Ao finalizar uma obra de ficção, tem começo a pior parte do ofício para muitos escritores. O texto está pronto, e é hora de tratar da publicação. Minha preferência cai no livro impresso, embora já tenha optado, em duas ocasiões, pelo formato digital. Desconheço e tampouco me agradam os trâmites relacionados à elaboração de ficha catalográfica, diagramação e todos os demais itens necessários para processar toda a edição de uma obra. Quisesse me responsabilizar por tais questões, talvez fosse o caso de uma “edição do autor”. Mas até o momento, não tentei. Então, o que tenho feito até aqui é requisitar os serviços de uma editora, sabidamente não comercial, mas que faça todo o trabalho de edição da obra, responsabilizando-se por todas as ingerências necessárias e que resulte na entrega do livro, em qualidade e quantidade de exemplares, conforme contrato, no prazo estabelecido.
Tenho tido sorte nas escolhas de tais editoras, que alguns classificam por “algo um pouco mais do que gráficas”. Costumo acompanhar todas as fases do processo de edição, com revisões regulares e reformulações sempre que necessárias; apontadas por mim e efetuadas pelo editor. Creio que a diferença em relação às editoras ditas comerciais, se resume ao fato de quem banca a edição, que neste caso é o autor. E no reconhecimento da obra pelos órgãos e instituições ligados ao livro, que vê com certa desconfiança o autor e a publicação independente. Tivesse seu texto qualidade literária, e as editoras teriam investido na publicação; pensamento que passa longe da verdade.
Publicada sempre por editoras onde banquei meus livros, no momento, decidi buscar uma editora comercial, onde devo me submeter à análise dos originais e, com sorte serei convidada a publicar meu livro pela editora. Isto, se passar pelo crivo do editor. E é aí que mora toda dificuldade, acompanhada do estresse que empurra para uma certa indignação: esbarro na famigerada linha editorial da editora.
O que vem a ser a tal linha editorial? Onde os editores se baseiam para direcionar e limitar suas escolhas quanto a publicações de livros? Nas orientações didático-pedagógicas que disciplinam os projetos para escolas públicas? Nas temáticas de cunho social que a sociedade vem abordando? Naquilo que interessa às escolas com vistas a futuras aquisições através de Programas de Governo?
Ou, nada disso. Interessa o lucro, e então, a linha editorial é aquela que autores já consagrados, que apresentam garantia de boa vendagem, proporcionam e escrevem?
É assim que muita literatura de boa qualidade fica fora da linha editorial, pelo único motivo de levantar dúvidas em torno de constituir ou não garantia de mercado. Escritores, muitos deles, seguem escrevendo e colocando seus textos à disposição para análise. E não encontrando concordância com a linha editorial de nenhuma editora, acabam por desistir, convencidos de que seus trabalhos não têm valor comercial ou mesmo valor nenhum. Os mais insistentes, conseguem transferir de um projeto pessoal, alguma grana para publicar em editoras não comerciais. Nem sempre com a contrapartida de um serviço de qualidade. Ou, mesmo havendo qualidade, sem condições de divulgação e distribuição.
Um processo difícil e desestimulante para todo escritor. Mas é preciso reconhecer o objetivo primeiro das editoras comerciais. Elas precisam fazer circular as vendas, caso contrário, terão de fechar as portas, e isto vem acontecendo. Neste mês, a Cosac Naify não surpreendeu o meio artístico e literário ao anunciar fechamento por questões financeiras. Também tem crescido o número de pessoas querendo escrever e publicar seu texto, o que dificulta mais ainda o processo.
Talvez seja o momento das editoras não comerciais buscarem prestígio e reconhecimento junto a instituições voltadas ao livro e à leitura. Como? Ampliando os serviços a fim de oferecer serviços não só de publicação, mas também de divulgação, distribuição e venda, de acordo com o interesse do escritor. O que, provavelmente, influirá no mercado. Pelo menos para aqueles escritores que vêm, já de algum tempo, bancando seus livros, mas encontrando muita dificuldade quanto ao mercado livreiro. Estes, sem dúvida, serão gratos por não precisarem se enquadrar numa determinada linha editorial pré-estabelecida.
Obrigada, J.Afonso. Hoje não basta ser escritor. Dependentes de editoras, ainda temos que ser divulgadores de nós mesmos. Mercado cruel! jacira Fagundes, Porto Alegre/RS29/12/2015 - 14:23
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