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O que nos fará continuar visitando a Feira do Livro de POA
Mario Pirata

Hoje dispomos de grandes redes de livrarias, em Shoppings, com estacionamento seguro, ar condicionado, ofertas e variedades de produtos e até mesmo com serviço de tele-entrega. Nestes locais, confortáveis poltronas, ou mesas com cadeiras, serviços de café e lanche. Ainda a possibilidade de consultas virtuais por título e autor, de se folhear e ler um livro ali mesmo. Sem constrangimentos.

Outros tempos, já passados, felizmente, a situação era diferente, quando entrar numa livraria era inclusive um ato suspeito.

Embora possua uma noção deficiente de administração, pois sou um produtor, um agente cultural, não tenho nem almejo ter a eficácia e o dinamismo de um vendedor de produtos para um mercado segmentado, sinto que esta situação revela a evolução de estabelecimentos como os acima citados, em oposição a uma visão mais estreita e pequena da situação, da parte de outros.

Como autor, leitor e cidadão, ir para uma praça, em condições descuidadas de conservação (aliás, como todo o resto da cidade de Porto Alegre, mal-sinalizada e em condições precárias), o que me faz sair de casa não é adquirir uma obra nem obter o autógrafo do autor. Pois sabemos todos que o livro desejado será ou já terá sido autografado durante o ano, na mega-livraria, ou naquele pequeno e aconchegante estabelecimento que gostamos de freqüentar.

A diminuição das vendas e da freqüência de público na Feira, então, pode ser analisada por outro aspecto. Romantismos e estreitamentos à parte.

O evento precisa alterar objetivos e perspectivas. Ou deixa de ser um evento de uma entidade que reúne editores, distribuidores e livreiros, onde o que interessa é vender, e investe na dimensão cultural e social da promoção da leitura efetivamente, ou tende a cristalização. Vai acabar virando uma manifestação folclórica. Já vimos isso acontecer noutros modos.

Pegamos a área destinada ao público infantil e infanto-juvenil (vou usar estas categorias antigas para me referir ao leitor jovem, que vem para a feira acompanhado e com a orientação dos pais, do professor e/ou mesmo do colega), Vemos que possue outra formatação. A feira do cais cresce ano a ano. Por quê?

Será apenas porque possui uma coordenação mais ágil e eficiente? Ora, então é só renovar os recursos humanos que cuidam da feira para adultos (vou mais uma vez fazer uso da categoria clássica para me referir aos leitores mais velhos).

Será porque está localizada junto ao cais, junto ao rio e com um horizonte mais alargado? Bueno, a mudança de local foi efetivada pelo crescimento da mesma, portanto é conseqüência e não causa.

Então será porque as crianças estão lendo mais que os outros ou são potencialmente mais consumidores? Pouco provável.

Porque a feira do cais promove mais seminários, mais espetáculos, mais painéis, mais entretenimento, mais informação, mais planejamento e lugares para sentar? (Perceberam que foram retirados vários bancos públicos, principalmente no canteiro junto à praça de alimentação da praça – será coisa da administração do município ou estreiteza de valores dos comerciantes, ou de ambos?).

Talvez seja porque lá não esbarramos com conglomerados de comunicação em massa promovendo seus empregados e amigos, sequer disputa de prêmios e acirramento de vaidades e promoção de competições e disputas? Infelizmente, não acredito.

Mas a feira infantil também está vendendo pouco, ora bolas. Embora possua projetos como o Fome De Ler e o Adote Um Autor, que trabalham durante o ano e colocam autores e obras em escolas.

Mas o que fará a feira do livro de Porto Alegre crescer em significado e sentido para as pessoas que pretendem continuar indo até a Praça?

Soubesse, eu diria: o que faz um valor comercial virar um bem cultural?

Sei que eu vou rever amigos lá, antes de buscar leitores. Encontrar pessoas e pensamentos que me interessam. Olhar a paisagem física e emocional, respirar oxigênio, mais também arte e informação. Talvez os responsáveis pelo evento possam fazer o mesmo. E promover durante o ano um encontro, ou dois, ou três, para conversar sobre isso. Eu gosto muito de conversar, mais ainda de ouvir. Muito, muito mais do que comprar.


18/11/2009

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Comentários:

Domingo, dia 08/11, oferecemos aos leitores de Porto Alegre a chance de conhecerem de perto os e-books da Plus e algumas reflexões sobre o futuro da leitura. Estavam conosco na atividade o diretor da Edipucrs, Prof. Dr. Jorge Campos da Costa, a professora Eloisa Menezes Pereira (primeira participante do projeto Faça um E-book da Escola). E eu estava lá servindo como mediador para a conversa. Tivemos repercussão na mídia local. Fomos destacados na capa do caderno da Feira do Livro da ZH, que deu bastante ênfase ao Sony Reader que levei para a atividade. Também saímos no blog do Mundo Livro, também da ZH e que mantém uma postura bastante crítica em relação aos e-books. Uma postura crítica é sempre positiva, especialmente o debate de idéias. E usando argumentos, é algo raro no Rio Grande do Sul.
ELOISA MENEZES PEREIRA, PORTO ALEGRE/RS 11/05/2010 - 11:15
O QUE FARÁ QUE A FEIRA DO LIVRO TENHA PÚBLICO - NA MINHA MODESTA OPINIÃO - É INCENTIVAR QUE OS AUTORES INFANTIS FAÇAM DA FEIRA SEU CAMINHO DIÁRIO. MAIS OU MENOS O QUE TU E EU FIZEMOS. E LÁ, NO MEIO DA MULTIDÃO, CONVERSAR, BRINCAR E ALEGRAR AS CRIANÇAS. NOSSO TRABALHO É IMPORTANTE, POIS PREPARAMOS A GURIZADA PARA QUE GOSTEM DE LIVROS, FORMANDO, DAÍ, OS LEITORES ADULTOS. ABRAÇOS ALCIR
ALCIR NICOLAU PEREIRA, porto alegre 13/12/2009 - 17:50
Valeu Pirata: Nós, do CLUBE DOS ESCRITORES DE ALVORADA concordamos com gênero, número e grau. Temos que lutar cada vez mais por espaços culturais, não apenas meros pontos comerciais. E é isso que a nossa Feira do Livro se tornou. Infelizmente acho que essa situação muito difícil de ser revertida. É pena. Mas não vamos se entregar pros homi. Vamos continuar fazendo nossa literatura-cultura para o nosso povo. Sempre que puder de uma canja para estes iniciantes que tem você como um dos ídolos a ser copiado. Abraços literários. Seu fã. Ricardo Porto.
Ricardo Porto, alvorada - RS 20/11/2009 - 19:08

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