Quem já não experimentou permanecer desacompanhado, sem qualquer contato por perto – pessoa ou animal – por algumas horas? Parece fácil e até salutar vivenciar, uma vez ou outra, tais momentos livres de conversação e atenções ao próximo, reservando toda atenção para consigo mesmo. E se essa experiência solitária incluir também as coisas das quais costumamos nos ocupar nestas horas só nossas? As nossas rotinas de lazer ou trabalho, os nossos prazeres, as leituras, as nossas ocupações sempre urgentes? Fica um pouco mais difícil, acredite. Os que tentaram, sabem de como isto é um tanto angustiante e capaz de provocar ansiedade. Experimente ainda deixar fora de alcance o controle da TV, o rádio, o celular, o computador e a Internet, as redes sociais e os jogos interativos de qualquer espécie. Dureza, não?
Eu, e acredito que me acompanham outros tantos, nestas ocasiões experimento com muito esforço esse incômodo que tento driblar a qualquer custo. É nesta tentativa que, de repente, me dou conta da minha capacidade de pensar. Aliás, os pensamentos já se fizeram presentes e passaram a preencher os espaços vazios de mim mesma. Pensamentos transbordam, mesclam-se e se diluem automaticamente. Surgem lembranças que se sucedem, se intercalam e se misturam a sentimentos e emoções. Acolho sem reservas a sensação que é de total liberdade – porque é no ato de pensar, e apenas nele, que sou inteiramente livre.
O pensamento voa, é o que dizem. Aprisione um sujeito, mantenha-o atrás das grades, acorrente-o, impeça-lhe os movimentos e você não conseguirá deter seus pensamentos. Quer dizer, os pensamentos dele. Todos, indistintamente, somos livres para pensar. E voar pelo pensamento. Parar, refletir, fazer e refazer, construir e reconstruir e ir adiante e adiante...
Voltemos à experiência sugerida. Neste momento, afastado dos ruídos externos, a memória de cenas passadas e distantes nos invadem e tranquilizam, nos alegram e até podem nos entristecer e trazer no bojo e à revelia saudades ou desconforto. Neste vagar solitário, nada, além das lembranças tão íntimas e tão nossas, nos acompanham e dirigem nossos passos. Mas são elas, as lembranças, que constituem a nossa bagagem, as histórias que contamos a nós mesmos, e recontamos tantas vezes quantas nos for possível ou imperioso.
Pode se constituir numa aventura espetacular, poder juntar muitas ou algumas dessas histórias lembradas e com registro apenas na memória e contá-las num livro. Permitir-nos que se revele o contador de histórias que habita em cada um de nós – personagens cúmplices de nossos atos.
Esta possibilidade de aventurar-se é o que estarei oportunizando no Grupo de Criação Literária com ênfase em crônicas, contos e memórias, a partir de março, no Espaço Metamorfose Cursos.
Somos todos contadores de histórias – das nossas histórias. Pode ser um ato de libertação, de beleza e desprendimento reconstruí-las e escrevê-las.
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