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Desbravadores do Miniconto no RS
Alcir Nicolau Pereira

O miniconto ganhou espaço na literatura de muitos países. E os fãs de Augusto Monterrosso, que fez, se não o primeiro, mas certamente o mais famoso e conhecido microconto - Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá. - se multiplicaram.

É uma coqueluche que a gauchada abraçou. Tem várias pessoas microcontando por aí. Tudo isso porque alguns autores aqui do sul emprenharam nossos neurônios com esta saborosa mistura de poucas letras. Isso porque iniciaram em nosso meio as narrativas de cinqüenta letras. Às vezes mais, às vezes menos. E quem são eles? Sem queres desprestigiar outros autores que escrevem muito bem, no meu modesto parecer, seriam cinco:

1. Leonardo Brasiliense que conquistou com este gênero o Prêmio Jabuti de 2007 e mandou o nome do Rio Grande do Sul aos recantos deste Brasil. Não sei se por eu gostar muito de humor, lá vai um dos últimos dele:

Olha o respeito

- Tira a mão daí. Eu sou uma mulher casada. Tá me entendendo? Me respeita. Olha essa maaão... Eu sou casada. Me obedece, seu merda. Faz assim ó:

2. Fernando Neubarth que gentilmente, como organizador do livro Contos Comprimidos da Editora Casa Verde, convidou-me e participei da coletânea, além de ajudar-me na formatação de um dos meus contos. É dele o miniconto abaixo, talvez escolhido por mim por eu gostar muito do tema vampiro, do qual tenho algumas narrativas.

Monstruosa TPM

Num instituto de beleza da Transilvânia, a esposa do Conde Drácula confidenciava com a manicure, sentia-se outra mulher com a chegada da menopausa: – Ele ficava impossível nos meus períodos menstruais...

3. Marcelo Spalding um pesquisadorr e cientista da micronarrativa. Detentor, com méritos próprios, da primeira dissertação sobre o assunto no Brasil. Dele, cito, até porque gosto, dois (na verdade super-minis mesmo), minicontos que se completam em sua essência:

Declaração de Amor

Eu te pago

Pedido de Divórcio

Tu me paga

4. Laís Chaffe que, com sorriso cativante compra o riso da gente, sem pedir troco. Uma mulher empreendedora que, com sua turma da Casa Verde Editora, propaga os minicontos por este Pampa afora, quiçá além fronteiras. Gosto desta micronarrativa:

Genuflexório

- Irmã?

- Sim, padre?

- Não aconteceu nada aqui, está bem?

- Louvado Seja Deus Nosso Senhor.

- Amém.

5. Ana Mello que, com sua Veredas – revista ON LINE (http://www.veredas.art.br) –, revela uma série de minicontistas. Inclusive este que agora escreve. Desta mulher, que exala amor pela literatura, gosto muito deste conto abaixo relatado. À mulher Ana, primeira-dama gaúcha do miniconto lá vai meu hip hip hurra!:

No inferno IV

E o Diabão ali com aquela cara de tarado.
Ela assustada:
- A gente pode resolver, mas beijo na boca não.

E, para não ficar sapateiro, ouso seis nanocontos meus:

Três Homens em Conflito

Pedro brigava com Paulo. Paulo com Antonio, que lutava com Pedro. Quieto no canto João mirava Maria.

E lançava marotas piscadelas à sapeca grávida.

Dúvida Mortal

Na gaveta encontrou vários comprimidos: azuis, vermelhos, verdes e amarelos.
- Puta merda, qual deles é para infarto? – perguntou-se o daltônico.

Fome

Abriu a ameixa. Bichada. Outra, outra e outra, bichadas. Fechou os olhos e manjou as restantes.

Alienado

Van Gogh, Salvador Dali, Quintana, Drummond, Homero, Bethoven, Cervantes, Da Vinci, Confúcio, Freud e Sócrates.

– Tá certo! O time parece bom! Mas quem será o goleiro?

Talentos

João tinha várias profissões. O filho desenhava telas. A mulher ornamentava panos.

A família do João Faz Tudo Pinta e Borda.

Dentista

- Posso desgastar os caninos?

- Não! – disse o vampiro, arreganhado os dentes.

A este cinco escritores gaúchos, desbravadores do mini-escrever por estas bandas, os aldeões deste pampa agradecem.


18/09/2009

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Comentários:

Prezado Chará Durante alguns anos, fui frasista do nonagentário Correio do Sul, em Bagé.Durante anos, fiz a assunção de que eu era um cronista preguiçoso.Sinto que não estou mais sozinho.Cordialmente Alcir Brito
Alcir Brito, Bagé Rs 02/11/2009 - 23:10
Muito legal Alcir. O que me deixa feliz mesmo é isso - contaminar com meu entusiasmo, minha fé na possibilidade que todos tem de escrever, é só querer.
Ana Mello, Porto Alegre/RS 18/09/2009 - 20:26

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