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História da Música RS

Jovem Guarda e betleamania no Rio Grande do Sul
Rogério Ratner

O surgimento do rock’n roll no final dos anos 50 nos EUA, e, especialmente, dos Beatles e da “British Invasion”, no início e ao longo dos anos 60, provocou um grande impacto na cena musical de Porto Alegre. A exemplo do que estava ocorrendo no restante do país, começaram a surgir pelo Rio Grande do Sul afora inúmeros conjuntos musicais jovens (denominação então adotada para identificar as bandas de rock) que, aproveitando o circuito dos bailes e reuniões dançantes formado por clubes sociais e desportivos, grêmios estudantis, centros acadêmicos, salões paroquiais, etc., que já estava consolidado em face do trabalho desenvolvido pelas orquestras e, especialmente, pelos conjuntos melódicos dos anos 50, encontraram ali terreno fértil para a sua projeção, desenvolvimento e consolidação. Estas bandas de rock, formadas em muitos casos por adolescentes ou jovens com idades aproximadas - para mais ou para menos - dos 18 anos, em sua maioria, executavam “covers” dos Shadows, Ventures, e, mais tarde, dos Beatles, Rolling Stones, Kinks, Herman’s Hermits, dentre várias outras bandas inglesas e americanas, além de sucessos do pop internacional. Com a ascensão e o fortalecimento da Jovem Guarda no centro do país, diversas destas bandas passaram a centrar foco também no repertório dos ídolos jovens nacionais então em ascensão, e, paralelamente, começaram a criar canções próprias, embora, de um modo geral, a maior parte das bandas tenha realmente se dedicado a executar repertório alheio. Foi assim que surgiram no cenário gaúcho bandas tais como os “Os Jetsons” (nascida no bairro Partenon, em Porto Alegre, e que, depois, mudou o nome para os “Os Brasas”), “Os Cleans” e “As Brasas”, que, posteriormente, radicando-se em São Paulo, gravaram discos e tiveram uma participação importante na cena da Jovem Guarda em nível nacional, embora não tenham chegado ao primeiro plano em termos de sucesso comercial. O Conjunto Caravelle, que até hoje atua em bailes, também lançou um LP em nível nacional, pelo selo Musidisc (numa mesma série que contou também com discos Ed Lincoln e Os Boêmios). Mais para o final da década de 60, com o surgimento da psicodelia e do tropicalismo, algumas bandas locais também seguiram estas trilhas, sendo a mais notória o Liverpool, que, nos anos 70, constituiria o núcleo do Bixo da Seda.

Cumpre fazer um parêntese aqui, para destacar-se que, curiosamente, o primeiro disco de rock gravado por um conjunto gaúcho foi “Rock on Big Hits”, anunciado em sua capa como contendo “Melodias famosas em ritmo de “rock” ”. O conjunto melódico de Norberto Baldauf, que teria gravado a bolacha a contragosto (pois a sua “praia” era a de música dançante suave, muito própria ao romantismo dos anos 50), obrigado a tanto pela gravadora Odeon, em 1959, registrou versões de Neil Sedaka (inclusive “Stupid Cupid”) e Paul Anka, dentre outros autores do rock americano do final dos anos 50, compositores mais “açucarados”, na comparação com os “crus” Elvis Presley, Little Richard e Chuck Berry. Inclusive consta do disco a gravação da música “Petit Fleur”, do decano do jazz Sidney Bechet, o que demonstra que o ritmo ainda era de definição um tanto imprecisa no Brasil naquele momento. É claro que esse não pode ser apontado como o primeiro disco do rock gaúcho, uma vez que não se tratava de uma banda de rock, embora seja genuinamente gaúcha, sem dúvida. Mas considerando-se que Cauby Peixoto e Nora Ney teriam sido responsáveis pelas primeiras gravações do gênero no Brasil, pelo que os especialistas no assunto têm relatado, esta gravação não se trata de nenhuma anomalia, ou fato fora do contexto geral.

