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Batom, biju ou bombom: e o que mais, professor?
Cláudia de Villar

Escândalo. Sim, é uma constatação, escandalosamente, real. Incrível como alguns utensílios pertinentes ao mundo feminino rodeiam as salas de professores de algumas escolas. Certamente, a baixa remuneração em que alguns professores estão sendo submetidos faz com que, assim como alguns policiais que fazem um “bico” de segurança em seu turno livre, procurem uma nova forma de angariar fundos para o seu sustento. Não tiro a razão e concordo com a necessidade e o trabalho digno. Entretanto, a pauta aqui não é a desqualificação dessa segunda ou terceira fonte de renda, mas a total falta de investimento em livros. Sabendo-se que batom, biju e bombom são artigos supérfluos, que não são de primeira necessidade, o que dizer de educadores que investem somente nesses tipos de materiais e se negam a comprar um livro? E pior, professores que se quer leem. Bem como não veem na “comercialização” de livro, fonte de renda! Livro é somente obrigação? Não é diversão? Dessa forma eu me pergunto, como cobrar dos alunos mais responsabilidade, mais empenho em sua vida estudantil, mais cuidado com o gasto de dinheiro (aqui para jovens) se ele mesmo não investe em livros? Não compra e nem vende. Compra biju, vende batom, come bombom e foge dos livros.

Atenção, não quero que pensem que há aqui uma forma de preconceito ou que exista uma pretensão em querer opinar no rumo ao qual cada professor dá ao seu dinheiro. Não, não é nada disso. Apenas paira no ar uma questão inquietante, uma pergunta que não quer calar: Por que os livros não fazem parte da felicidade? Se um batom novo, uma colar novo e até um bombom traz prazer e sorrisos, servem como válvula de escape para essa vida de regras, para essa rotina de deveres, por que a leitura não se enquadra nessa lista de saídas para a tristeza? E mais, como ensinar e até exigir que nossos educandos gostem de ler se o professor não vê na leitura algo prazeroso?

O que se vê são professores (alguns) que apenas compram livros quando ocorre a feira de livro em sua escola. Entretanto, ainda há os que nem nesse momento “gastam” em Literatura. Há professores que participam somente da área de alimentação das feiras literárias de seus municípios. E pasmem, alguns jamais foram a uma Sessão de Autógrafos ou lançamento de livros. Livros pra quê? Para ter o que cobrar? Para exigir longos resumos e fichas de leituras? Para obrigarem os seus alunos a pegarem livros nas bibliotecas e passarem as tardes lendo enquanto ele se diverte nos cinemas com grandes saquinhos de pipocas e alegres refrigerantes? O cinema como diversão e a leitura como prisão? Como se ele, o professor, não precisasse mais ler, ele já fez a sua parte quando era aluno, agora ele já pode se dar ao luxo de aproveitar a vida.

Batom, biju ou bombom: e o que mais, professor? Qual é a sua necessidade no momento? Obviamente, cada indivíduo compra ou investe naquilo que desejar ou no que lhe fizer bem. Mas por que os livros não são alvo de desejos? Onde, em qual lugar, qual tempo a Literatura passou apenas a ser obrigação para pessoas que optaram pela educação? Não há educação que não perpasse pelas estradas mágicas e esclarecedoras da palavra escrita. Ler é apropriar-se de novos conceitos, novas realidades, de novas perspectivas, de fantasia e prazer. E aí, professor: vai um livrinho aí?


20/05/2015

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  Cláudia de Villar

Cláudia Oliveira de Villar é natural de Porto Alegre/RS e atua desde 2000 como professora de séries iniciais do ensino fundamental em escola pública estadual. Possui doze livros publicados, sendo dez para o público infanto-juvenil e dois para adultos: Eu também... (Alcance, 2005, infantil), Bola, sacola e escola (Manas, 2009, infantil), Zé Trelelé no Gre-Nal (Manas, 2010, infantil), Uma foca na Copa (Manas, 2010, infantil), Meu Primeiro Amor (Manas, 2011, infantil), Aprendendo a viver e ensinando a sonhar (Manas, 2012, adulto), Rambo, um peixe no fandango (Manas, 2013, infantojuvenil), Mano e a boneca de pano (Manas, 2013, infanto-juvenil, O Mistério do Vento Negro, volumes I e II(Imprensa Livre, 2014-2015, juvenil), Um Continho de Natal(Metamorfose, 2016) e o lançamento de 2018: Histórias para ler no Intervalo ( Metamorfose, 2018). Participou de três antologias, Brasil Poeta (Alcance, 2005), Casa do Poeta Rio-Grandense (Alcance, 2005) e Mercopoema (Alcance, 2005) e uma coletânea de contos, Metamorfoses (Metamorfose, 2016). Além do curso de Magistério, Cláudia é graduada em Letras, especialista em Pedagogia Gestora e Supervisão Escolar. Atua no meio educacional também como mediadora de leitura e, como jornalista colaboradora, a escritora é colunista do Jornal de Viamão/RS, bem como escreve para o portal Artistas Gaúchos, Homo Literatus e Almanaque Literário.

claudiadevillar@yahoo.com.br
www.claudiadevillar.com.br
www.facebook.com/claudia.devillar


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