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O gosto amargo do proibido
Oscar Bessi


 

Dizem que tudo que é proibido é mais gostoso. No sexo, no velocímetro ou na declaração do imposto de renda. Somos aventureiros. Arriscamos. Burlamos. É o nosso jeitinho. Desde Adão e Eva que a gente escorrega. E brasileiro, que é brasileiro, já nasce driblando o esquema (mas o esquema também pede, né?). E a própria sorte, se não tiver plano de saúde. Aí é vambora e seja o que Deus quiser. Ou o que ele não enxergar. Se é pra se dar bem, passamos mais a perna que dançarino em gafieira. Na hora de lucrar algum, então, melhor se nem fizer força. O proibido fica ainda mais gostoso. Para quem ganha, claro. Quem perde, chora. Ou chama a polícia. Ou nem chama mais.

Novas apreensões de máquinas caça-níquel por aí não são novidade. Quer encontrar algo, basta proibir. Somos assim. Gostamos de desafios. E de leis. Quanto mais leis, mais as desafiamos e as descumprimos. Aí, por não se fazer nada de verdade - essas coisas tipo educar, conscientizar, valorizar a escola e o professor, o livro e o conhecimento - proibimos. Proibimos para que seja descumprido e não dê nada.

Há mais de meio século o jogo de azar é proibido no Brasil. E praticado por todos os lados. Alguns justificam: ser brasileiro é uma loteria, nascemos apostados e apostando alto, então sobreviver já é acertar na cabeça. Nem que seja a cabeça do outro. Carente de esperanças e frustrado, o sujeito se entrega à sorte, passivo. Perdendo e acreditando. Carente de alguma fé.

Outro dia, um aposentado entrou num bar no momento em que a polícia recolhia máquinas. Vinte reais na mão, pediu licença aos policiais que o atrapalhavam: queria jogar, pô. "Não pode", ouviu. Ficou irritado. Como assim, não pode? Os policiais explicaram, máquinas recolhidas, mecanismos viciados programados para que ele perdesse, por isso o jogo era proibido, aquela coisa toda. Ele protestou. Gritou. E quis chamar a polícia, mas como a polícia já estava ali, ameaçou com chamar a mulher, "aí vocês vão ver o que é bom pra tosse!". E ela era pior que a pior polícia do mundo, avisou alguém do bar.

Sobre a máquina tirar seu dinheiro, deu de ombros. Era mentira. Ganhou duas vezes. Duas! O prêmio deu umas setecentas vezes menos do que ele havia apostado a vida toda, mas isso era o de menos. O dinheiro era seu, jogaria onde bem entendesse e ninguém tinha nada com isso.

Há quem, nestes casos, acuse o Estado de um protecionismo paternalista e exagerado. Sim, o dinheiro é dele, do cidadão, da sua iberdade de escolha onde gastá-lo. Mas o mal é coletivo. O gosto amargo do proibido quem sente somos nós. Na saúde, na segurança, moradia e por aí vai. Pagamos o prejuízo ao bancarmos suas derrotas e seus socorros. Além disso, toda ilegalidade é só mais uma indústria de corrupção. E de crimes. Violências diversas, visíveis ou não.

Mas a liberdade é assim, difícil. Mas dura que a própria ditadura. Às vezes antipática e limitada. Mantê-la é apostar forte na consciência de que somos muitos, não um só, na educação que venha não só de escola, mas de toda uma base de pensamentos e atitudes. De formação sem deformação. E, convenhamos, aí já é outra loteria. Que não combina muito com o velho nosso jeitinho desde que as caravelas por aqui chegaram.

 

 

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