Jana Lauxen tem 27 anos, é escritora, autora do livro Uma Carta por Benjamin e trabalha no mercado editorial há pelo menos três anos, seja assessorando novos autores, seja organizando coletâneas de textos (organizou e co-organizou as coletâneas Assassinos S/A Vol. I e Vol. II, Crônico!, Literatura Futebol Clube e Quadrinhos em História, esta última de HQs, em parceria com Sergio Chaves, editor das premiada revista Café Espacial).
Recentemente, foi convidada pela Editora Multifoco para comandar a filial sulista da editora carioca especializada em publicar novos autores. Em atividade desde o início de fevereiro deste ano, a Multifoco Sul pretende estreitar relação com os autores do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Morando em Sananduva – RS, cidade pequenina localizada no norte gaúcho, aos pés de Santa Catarina, Jana concedeu esta entrevista por telefone, em um dia frio como só é frio no lado sul do país. Confira os principais trechos desta conversa, que tratou de mercado editorial, pagar para publicar e cães que ladram enquanto a caravana passa.
A Multifoco Sul já está em atividade?
Sim. Desde o início de fevereiro começamos a trabalhar junto aos autores do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Como funcionará o processo de produção de livros da Multifoco Sul?
Da mesma maneira como funciona com a nossa matriz, que fica no Rio. Os autores enviam seu original para avaliação por e-mail. Estes originais deverão vir completos e revisados, dentro das novas regras gramaticais, em arquivo Word, fonte Times, tamanho 12 e espaçamento 1,5, sem imagens. O prazo para avaliação de um original é de 7 dias, e todos os autores receberão uma resposta por parte da Editora, tendo sido seus originais aprovados ou não. Após a aprovação, o autor assinará um contrato de edição e o livro entrará em processo de produção – processo este que varia de três a seis meses. Estando o livro pronto, o autor receberá seus exemplares em casa. E considero importante dizer: tudo sem desembolsar um centavo sequer. Após o recebimento dos livros, o autor terá 25 dias para comercializá-los, seja entre amigos e familiares ou através de lançamentos. Passados estes 25 dias, o autor deverá depositar para a editora o valor alcançado com as vendas dos livros, ficando, para si, com 20% do preço de capa de cada livro vendido. É uma porcentagem bastante alta, tendo em vista que grandes editoras costumam pagar para grandes autores uma porcentagem bem menor, que dificilmente ultrapassa os 8%. Se, por acaso, o autor desejar depositar o valor dos exemplares adquiridos à vista, este desconto sobe para 30%. E, caso o autor precise de mais exemplares, basta solicitar.
Qual é a principal diferença entre a Multifoco e as demais editoras, também especializadas na publicação do novo autor e que atuam no mercado editorial brasileiro?
Em minha opinião é a questão do custo. Encontramos muitas editoras que dizem não cobrar nada para publicar livros de novos autores, mas ou elas oferecem e-books (livros virtuais), que são publicações que praticamente não possuem custo nenhum, tendo em vista que os (altos) custos da impressão inexistem, ou pecam gravemente na qualidade do material impresso. O que deve ser custeado é todo o trabalho de capa, diagramação e impressão, mas o autor pode optar por saldar este valor somente após ter recebido e – sublinhe-se isto – vendido seus exemplares, ou seja: não precisa de dinheiro, pois o dinheiro será levantado através da venda dos livros que o autor recebe sem pagar nada.
Outra diferença é que muitas editoras cobram (e cobram alto, diga-se de passagem) para editar livros com quinhentos, ou até mil exemplares de tiragem. O que acontece é que o autor paga cinco, dez mil reais para ter seu livro impresso, e termina com sua casa atulhada de exemplares, pois não consegue comercializá-los. Considero isso uma sacanagem, pois muitas editoras abusam do novo autor que, inexperiente, não sabe que uma tiragem de mil exemplares, no Brasil, é uma tiragem alta. No caso de um autor novo e ainda desconhecido, uma tiragem altíssima.
Na Multifoco, o autor pode pedir a cota mínima de exemplares, que é de 30 livros. Ou seja, ficar com livros atulhados em casa é praticamente impossível, tendo em vista que todo mundo tem pelo menos 30 pessoas em seu círculo de relações, seja amigos, colegas de trabalho, família ou conhecidos. Considero tudo isto uma SENHORA diferença na hora de optar qual editora publicará sua obra.
A editora Multifoco também comercializa os exemplares dos autores que publica?