De outro lado, Elis Regina - que esteve na linha de frente da famosa “passeata contra as guitarras”, anos mais tarde, quando dos “embates” do pessoal da MPB contra a Jovem Guarda -, ainda morando em Porto Alegre, foi uma das apostas da gravadora Continental para disputar, com Cely Campello, da Odeon, os corações e mentes da juventude brasileira. Lançou em 1961 o disco “Viva a Brotolândia” (Brotolândia era uma espécie de denominação dada à juventude ligada ao rock mais ingênuo, de autores tais como os antes aludidos Paul Anka e Neil Sedaka, do final dos anos 50 e início dos 60, versionados aos borbotões pelos emergentes rockeiros nacionais, antes da Jovem Guarda ser denominada como tal, e a palavra “broto” designava, na gíria de então, os jovens, ou mais especificamente, tinha a acepção de “garotas”), no qual gravou “Garoto Último Tipo”, versão do clássico “Puppy Love”, de Anka. Em 1962, ela lançou o disco “Poema de Amor”, também com baladas românticas do gênero. É evidente que Elis não pode ser considerada uma precursora do rock gaúcho, mesmo porque estes discos continham também músicas de origem variada, inclusive samba, samba-canção, “cha cha cha”, boleros, etc. A sua aproximação com o gênero parece ter sido mais consistente nos anos 70, quando gravou “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”, de Belchior, e “As curvas da estrada de Santos”, de Roberto e Erasmo Carlos.

A origem da cena roqueira gaúcha propriamente dita, nos parece, deve ser buscada nas “guitar bands” que foram surgindo no início dos anos 60, e que animavam bailes e reuniões dançantes, eventos que eram realizados aqui de forma profusa.

É interessante notar que, desde o final dos anos 50, e principalmente ao longo dos anos 60, fez-se sentir nestes eventos a transformação da “juventude”, que estava ocorrendo em nível internacional (ao menos nos países vinculados ao sistema capitalista), em um segmento social diferenciado e independente, com desejos e aspirações particularizados e com formas de expressão próprias. Este fenômeno vem sendo associado pelos estudiosos da matéria à chamada geração dos “Baby Boomers”, ou seja, a geração dos jovens nascidos após a Segunda Guerra Mundial, e dentro do clima de otimismo e prosperidade econômica que se seguiu a tal catástrofe. Neste ínterim, os bailes, que eram, pelo menos até um certo período dos anos 60, de um modo geral, um espaço freqüentado por jovens sob a estrita vigilância dos pais - principalmente em relação às filhas -, passaram a sofrer, enquanto formato de evento, uma gradativa mudança. Devido à moral bem mais rígida que então vigorava, os pais “marcavam de cima”, procurando velar pela “incolumidade sexual e afetiva” de suas filhas, o que, evidentemente, lhes exigia que tomassem cuidados redobrados em situações em que as mesmas pudessem ficar especialmente expostas à ação dos “almofadinhas, aproveitadores, gaviões e malandros” (embora normalmente, e na maioria dos casos, fossem rapazes “direitos”, de boa família, estudantes e trabalhadores), como eram alcunhados os “conquistadores” de antanho. As festas, naturalmente, ainda mais porque embaladas por músicas românticas, eram um momento flagrantemente sensível, a exigir o redobro desta vigilância. No correr dos anos 60, contudo, com todos os avanços comportamentais surgidos em seu bojo, traduzidos nos desejos de liberdade de expressão, individual e sexual, começaram, aos poucos, a ocorrer festas em que os jovens não contavam mais com esta indesejada tutela dos “coroas”. Mas é curioso notar que este processo não foi brusco e mecânico, podendo-se inclusive delinear um certo nível intermediário, a partir da lembrança do guitarrista Cláudio Vera Cruz (que integrou os Satânicos, o SOM 4, e a banda do “GR SHOW”, nos anos 60), em entrevista que nos concedeu, de que em um baile realizado na Sociedade Leopoldina Juvenil (um dos mais tradicionais clubes da capital gaúcha, e que reúne a “alta sociedade”), conviveram no mesmo palco o mais notório e consagrado dos conjuntos melódicos dos anos 50, o de Norberto Baldauf, antes aludido, executando seu repertório de música suave, cool, e de indiscutível bom gosto e charme, e os roqueiros de sua banda tocando Beatles, em um “set” especial para os “brotos”. Com efeito, em diversos bailes e reuniões dançantes realizados nos anos 60, não era incomum que a música ficasse a cargo de conjuntos melódicos, e que, à certa altura do evento, um conjunto moderno fizesse o seu “show para a juventude”. Ou seja, havia uma certa clivagem, mediante a qual era aberto um espaço para o “momento jovem” nos eventos. Contudo, na medida em que se avança da metade para o fim da década de sessenta, tornam-se bem mais comuns os bailes e reuniões dançantes em que diversas bandas de rock se revezavam nos palcos, em festas destinadas especificamente para o público jovem, sem o olhar persecutório e vigilante dos “velhos”. Afora o caso, evidentemente, de reuniões dançantes feitas na casa de alguém, geralmente para comemorar aniversários, em que a presença, ao menos dos pais do anfitrião/anfitriã, era praticamente certa, o que, convenhamos, era razoável, sob pena de a casa “virar de pernas para o ar”, como se dizia, à época. Ao mesmo tempo, os pais passaram a freqüentar festas especificamente destinadas a eles (denominadas ainda como bailes, ou jantar-baile, ou show-baile, isto quando havia um show de alguma “atração” de renome durante o evento), nas quais continuaram brilhando os conjuntos melódicos. Até chegarmos ao ponto em que a “convivência” dos dois públicos nos mesmos eventos deixou de ser primaz, passando a ser flagrantemente eventual, dando-se raramente e em ocasiões especiais, tais como nos famosos Bailes de Debutantes. De fato, o que no início da década de 60 era exceção, ao decorrer do período virou a regra, e vice-versa, de forma praticamente inexorável.

