(Serei breve. Tal como recomenda a internet.)
Admiro quem dedica tempo para revigorar as páginas de seu blog e as mensagens curtas do twitter. Sobretudo em razão de que essa tarefa exige ocupação. Ocupar-se com o blog ou o twitter ao modo de quem se impõe algo que lhe é necessário. É admirável, sem dúvida alguma. No momento em que escrevo essas linhas milhares (ou milhões) de pessoas estão ocupadas com seus blogs, facebooks, twitters etc, porque se sentem fortemente motivadas para essa tarefa. Outras tantas estão lendo (a fim de reforçar o comportamento daqueles que escrevem) o que foi escrito. Essa é a circunstância instaurada por essa fabulosa mídia – a internet – que, além de nos impor essa tarefa, nos mantém ocupados, porque isso é necessário.
Mas por que é necessário? Em que sentido se mostra necessário manter-se ocupado com esses discursos, com essas tribunas, com esses palanques virtuais?
É preciso iniciar alguma reflexão. Uma sociedade de consumo demanda renovação constante (das roupas, dos utensílios, dos objetos de desejo), renovação que é requerida pura e simplesmente para que o sistema possa sobreviver. Nas palavras de Vattimo “(...) a novidade nada tem de revolucionário e perturbador, ela é o que permite que as coisas prossigam do mesmo modo”. A internet é mais um lugar de consumo, onde o que é consumido é a suposta “informação” (com todo o prejuízo que essa expressão empresta à noção de “dado relevante”). Como tudo o que pode ser consumido, a informação também precisa ser renovada.
Como é possível que se renove uma informação como tal? O que pode existir de novo na informação? A resposta é simples: o modo como ela é embalada, sua embalagem. Nós – os agentes de interação nesse espaço virtual – cuidamos de embalar a informação de maneira apropriada, ou seja, do modo que parece mais próprio aos propósitos de nossa autoindulgência. Nós, sim, nos apropriamos da informação e a devolvemos na embalagem que julgamos capaz de nos representar dessa ou daquela maneira; julgamos que isso seja de algum modo necessário. Em decorrência, também nós nos transformamos em um produto que deseja ser consumido. Nós – informação e embalagem apropriada – sustentamos, assim, o mundo “necessário” do valor de troca.
O que assusta é que não estamos conscientes de que há uma “imobilidade” de fundo. Considerando que toda a experiência da realidade se reduz a uma experiência de imagens (pois ninguém alcança ninguém verdadeiramente), o que sobra à sombra de todo esse ambiente é a ocupação, a tarefa, a necessidade não verdadeiramente necessária. Enquanto nos distraímos com a tarefa “urgente” de embalar a informação em 140 caracteres, em “frases prontas”, em representações abreviadas, não percebemos que nada foi “construído”. Muito daquilo que essa tarefa, essa ocupação, produz são apenas relatos da insignificância. Estamos nos condenando ao nanismo hermenêutico. Em grande medida, ali, nas vísceras digitais da mídia das múltiplas conexões e canais, o que vigora é o dejeto de obras inacabadas – e inclua-se aqui a obra que mereceria o maior dos cuidados: a cultura.
Evidentemente, qualquer generalização já inclui uma imprecisão interpretativa, pois sempre há exceções. Nos veios mais densos da sociedade de consumo ainda se agitam aqueles que ignoram seus vícios e conseqüências, comprometidos antes com a tarefa, a ocupação e a necessidade da crítica – não como crítica deliberada, niilista, desertora –, uma crítica que visa perscrutar as chances da evolução cultural (se é que a cultura seja qualquer coisa que evolua). Também não estou fazendo apologia ao abandono dos orkuts, twitters, facebooks, blogs e toda a sorte de espaços para relatar a insignificância. Não pretendo fazer uso da retórica panfletária Não creio que tais espaços sejam de todo inúteis. Claro que não. Mas se ao menos pudéssemos mantê-los significativos.
Observo que muito daquilo que se apõe nesses "canais de exposição de produtos" não representam nada mais do que mera intenção de dizer "Ei, eu tenho algum valor afinal! Não quer me consumir?". Não há o compromisso com a obra (para entender o que quero representar pela palavra "obra" considere a Sagrada Família de Barcelona - o compromisso é com a grandeza, o detalhe, o cuidado). A intenção é ser "consumido" o mais rapidamente possível.
Para concluir, quero fazer remissão a um comentário do filósofo italiano Gianni Vattimo: “No mundo do valor de troca generalizado tudo é dado – como narração, relato (da mídia, essencialmente, que se entrelaça de maneira inextricável com a tradição das mensagens que a linguagem nos traz do passado e das outras culturas. A mídia, portanto, não é apenas perversão ideológica, mas antes uma declinação vertiginosa dessa mesma tradição)”.
Por bem, vale dizer: talvez isso seja insignificante também.
Selistre, como digo ao final do meu texto, também eu talvez esteja produzindo um relato de nossas insignificâncias.
Abraço.
Cassio, Porto Alegre/RS 30/07/2010 - 15:37
Parece que não conseguistes ser breve como abristes teu texto, talvez por desejares inconscientemente também ver tua opinião consumida, mas isso não é bom nem mau e um mestre em filosofia deve saber disso. Principalmente quando domina especialização da fenomenologia e da hermenêutica, agregando o privilégio da complementação curricular em disciplinas da psicologia e da administração.... PORQUE DIABOS, EU, SEI DISSO ?
Tua negada vaidade me contou, aqui nesta página.
PODERÍAS TER ARRISCADO UM HAI KAI.
SELISTRE, Porto Alegre - RS 30/07/2010 - 13:51
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