas, também, trabalho em uma novela muito trágica,
há cinco anos. Tem-me faltado tempo emocional para concluí-la.
Leonardo Brasiliense: Tu vês algum aspecto negativo nessa proliferação
de literatura dita "juvenil" se compararmos o cenário atual
com o da nossa adolescência, quando o que tínhamos à disposição
era simplesmente literatura, sem tantos rótulos? Não pode haver
aí uma tendência (pela força que o mercado tem para "direcionar"
as coisas) a restringir a experiência literária do jovem apenas
à sua realidade humana mais imediata?
Valesca de Assis: Uma boa literatura infanto-juvenil é fundamental para
que não se perca o leitor adulto. Quantas desistências aconteceram
porque, a certa altura da vida, não se tinha a bagagem necessária
para ler a melhor das literaturas, como a de Machado de Assis ou de Eça
de Queirós.
Leonardo Brasiliense: Ministras uma oficina de criação
literária voltada ao desbloqueio criativo. Podes nos falar um pouco disso?
Vai uma provocação: o bloqueio criativo não pode ser somente
um sinal de que o sujeito não tem de fato uma história para contar?
Valesca de Assis: Estou convicta, por experiência, de que as idades
que vivemos depositam-se, camada sobre camada, em nosso terreno geológico
pessoal. É a família, a escola, a sociedade, todos trabalhando
para que nos acomodemos a regras. E a arte é sempre subversão.
De repente, quando resolvemos escrever, estamos congelados. Então, a
partir de certa altura, comecei a pesquisar esse assunto e a descobrir maneiras
de chegarmos diretamente à nossa fonte criadora. Todos têm uma
história para contar; o que pode acontecer é que não alcancem
a transcendência ao escrever, ou seja, não produzam literatura.
De qualquer modo, exercitarão sua criatividade em outros tantos setores
da vida.
Leonardo Brasiliense: Além das oficinas, sei que também
dás palestras em escolas. Esse tipo de evento é mais comum hoje
do nunca, e de forma crescente. Vamos deixar de lado as Faculdades de Letras,
onde o interesse do público é acadêmico. Vamos pensar apenas
nas escolas de Ensino Fundamental e Médio: achas que esse contato é
realmente necessário ou quem sabe seja um indicador de que os professores
não estejam conseguindo transmitir aos alunos a importância da
literatura em sua formação humana, tendo que colocar na frente
deles o escritor em carne e osso, como antigamente se dava Biotônico Fontoura
às crianças para lhes abrir o apetite?
Valesca de Assis: Gosto do contato com os estudantes. Penso que o fato
de conhecerem o autor, aumenta, neles, o interesse pela literatura e pela expressão
em geral. No entanto, em nosso caso, é fundamental que os professores
preparem os alunos, mediante leituras e discussões prévias, a
fim de que o encontro seja enriquecedor para as duas partes: o leitor e o escritor.
Não podemos esquecer, também, que vivemos um tempo de muita exposição:
não basta escrever e publicar: é preciso estar junto, ser tocado,
provar ser de carne e osso.
Leonardo Brasiliense: É inevitável e os teus leitores
têm curiosidade: o que vem por aí?
Valesca de Assis: Além da novela em andamento, tenho, pronto,
um texto infantil à busca de editor. Também deve sair, em breve,
a terceira edição, revisada, de A valsa da medusa. Sigo, ainda,
no projeto de uma série de livros infanto-juvenis com episódios
da História do Brasil. Vão pensar que estamos fugindo! foi o primeiro.
Leonardo Brasiliense: E pra terminar, por favor, algumas dicas de quem
sabe fazer aos que estão se iniciando na arte.
Valesca de Assis: A regra de ouro é ler, ler muito e sempre!
Depois, praticar, escrevendo e reescrevendo até já não
ter mais dedos. Uma coisa muito importante é a leitura, em voz alta,
do próprio texto. E, se puder, encontre um grupo que goste da mesma coisa
e que seja crítico na medida certa; gente que use uma tesourinha de açúcar
para cortar os inços dos textos de aprendiz.
Oportuamente, enviarei com formas e cores fantasias e realidades do meu mundo.
varne, Valença -Ba 14/08/2012 - 11:09
Gostei do porque escreve. Tambem falo com pinceis e tinta, o mundo, das cois naturais e da artificialidade em que nos tranformaram. Gostei muito de Deus segundo Spinosa. Umm beijo.
varne, Valença - Ba 14/08/2012 - 11:06
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