Nas festas realizadas em clubes, aliás, conforme já se pontificou, é que muitas vezes eram realizados shows de artistas de renome nacional, e até internacional, que vinham se apresentar na Capital gaúcha e no interior do Estado. Em vista disso, não era incomum que os artistas nacionais fossem acompanhados por conjuntos locais. Isto ocorreu, por exemplo, com Roberto Carlos, que em certa ocasião foi acompanhado pela banda gaúcha Os Dazzles (conforme relatou o tecladista e professor de jornalismo da PUC Sérgio Stoch, em “clássica” entrevista concedida para o programa “Congestão”, da Rádio da Famecos – Rádio Fam, que pode ser acessada pela internet). Realmente, não era incomum que isto acontecesse com os ídolos da jovem guarda (Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Ronnie Von, etc.) ou da própria MPB, quando vinham apresentar-se aqui.

Vale listar alguns dos locais em que eram realizados os bailes em questão, para ter-se uma idéia da abrangência e da quantidade destes eventos, que ocorriam de forma concomitante em diversos espaços, em quase todas as sextas-feiras, sábados e domingos, a ponto de não ser raro que as mesmas bandas tocassem em diversos eventos ao longo de uma única noite, em um revezamento frenético: Sogipa, Grêmio Náutico União, Grêmio Náutico Gaúcho, Sociedade Leopoldina Juvenil, Círculo Social Israelita, Sociedade Floresta Aurora, Cantegril Clube, Glória Tênis Clube, Sociedade Espanhola, Sociedade União e Progresso, Clube Dinamite, Jockey Clube, Sociedade Hípica, Lindóia Tênis Clube, Clube Comercial Sarandi, Grêmio Esportivo Israelita, Sociedade Recreativa Juventude, Petrópole Tênis Clube, Teresópolis Tênis Clube, Sociedade Polônia, Clube Atlético Libertad, Clube Independente, Sociedade Amigos do Jardim Itu, Clube do Comércio, Nonoai Tênis Clube, Sava Clube, Jangadeiros, Partenon Tênis Clube, Barroso-São José, Casa de Portugal, Círculo Militar, Clube do Comércio de Esteio, Cottilon Clube, Três Figueiras Futebol Clube, Sorves, Sociedade Germânia, Clube Campestre, Country Club, Clube Caixeiros Viajantes, Grêmio Esportivo Patriota, Associação Satélite Prontidão, Sociedade Gondoleiros, Sociedade Libanesa, Clube 11 Garotos, Grêmio Esportivo Wallig, Nonoai Tênis Clube, Clube Comercial Sarandi, Pedregulho Futebol Clube, Clube Comercial Guaíba, Sociedade “Nós os Democratas”, Esporte Clube Bandeirantes, Grêmio Futebol Portoalegrense, Tristezense Futebol Clube, Clube do Professor Gaúcho, Sociedade Cruz-Maltina, Sociedade Recreativa Piratini, Sociedade Navegantes-São João, Sociedade Veleiros do Sul, Clube de Regatas 24 de agosto, entre outras diversas entidades espalhadas pela capital e pelo interior do Estado. Além disso, muitas reuniões dançantes eram realizadas em Sindicatos, especialmente no dos Metalúrgicos de Porto Alegre, e por Centros Acadêmicos Universitários (tais como os da Engenharia, Economia, Direito, Medicina, Odontologia, Agronomia, Arquitetura, Farmácia, Jornalismo, etc.), da UFRGS, da Faculdade Católica de Medicina, da PUC, além de Grêmios Estudantis de Colégios tais como o Júlio de Castilhos, o Protásio Alves, o Israelita, o Cruzeiro do Sul, o Glória, o Dom João Becker, o Assunção, etc., alguns promovidos pela UMESPA, e também em Associações, tais como a da Família Militar e a dos Funcionários da Santa Casa, entre outras entidades.

