Escrita
O que ler nos intervalos?
Cláudia de Villar
Definitivamente, somos movidos pela inquietude e as nossas contradições nos fazem refletir, às vezes, sobre os nossos intervalos. Após um ano inteiro de trabalho, tendo mentes e corpos tomados pelas cobranças das labutas diárias nos depararam com um novo ano e, com ele, as férias. Já não temos mais os pequenos intervalos e aquele turbilhão de coisas para fazer em minutos. Agora temos horas, dias e, em alguns casos, meses de um vazio clamando para ser preenchido. E como iremos preenchê-los? Quem sabe, lendo.
Ora, ora, agora temos um grande intervalo de minutos vazios. E, por que não preenchê-los com a leitura? Talvez seja esta uma proposta um tanto quanto desafiadora. Afinal, quem gosta de ler nas férias? Não vale aqui citar leitores vorazes, escritores atrás de novas possibilidades ou editores em exercÃcio do seu ofÃcio. Aà não vale, não. Pois este conjunto de pessoas citadas não são pessoas “comuns”. Não, estas são pessoas iluminadas, picadas pela abelhinha da necessidade da arte de ler. Queremos aqui falar das pessoas que não foram ainda seduzidas pelo hábito da leitura. Aqueles que nos minutos esmagados dos pequenos intervalos dos seus ofÃcios, que têm que decidir entre o café, um cochilo e um xixi, mal têm tempo de abrir um livro. Falamos aqui daqueles que, quando compram um livro, geralmente na Feira do Livro, pois raramente compram um livro “fora de época” ou ganham de amigos, têm que parcelar suas leituras, muitas vezes, levando meses ou até um ano para dar cabo de um único livro. Será que este cidadão incluirá um livro em suas férias? Somos sim, movidos pela contradição. Antes reclamando da falta de tempo para ler e agora, o tempo de sobra suplica por não precisar pensar. Ler é o exercÃcio do pensamento. Quem quer pensar nas férias? Quais livros “combinam” mais com o mega intervalo?
Por fim, o que ler nos intervalos? Quais tÃtulos devem ser recomendados? Ler ou não ler? Eis a questão. Certamente, a leitura nesta época deverá ter o dom milagroso da conquista de um leitor. Com certeza deverá ser uma leitura que flua sem barreiras por entre as cabeças suplicantes por um vazio que acalme o corpo e o coração. Entretanto, aquele livro que conquistar um novo leitor, construindo nele o hábito de ler, ganhará mais do que um leitor, ganhará um multiplicador de pensamento e estes seres devem ser reverenciados, pois o pensar nos faz avançar em nossos passos e movimenta a vida cotidiana do ser.
20/01/2019
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Cláudia de Villar
Cláudia Oliveira de Villar é natural de Porto Alegre/RS e atua desde 2000 como professora de séries iniciais do ensino fundamental em escola pública estadual. Possui doze livros publicados, sendo dez para o público infanto-juvenil e dois para adultos: Eu também... (Alcance, 2005, infantil), Bola, sacola e escola (Manas, 2009, infantil), Zé Trelelé no Gre-Nal (Manas, 2010, infantil), Uma foca na Copa (Manas, 2010, infantil), Meu Primeiro Amor (Manas, 2011, infantil), Aprendendo a viver e ensinando a sonhar (Manas, 2012, adulto), Rambo, um peixe no fandango (Manas, 2013, infantojuvenil), Mano e a boneca de pano (Manas, 2013, infanto-juvenil, O Mistério do Vento Negro, volumes I e II(Imprensa Livre, 2014-2015, juvenil), Um Continho de Natal(Metamorfose, 2016) e o lançamento de 2018: Histórias para ler no Intervalo ( Metamorfose, 2018). Participou de três antologias, Brasil Poeta (Alcance, 2005), Casa do Poeta Rio-Grandense (Alcance, 2005) e Mercopoema (Alcance, 2005) e uma coletânea de contos, Metamorfoses (Metamorfose, 2016). Além do curso de Magistério, Cláudia é graduada em Letras, especialista em Pedagogia Gestora e Supervisão Escolar. Atua no meio educacional também como mediadora de leitura e, como jornalista colaboradora, a escritora é colunista do Jornal de Viamão/RS, bem como escreve para o portal Artistas Gaúchos, Homo Literatus e Almanaque Literário.
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