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"Safári" na coluna de Raphael Montes no jornal O Globo

Literatura policial no Brasil - VI

Rubem Fonseca, Marçal Aquino, Patrícia Melo, Flávio Carneiro, Luiz Alfredo Garcia-Roza: diversos autores investiram no gênero

Nas últimas cinco colunas, me propus a fazer uma análise e uma compilação da literatura policial produzida no Brasil ao longo dos anos. Como se viu, apesar dos percalços, a situação vem mudando. Além de Rubem Fonseca, um mestre do gênero desde os anos 70, diversos autores passaram a escrever literatura policial, como Marçal Aquino, Patrícia Melo, Flávio Carneiro, Luiz Alfredo Garcia-Roza, entre outros. Nomes fortes como Jô Soares, Tony Bellotto, Verissimo, Mário Prata e Nelson Motta também investiram na criação de tramas policialescas.

Na última década, merecem destaque especial os livros de Alberto Mussa, que se propôs a criar uma espécie de “compêndio mítico do Rio de Janeiro, composto por cinco novelas de feição policial, uma para cada século da história carioca”. Até o momento, estão publicados “O trono da rainha Jinga” (que se passa em 1626), “O senhor do lado esquerdo” (situado em 1913) e “A primeira história do mundo” (situado em 1567). Segundo o autor, “não é a geografia, não é a arquitetura, não são os heróis nem as batalhas, (...) o que define uma cidade é a história dos seus crimes”. Tese interessante, que Mussa constrói ao longo de cada história. Vale conferir, não só pela qualidade do texto, mas também pelo projeto inusitado em nossa literatura.

Como leitor, sempre me incomodou a falta de uma tradição do gênero no Brasil; autores efetivamente dedicados a crime novels, com repercussão internacional. Talvez por esse incômodo eu tenha decidido escrever tramas de mistério. Nesta análise, impossível deixar de citar meus dois trabalhos, “Suicidas” (2013) e “Dias perfeitos” (2014), que felizmente acabaram atingindo um público pouco acostumado à literatura policial.

Não se constrói a tradição de um gênero literário sozinho, nem tampouco sem um grupo fiel de leitores. A luta é árdua e demorada. Tradição significa muitos autores publicando muitos livros de mistério ao longo de anos — e muitos leitores lendo esses livros.

Felizmente, a última década não decepciona: nas prateleiras, é fácil encontrar estreantes como “A forma da sombra”, de Fernando de Abreu Barreto, “Missão pré-sal 2025”, de Vivianne Geber, “Quissama, o império dos capoeiras”, de Maicon Tenfen, “Colega de quarto”, de Victor Bonini, “O sincronicídio”, de Fábio Shiva, “A pedido do embaixador”, de Fernando Perdigão, “Ao meu ídolo, com amor”, de Mariana Pereira, “O assassino que mutilava Leminski”, de Anisio Homem, “O caso dos ossos”, de Sally Satler e Carla Fernanda da Silva, “República Paradiso, crimes e segredos”, de Sérgio Lang, e “Mate-me quando quiser”, de Anita Deak. Publicados, em sua maioria, por editoras pequenas, esses livros confirmam o crescente número de novos autores dedicados ao policial.

Na plataforma digital, o número é ainda maior. O jovem Mateus Baldi lançou seu “Impublicáveis contos” na Amazon, por exemplo. Chris Lauxx, especialista em literatura policial, chegou com seu ótimo “Os maiores detetives do mundo”, também pela Amazon. Não bastasse, autores que se dedicam há alguns anos ao gênero lançaram novos romances de alta qualidade, consolidando suas carreiras: “Em linha reta”, de Tailor Diniz, “Safári”, de Luís Dill, “Matar alguém”, de Roger Franchini, “Mandalas translúcidas”, de Vera Carvalho Assumpção, “A comédia mundana”, de Luiz Biajoni, “O trovador”, de Rodrigo Garcia Lopes, “O silêncio mais profundo”, de Oscar Bessi, e “Pssica”, de Edyr Augusto. Livros que merecem ser conferidos.

Entre os veteranos, Tony Bellotto, Patricia Melo, Luiz Alfredo Garcia-Roza e Rubem Fonseca trouxeram mais romances policiais de qualidade ao leitor. Confirmando a valorização do gênero no Brasil, autores de outros gêneros fizeram sua incursão no policial. É o caso do escritor Bernardo Kucinski, com “Alice”, seu primeiro livro de suspense; do editor Marcelo Ferroni, com “Das paredes, meu amor, os escravos nos contemplam”; do cantor Tico Santa Cruz, com o violento e delicioso “Pólvora”; e do vencedor do Prêmio São Paulo Marcos Peres, com “Que fim levou Juliana Klein”.

Para coroar tantas publicações, Rubem Fonseca, o mestre do gênero no país, venceu o Prêmio Jabuti com seu livro de contos “Amálgama”. Além disso, em dezembro de 2014, foi publicada a antologia de contos “Rio noir”, organizada por Tony Bellotto, com participação de diversos autores escrevendo contos policiais situados em bairros da Cidade Maravilhosa.

E novidades vêm por aí: ao que tudo indica, a antologia “São Paulo noir” está a caminho. Pela Companhia das Letras, sai “Esta terra selvagem”, um thriller sangrento paulistano escrito por Isabel Moustakas. O autor Gustavo Ávila, que publicou por conta própria o seu ótimo “O sorriso da hiena”, conseguiu uma editora. Na internet, o leitor de policial pode se manter atualizado através de duas incríveis plataformas. A página “Clube do crime” posta diariamente no Facebook notícias e entrevistas sobre o gênero policial. Já o site literaturapolicial.com traz resenhas, sinopses, listas, lançamentos e promoções. Um deleite para quem curte um bom romance policial.

Como num ciclo natural, o maior número de autores deu repercussão ao gênero e fez crescer o interesse da imprensa, das feiras literárias e, mais importante, dos leitores. De todo modo, ainda é pouco. Existe um ambiente propício para a consolidação de uma literatura policial brasileira, mas tudo é muito disperso e frágil. É preciso haver mais eventos, mais prêmios, mais palestras, mais intercâmbio e mais autores dedicados ao gênero. Espero que esta série de colunas tenha ajudado neste sentido. Bom mistério a todos!

 

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