De outro lado, o advento da televisão em Porto Alegre - inicialmente, com a TV Piratini, Canal 5 (dos Diários Associados de Assis Chateaubriand), em 1959, e da TV Gaúcha, Canal 12 (atualmente RBS TV), que se somou àquela em 1962, e, bem mais tarde, em 1969, também a TV Difusora, Canal 10 -, foi de fundamental importância para a divulgação da cena roqueira gaúcha, especialmente pelo fato de que, até o final dos anos 60, boa parte da programação era local, uma vez que ainda não havia a transmissão via satélite. Assim, mesmo a TV Piratini, que integrava a rede da TV Tupi, preenchia expressivos espaços de sua programação diária com atrações locais, o que permitiu uma janela importante para a divulgação dos trabalhos não apenas dos roqueiros, mas dos músicos locais em geral, e também de artistas de ramos diversos, especialmente o teatro. Tal cenário foi modificando-se aos poucos, especialmente com o advento do “videotape”, que permitiu que os programas produzidos no centro do país fossem aqui exibidos alguns dias após a sua transmissão, mediante a remessa das fitas por via aérea, até consolidar-se, nos anos 70, a situação que vivemos hoje, de pouco espaço para a produção original local na chamada TV “aberta”. Neste contexto, haviam diversos programas de auditório, que foram fundamentais para a divulgação do então nascente rock gaúcho, tais como “Juventude em Brasa” (apresentado por Daltro Cavalheiro, que até alguns anos atrás, ao menos, mantinha um programa de auditório na Rede TV), “Q sucessos”, “Darney canta”, todos na TV Piratini, e “Parque Infantil” (apresentado por Waldemar Garcia), “O Show do Gordo” (apresentado por Ivan Castro), “GR Show” (apresentado por Glênio Reis, ainda na ativa, com o seu “Sem Fronteiras”, na Rádio Gaúcha), “Puxa, é a Gaúcha” (apresentado por Hélio Wolfrid, sendo que Tatata Pimentel era do Júri), veiculados pela TV Gaúcha (a qual somente passou a transmitir a programação da Rede Globo, tal como nos moldes atuais, praticamente já nos anos 70), dentre outros. Em 1969, o apresentador gaúcho Júlio Rosenberg voltou a radicar-se no RS, após ter obtido grande sucesso na TV no centro do país, sendo inclusive um dos primeiros apresentadores de auditório a abrir espaço para os então iniciantes e eternos ídolos da Jovem Guarda, dentre os quais inclusive Roberto Carlos; Júlio apresentou na TV Piratini o seu programa de auditório, obtendo, como sempre, muito sucesso. Nos anos 70, ainda, e também na TV Piratini, merece destaque o programa de Sayão Lobato, que contava com o conjunto Impacto como banda “residente”. Estes programas, além de abrirem espaço para a divulgação das bandas, obviamente também revelaram diversos cantores identificados com a Jovem Guarda, tais como Darney Lampert, a bela cantora Glória Bernardete, Maria Helena Castro, dentre outros, muitos dos quais descobertos nos espaços e concursos para “calouros”.

