Todo jovem autor sofre com a ansiedade de publicar o primeiro livro. Quando comecei
a escrever ficção, em 2004, não foi diferente. Porém,
não tinha material, dinheiro ou auxílio de alguma editora. Optei
por criar um blog (
http://www.velhopituca.com/),
no qual postei até setembro de 2008 minhas experiências de escrita
e reescrita.
Mesmo com as publicações no blog e participação
em algumas antologias, nunca deixei de refletir sobre o alcance dos meus textos.
Vejo poucos leitores convictos, pessoas que lêem por ler, por amar a leitura.
Falta de tempo, de hábito, de dinheiro, de acesso, de interesse e tantas
outras faltas são respostas para o não-ler. Nos últimos
meses, por exemplo, meus únicos momentos de leitura são no ir-e-vir
do trabalho e aos finais de semana.
Frente a esses argumentos para a não-leitura, penso no celebre verso
“Todo artista tem que ir onde o povo está”. Assim como a
propaganda invade os espaços para vender produtos, serviços e
idéias, acredito que a literatura deve superar o livro. Seja no ônibus,
no parque, no cartaz de rua, no rádio, na internet, no celular, no caixa
do supermercado, o texto literário precisa agir, deixar a passividade
da estante. Com essas reflexões, comecei, em 2005, a desenvolver a adaptação
de uma pequena novela (Desfocado) para a internet. Interatividade, polifonia
e viralização do conteúdo foram os três eixos que
explorei.
Repartida em oito capítulos, com formas discursivas distintas, a novela
possibilitou desde animações, na qual o internauta apenas acompanha
o texto, até brincadeiras interativas nas quais dois textos se constroem
simultaneamente resultando em um único significado (Cap. V). Após
terminar a novela que postei no Velho Pituca, em capítulos separados,
o desafio era fazer com que ela não ficasse presa ao blog. Reuni as animações
com um menu de navegação que possibilita a alternância entre
os capítulos, assim como adicionar (embedar) a novela em scraps do orkut
e em posts de outros blogs.
Durante o processo de criação da novela, percorri muitos sites
com jogos e novas aplicações para internet. Nessas andanças,
encontrei o Artéria 8 (http://www.arteria8.net/),
trabalho coletivo de poemas animados, produzidos por nomes como Arnaldo Antunes,
Décio Pignatari, Tadeu Jungle, Glauco Matoso entre outros. Desenvolvidos
em 2003, os poemas exploram diversas formas de interação e significação
do texto literário. Outro trabalho relacionando literatura, interação
e internet que me chamou a atenção, foram as ciberpoesias (http://www.ciberpoesia.com.br/)
de Sérgio Caparelli, desenvolvidas em 2001. Voltado para o público
infantil, os ciberpoemas brincam com texto, imagem e som.
Mesmo com tantos trabalhos explorando novas possibilidades de inserção
do texto, muitos escritores ainda rejeitam outras formas além do livro.
Besteira. A internet, o celular ou a televisão digital não matarão
o livro, nem o texto. O bom texto, essencial sempre se manteve. No entanto,
a literatura, como agente de transformação social, tem a obrigação
de se desacomodar da estante e invadir, pressionar o leitor. E essa é
tarefa dos novos escritores, tenham eles, ou não, espaço para
publicar seus livros.
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