Sim. Muitos livros são colocados à venda no site da Editora, e em livrarias parceiras também. Porém, já tive contato com autores que, antes mesmo de enviarem seus originais para avaliação, já reclamavam que teriam de vender seu próprio livro. O que o novo autor precisa entender é que, basicamente, ele é um novo autor, e seu livro não se comercializará sozinho. Jô Soares não precisa vender os exemplares do seu livro porque é o Jô Soares, e se vende sozinho – além de trazer altos lucros para sua editora. O novo autor, não. Ele ainda está chegando ao mercado editorial brasileiro, e precisa saber que, se não arregaçar as manguinhas, não conseguirá absolutamente nada. A Multifoco abre a porta; agora, só vai passar por ela quem tiver boa vontade e dedicação. Os outros ficarão para trás.
A Multifoco tem interesse na publicação de trabalhos acadêmicos?
Sim, temos muito interesse. Percebemos que a produção acadêmica brasileira é muito rica, e concluímos que seria pra lá de interessante tirar estas produções somente do círculo acadêmico e trazê-las para as estantes de livros de todo o Brasil.
Transforme seu blog em livro. Esta é outra proposta da Editora Multifoco. Como funciona?
O autor que tiver interesse em ter seu blog submetido à avaliação, para possível publicação em livro, não só pode como deve entrar em contato conosco. Assim como a produção acadêmica, existe um material riquíssimo disponível na internet. Se o conteúdo é bom, por que não publicá-lo, por que não transformá-lo em livro?
Mas por que alguém compraria um livro cujo conteúdo está disponível na internet, e de graça?
A quantidade de blogs e sites no ar, atualmente, é incalculável, e a tarefa de garimpar os melhores não é nada fácil, além de requerer tempo e paciência. O que acontece é que muito conteúdo de altíssima qualidade acaba perdido nesta miscelânea, sem receber a devida valorização. A publicação de blogs em livros funciona quase como uma peneira. Eu mesma já comprei livros provenientes de blogs, como o do site O Bairrista, do qual eu sou fã. Considerei que valia à pena ter aquele conteúdo que eu adoro nas mãos, para ler no banheiro ou na cama, antes de dormir.
Qual é a sua avaliação dos novos autores brasileiros?
Positiva. Com a internet, as pessoas passaram a ler mais e, naturalmente, passaram a escrever melhor. Eu já trabalho com a Multifoco há mais de três anos, e é inegável a melhora significativa do material recebido de lá para cá. Melhorou muito, e isto é fantástico. As pessoas estão lendo mais através da internet, e todo mundo sabe que escreve melhor quem lê mais. A maioria dos autores também tem plena consciência de que precisa se mexer se, um dia, quiser que seus livros se vendam sozinhos, mas ainda encontramos aqueles de egos gordinhos, que só fazem reclamar. Mas estes eu descarto sem dó nem piedade. É como diz aquele velho e sábio ditado popular: os cães ladram e a caravana passa.
E o mercado editorial? Melhorou para o novo autor?
É como eu disse acima, hoje todo mundo pode publicar, e isso é excelente, apesar do que dizem uns e outros. Se vivemos em uma democracia, a arte deve ser para todos, isto é: todos devem ter, ao menos, uma chance. Há pouco tempo, só publicava quem tinha muito dinheiro, costas quentes e bons contatos. Hoje não.
Só não compreendo as pessoas que reclamam disso. Se tem mais gente escrevendo, tem mais gente lendo, e se tem mais gente lendo, o mundo está caminhando para se tornar um lugar mais suportável de se viver. Mas é aquela história, os cães estarão sempre latindo. E o baile segue.
Que dica você daria para aquele cara que está querendo escrever seu primeiro livro?
Ler. Ler muito, nem que seja bula de remédio e horóscopo. Dominar as novas regras gramaticais, mesmo que você as considere uma grande bobagem. Nenhum escritor pode se dar ao luxo de não conhecer a língua na qual escreve. E não ter medo de cortar. Sim, cortar, e cortar muito. O bom escritor é aquele que sabe cortar. Percebo que muitos autores se apegam aos seus livros e não querem cortar nem uma vírgula, nem que essa vírgula seja completamente desnecessária. Escrever é a arte de cortar.
Os autores que quiserem ter seu original avaliado pela Ed. Multifoco deverão fazer o que?
Eles devem entrar em contato comigo através do e-mail multifoco.jana@gmail.com, enviando seu original completo e revisado, dentro das novas regras gramaticais, em arquivo Word, fonte Times, tamanho 12 e espaçamento 1,5, sem imagens. O prazo para avaliação de um original varia de 7 dias, e todos os autores receberão uma resposta por parte da Editora, tendo sido seus originais aprovados ou não.
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