Afora isso, podemos destacar ainda alguns outros programas de rádio que divulgavam a Jovem Guarda (é bom salientar que, de um modo geral, ela fazia parte, em maior ou menor medida, da programação normal das emissoras nos anos 60, e certamente nas rádios ditas “populares”, nos anos 70), como o de Clóvis Dias Costa, na Rádio Continental (ainda antes de a rádio entrar no formato que lhe deu enorme projeção, sob a direção de Fernando Westphalen), e, até o de Fernando Veronezzi, na conservadora Rádio Guaíba - mas até que nem tão vetusta quanto se propala, pois de vez em quando, ao longo de sua história, deu umas “brechinhas” a novidades -, “A Guaíba ensina o sucesso”, no qual eram atendidos os pedidos feitos por carta pelos ouvintes, e no qual eram rodados muito os discos de Roberto Carlos, Ronnie Von (imaginem que uma vez rodou até a psicodélica “Máquina Voadora”, da fase tropicalista do Príncipe), Leno e Lílian, Erasmo, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, etc. Na Rádio Difusora também havia um programa importante, neste sentido, que foi o “Lacta Clube” (apresentado pelo hoje professor e apresentador Carlos Alberto Carvalho, presidente da UNITV)

Listaremos agora algumas das bandas de rock surgidas no cenário gaúcho nos anos 60 (e outras que a elas se somaram nos anos 70): Os Jetsons, Os Brasas, Os Minis, The Dazzles, Os Indomáveis, The Liders, Os Cleans, Os Vibratons, Os Bruxos, Os Signos, os Incógnitos e Alphagroup (Mutuca Weirauch participou de ambas), Avanço 5, The Monkeys, Os Rockets (em que Júlio Fürst era baterista), As Brasas (da qual fizeram parte as cantoras Yoli Planagumá e a hoje gaudéria Berenice Azambuja, do hit “É disso que o velho gosta”), As Andorinhas, Os Boinas Azuis (da qual participou João Baptista, baixista dos Almôndegas, hoje radicado no Rio, e Zezé, o criador do mítico “Clube do Guitarrista Gaúcho”), Os Clivers, The Coiners, Os Havaianos, Os Besouros, Rio 6, Mocotó 5, Os Hienas, The Best, Os Corsários, The Tigers, Mao Mao (na qual tocou Chico Ferretti, e que posteriormente passou a chamar-se Made in Brasil), Os Bravos, The Hermann’s, The Silvers, Tema Jovem, Ajuntamento Show, Os Águias, Manifesto, Os Goldfingers, Poder Jovem, Os Avançados, The Shames, Os Nômades, Som Mágico, Mustang, Os Virginians, The Cheyenes, Beat Five, Jovem Record, Os Faraós, Os Corujas, Os Sayfers, Os Morcegos, The Hoolygans, The Saylors, The Dragons, Os Incendiários, Os Tímidos, Os Felinos, 2001, The Bachfuls (de Cláudio Levitan), Os Maníacos, The Baby’s, Som 6, GR Show, The Kinds, Alfa e Beta, Caravelle, The Thunder Sounds, SOM 4 e Os Satânicos (de Hermes Aquino e Cláudio Vera Cruz), Os Havaianos, A Gang, Os Comanches, Pigmalião 70, Gang, Os Invencíveis, Basket Makers, Enigma, Embalo 5, The Dragons, The Robinsons, Os Galgos, Os Ciclopes, O Elenco, Os Invictos, Os Lobos, Os Avançados, Século XX, Tributo, Os Fantásticos, Os Hippies, Liverpool, Espectro, Os Mongóis, Prefixo, San Remo, Beethoven, The Shames, Manchester, Os Pedreiros, Os Cavaleiros de Fogo, Os Paqueras, Khaos, Prosexo (futuro Byzarro), Os Gertrudes, Os Monges, Os Cavaleiros de Fogo, A Gang, Os Paqueras, Monjolo, Keóps, Exodus, Apolo 5, Impacto, Constelação, Shivarée, Som Livre (ou Sound Free), Choque Mental, Quinta Dinastia, Época, Everest, Os Rand’s, Os Jatos, Os Gobbis, O Cromo, Os Frank’s, Controle Remoto, Os Rubis, Choque, Os Siderais, Som Five, O Esquadrão, Os Acadêmicos Inseparáveis, Dólar, M/A Band (de Pelotas, que gravou um compacto), Maomé, Os Monroes, Os Hienas, Os Andróides, Grow’s, The Chaines, Demian, Super Sound, Impulso 70, Dimensão 70, Geu Boys, BR 70, Os Espiões, Os Navarones, The Beagles, Die Fledermaus (integrado por Gelson Oliveira), Os Zumbis e Hi-fi (integrados por Bebeto Alves), Os Magnos, Alma e Sangue, Os Pingüins, Sociedade Anônima, Talento Band, The Fire’s Boys, Espectro, Os Mágios, The Boxer’s, O Elenco, Os Clips, Pusher, Reação, Brasa Som, Excelsior, O Grupo, Espectro, Califórnia, Monterrei, Sound Company, Boogaloo, Os Dráculas, The Wanders, Apolo 5, Top Top Sound, Pentágono, Tempo Livre, Santana Band, Dimensão 2001, Djambo, Sucexo, Relance, O Momento, Sound Machine, etc.

