Escrita
Saúde mental e escrita
Caroline Rodrigues
No último final de semana da Feira do Livro, aconteceu um bate-papo entre as escritoras Natália Borges Polesso e Taiasmin Ohnmacht e o poeta Marco Menezes. Na apresentação da mesa, intitulada “Literatura e saúde mental: ler e escrever o bem/mal-estar no mundo”, Natália expôs que estava muito interessada em debater as questões de saúde mental do/a escritor/a no momento da sua produção. Em um determinado ponto da conversa, ela perguntou aos convidados se aspectos externos, como acontecimentos da atualidade brasileira, afetavam a capacidade de escrever. Os três concordaram que sim, pois perceberam, no último ano, uma dificuldade maior em se concentrar, tanto para escrever, quanto para ler. Natália comentou, inclusive, que publica, ao final de cada ano, uma lista com os livros lidos e observou não ter chegado nem perto no número em que estava em 2018 nesta mesma época do ano.
Eu me identifiquei muito quando eles falaram sobre isso e confesso que fiquei bastante aliviada ao ouvi-los. Passei grande parte do ano me cobrando e me sentindo culpada por não ter escrito ou lido tudo o que eu havia planejado. Neste ano, iniciei a leitura de uns três ou quatro livros sem conseguir passar da página 20 e ficava me perguntando porquê. No meio da leitura, me sentia perdida e desmotivada. Em geral, mesmo quando o livro não me agrada tanto, sou capaz de finalizar e até compreender os motivos que me fizeram não gostar do livro. Mas, este ano, só consegui ler livros de que realmente gostei, que não me deram trabalho e que me ajudaram a desligar.
Em relação à escrita, parece que foi ainda mais difÃcil. Não era algo muito racional, em que eu conseguia apontar motivos, apenas sentia uma apatia antes mesmo de sentar em frente ao computador. Preferia ficar sentada em frente à televisão, assistindo a algum seriado ou filme que fossem, preferencialmente, leves.
Quando ouvi aquele debate, percebi que não havia pensado muito sobre o assunto, estava apenas “empurrando com a barriga”, contando os dias para ver 2019 acabar. Foi só ali, no fervor da Feira do Livro, que algo aconteceu. Saà de lá deixando de me sentir sozinha. Entendi que não posso ficar na expectativa do “será que vai ter outra notÃcia ruim hoje?” porque vai; isto é certo. Percebi que, apesar da realidade macro que estamos enfrentando no Brasil, com tantos retrocessos, tenho que procurar pessoas e lugares que me impulsionem em direção ao que me faz bem. Existem diversos movimentos localizados, realizados por pessoas como nós, unidos para discutir a arte, em todas as suas formas. Basta achar a sua turma.
25/11/2019
Comentários:
As notÃcias ruins não param de chegar, não é, Caroline?
Em muitos momentos desse ano, também me senti assim como você relatou: com vontade de me desligar das notÃcias, de não fazer qualquer coisa além de mergulhar em uma série ou um filme que não exigisse muito esforço de compreensão. Mas, em outros momentos, também usei a escrita como uma forma de desabafar a revolta com tudo o que tem acontecido, como uma forma de manter a saúde mental.
Como você disse, é bom ver que não estamos sozinhas.
Um abraço,
Eriane
www.historiasemmim.com.br
Eriane Dantas , Brasília/DF 27/11/2019 - 13:33
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Caroline Rodrigues
Caroline Rodrigues é tradutora e escritora. Nasceu em São Sebastião do CaÃ/RS, em 1977, e atualmente mora em São Leopoldo/RS. Formada em Letras, Mestra em LinguÃstica Aplicada e Pós-graduada em Tradução. Egressa do Curso de Formação de Escritores da Metamorfose, tem contos publicados em antologias da editora, publica textos em seu blog, na Revista Parêntese e no blog da Escritor Brasileiro. É autora do livro de contos Sempre tem uma cachoeira, pela Editora Metamorfose. Em 2022, participa da Oficina de Criação Literária da PUCRS.
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