Pode-se dizer que, pelo menos até pouco antes da metade dos anos 70, os bailes e reuniões dançantes foram o principal mercado de trabalho para os músicos das bandas de rock gaúchas. Até que, gradativamente, devido às mudanças dos hábitos dos jovens, que passaram a se interessar mais por freqüentar bares e casas noturnas (o que se verificou ainda mais expressivamente a partir dos anos 80, quando foram criadas importantes casas, tais como o Ocidente, o Opinião e o Porto de Elis, entre muitas outras), este circuito foi esvaziando-se aos poucos, ao menos na Capital. De fato, a freqüência e a quantidade de bailes e reuniões dançantes com música ao vivo em clubes sociais e outros espaços em Porto Alegre foram gradativamente diminuindo, podendo-se apontar diversas causas, além da já alinhada: o aumento dos custos, em termos de cachês e de aluguel de equipamentos de som e luz, ao mesmo tempo em que muitos clubes estavam se descapitalizando (sendo de assinalar, inclusive, que diversas entidades encerraram suas atividades neste período, ao passo que outras se mantiveram, embora deficitárias, sendo poucos os clubes que atualmente estão em plena atividade, não apenas em relação à parte desportiva, mas também em relação aos eventos sociais, podendo contar com a contribuição em dia dos sócios, e com uma movimentação social regular); o fato de que muitos freqüentadores, especialmente os mais velhos, acharem que os conjuntos tocavam muito alto, “atrapalhando” as conversas e “perturbando” os ouvidos; o baixo custo que representavam, na comparação, os Disc-Jóqueis e o som mecânico, etc. O certo é que esses conjuntos, no período em questão, quando atuavam em bailes realizados em clubes na capital, geralmente o faziam em eventos para casais de meia-idade, não tanto para o público efetivamente jovem - embora isto ainda acontecesse, em certa medida, especialmente em eventos destinados às classes economicamente baixas. Em decorrência dessa relativa decadência no cenário dos bailes e das reuniões dançantes, nem todos os conjuntos conseguiram sobreviver. De fato, esta conjuntura, que foi se desenhando mais claramente nos anos 80, fez com que apenas os grupos que melhor se organizaram e se especializaram neste tipo de evento mantivessem o seu espaço. É o caso, por exemplo, dos conjuntos Impacto, Caravelle, e Boinas Azuis, entre outros, até hoje na ativa. O Impacto é, de todos, o principal conjunto de baile oriundo dos anos 60 (resultante da união de ex-componentes das bandas The Dazzles, The Cleans e The Coiners), tendo inclusive feito uma bela carreira fonográfica desde os anos 70, com repertório próprio e gravando músicas de compositores amigos da banda (tais como Cláudio Vera Cruz, Hermes Aquino, Discocuecas, Calique e Garay, etc.), com diversos LPs e um CD lançados.

Notadamente, nos anos 80, os “Bailões”, tais como o do Cardoso e do Reci, foram um dos poucos espaços que se abriram para a atuação de conjuntos de baile na capital gaúcha. Destinados à população de baixa renda, estes locais, eram definitivamente “malditos” para as classes média e alta. Assim, muitos conjuntos de baile tiveram que “ir aonde o povo está”, ou estava, no caso. Alguns desses locais ainda se mantém, e já se tornaram “clássicos”, tais como o salão de danças localizado ao lado da Casa de Portugal, na avenida João Pessoa, em frente ao Parque da Redenção, e o Star Clube, na Assis Brasil, na zona norte, dentre outras casas do gênero espalhadas pela cidade. Aliás, na medida em que a Jovem Guarda começou a ser tachada de “cafona” ou “brega”, especialmente a partir dos meados dos anos 70, foi neste tipo de casa noturna que nomes como Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Adriana, Rosemary, Vanusa, Antônio Marcos, etc., passaram muitas vezes a se apresentar em Porto Alegre.

No interior do Estado, a mudança de cenário não foi tão radical, embora, em certo grau, também tenha se feito sentir em relação aos grupos de baile oriundos do rock, especialmente no final dos anos 70. A tradição dos bailes em clubes sociais, embora mais voltados a casais de meia-idade, de um modo geral, parece ter sido mais cultivada no interior do Estado do que na Capital no período a que nos referimos agora. Contudo, e até surpreendentemente para um observador “metropolitano”, como é o meu caso, pode-se dizer que nas cidades periféricas à Capital e nas “colônias” este mercado foi, pouco a pouco, e sob outro perfil, cada vez mais se estruturando, a ponto de atualmente passar por um verdadeiro “boom”. De fato, nesta seara, pode-se perceber um fenômeno muito interessante, uma espécie de metamorfose que se foi dando ao longo do tempo, muitas vezes resultante de amálgamas de elementos diversos. Com efeito, vários grupos originados de bandinhas e orquestras alemãs, outros que originalmente atuavam nos bailes gauchescos, alguns grupos de descendentes de italianos, e outros de formação étnica e origem musical não tão facilmente delineável, e, ainda, alguns veteranos de conjuntos originários do rock nos anos 60 e 70 (caso, por exemplo, da Banda Vitrine, formada por músicos com décadas de estrada, que passaram pelos Boinas Azuis, Caravelle, entre outras bandas de nomeada) ou mesmo de conjuntos melódicos melódicos - que faziam o circuito formado por alguns clubes, mas muito significativamente pelos “salões”, seja de bailes propriamente ditos, ou em sociedades de canto, de tiro e caça, de bolão, associações de bairro, times de futebol amador, etc., e por casas noturnas criadas em velhos galpões comerciais e industriais adaptados, tão comuns em nossas zonas de colonização alemã e italiana, e, de resto, alastradas pelo interior afora -, decidiram “modernizar-se”, dando um novo fôlego a este tipo de formação musical. Esta “repaginação” ocorreu mediante a modificação da instrumentação (introduzindo-se um teclado no lugar do acordeão, por exemplo, ou uma guitarra no lugar do violão), e também por mudanças no visual dos componentes (mediante o uso de roupas mais “modernas” e “universais”, e cortes de cabelo mais atualizados, etc.), além de alterações no repertório. Além disso, outros grupos formados por jovens foram surgindo sob a influência e no rastro desta “modernização” (a banda Barbarella pode ser apontada como um bom exemplo deste tipo de conjunto, já contando com uma considerável estrada), e, junto aos mais antigos, consolidaram um mercado muito forte, obtendo ótimos resultados em termos fonográficos e de veiculação em rádios, atuando numa linha bem popular e muitas vezes centrada em repertório autoral, voltados em primazia à população mais humilde, e que desponta paralelamente à fatia de mercado visada pela chamada “Tchê Music” (ela própria também resultante de uma “modernização” da vertente regionalista, em termos semelhantes). Mas é de notar, neste ínterim, que o consumo deste tipo de música entre as classes média e alta, especialmente no interior do RS, vem crescendo significativamente. Para ter-se uma idéia, inúmeras destas bandas vêm tendo os seus CDs pirateados pelo interior afora, muito embora seus discos não passem nem perto do toca-cds (ou computador) da Atlântida FM ou da Pop Rock FM (nessa, aliás, só dentro do quadro do “Everaldo Guilherme”, no qual um dos apresentadores da emissora “encarna” um locutor de rádio “bem povão”, só que em clima de total gozação), as rádios que “fazem a cabeça da galera jovem”. A ponto de não ser mais incomum ver-se, ao menos no interior do Estado, alguma caminhonetão “top de linha” importado trafegando com o volume “a toda”, vertendo o som de alguma destas bandas.

As gravadoras ACIT (a que pertence o selo de rock Antídoto) e Vertical, que exploram massivamente este filão “neo-bailante”, são as maiores incentivadoras destes grupos, em termos de produção fonográfica. Para inteirar-se dos locais e da quantidade destes eventos a que estamos nos referindo, basta o leitor descer na estação rodoviária de alguma cidade interiorana, para ver espalhados pelas paredes diversos cartazes de propaganda (invariavelmente, com a foto colorida da banda em um palco, e com um espaço em branco, no qual são anotados a pincel atômico a data e o local da “função”).

Mas voltando-se ao foco principal de nossa exposição, pode-se dizer que a Jovem Guarda, como de resto, a betleamania, foram e são elementos importantes utilizados - embora muitas vezes em um contexto de fusão com várias outras informações – pelos compositores e bandas atuais que configuram o rock no RS. Algumas sempre explicitam esta influência, como é o caso particularmente da Graforréia Xilarmônica, ou do trabalho solo de seus componentes, e também de Plato Divorak e Banda, Júlio Reny, Wander Wildner, etc.; e do trabalho de diversas outras bandas e autores, ainda que não assumida, pode-se identificar também a influência jovemguardista (dos Beatles, naturalmente, nem se fala, especialmente considerando-se que após a fase “yeah yeah yeah, expressão que deu origem ao nosso “iê iê iê”, caminhou pela psicodelia, vertente disseminada no rock “dos pampas”). A banda Vídeo Hits, que não está mais na ativa, chegou a regravar o clássico “Sílvia, 20 horas, domingo”, de Luis Vagner (guitarrista de Os Brasas) e Tom Gomes, convidando Ronnie Von, que originalmente gravou a canção, para uma participação especial em seu único CD, lançado pela Abril Music. O certo é que o rock gaúcho de hoje, de um modo geral, continua com muita influência das sonoridades e estilos formatados nos anos 60, sendo que, destas, a banda Cachorro Grande é a que mais recentemente tem obtido maior projeção nacional.

10/06/2008

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Comentários:

Buenas.....parei no tempo..até hoje so escuto , gosto e toco um pouco de violão as muiscas do tempo da jovem guarda décadas de 60 e70..Beatles (principalmente) Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos, Wanderlea, Leno e Lilian, Vips e tantos outros. Existe mais pessoas com este perfil??? Existem grupos que curtem juntos este tempo e se reúnem para trocarem ideias??? agradeço a atenção grande abraço Rubens
Rubens Gaspar de Oliveira, Porto Alegre, RS 09/10/2019 - 14:55
Os meus primos na década de 60 tinha um grupo chamado os encapuzados do twist .Apresentavam-se na TV.Como consigo algum material dobre isto?
VANIA BEATRIZ SCHILLING MEDEIROS, Porto Alegre 27/08/2018 - 21:11
desejo ver no programa do gordo Ivan Castro a dupla pedro e paulo cantando quando a cidade dorme.
pedro manoel jose., cachoeirinha 24/05/2012 - 06:49
tudo sobre ivan castro na decada 60,estou procurado imagens do meu avô
patricia, esteio 06/11/2010 - 20:23
tudo sobre ivan castro na decada 60,estou procurado imagens do meu avô
patricia, esteio 06/11/2010 - 20:22

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  Rogério Ratner

Rogério Ratner é cantor, compositor e escritor. Está atualmente escrevendo um livro abordando a música urbana e o rock feitos em Porto Alegre nos anos 70.

Ratner@ig.com.br
www.rogerioratner.com/


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