Música
De trajetórias e raÃzes
Felipe Azevedo
1986. Uruguaiana. Auditório do Instituto União, escola metodista onde terminei o segundo grau. Por volta das 20h terá o show do grupo instrumental Raiz de Pedra. Na platéia o presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Uruguaiana - FAFIUR, meia dúzia de ‘gatos pingados’ e eu, neste então, cursando Licenciatura em Letras.
Algumas horas antes, à tarde, uma grande incumbência: acompanhar o baixista Ciro Trindade até a Rádio Pampeana. O mote, uma entrevista para o músico discorrer sobre aquela passagem da banda por minha cidade natal, e desta aventura e desbravamento de sonoridades e caminhos que naquele momento o grupo vivenciava. No itinerário uma pergunta do Ciro: “conhece o nosso som?” Respondi: “Sim, me lembra uma mistura de Bach com Piazzolla!” Ciro me olhou feliz: ӎ mesmo? Tu é músico?”Falei: “Toco violão.” – “Mas onde tu enxerga Bach e Piazzolla no Raiz?”Respondi: “Tenho o disco – o primeiro e único até então - e inclusive tirei de ‘ouvidoÂ’ a ‘Alameda das OrquÃdeasÂ’. É a segunda música que tirei de ‘ouvidoÂ’ no violão, a primeira foi ‘Mood for a DayÂ’ do Steve Howe do Yes!”Aquela oportunidade era única em poder dizer isto eufórico para um músico daquela banda. - Então ele perguntou:” tu tens formação clássica?”. Falei – “Não, é que eu gostei tanto destas músicas do Raiz e do Yes que resolvi escutar até conseguir tocar.” E ele insistiu:” Mas tu ainda não me explicou onde que tu vê Bach e Piazzolla na nossa música!”Respondi: “olha eu só sei dizer que sinto uma ‘massa sonoraÂ’ que me faz lembrar a mesma sensação que eu tenho quando escuto Bach ou Piazzolla e eu adoro ouvir Raiz de Pedra, Bach, Piazzolla e Yes”. Ciro então perguntou: ”tu saca contraponto?”– “Contraponto? Bah cara não sei do que tu tá falando, não entendo nada destas coisa aÃ!”Entretanto ele comentou:”pode acreditar...te entendo direitinho quando tu falas de enxergar Bach e Piazzolla no Raiz”. Chegamos à Rádio. Ciro foi entrevistado. Fiquei aguardando e dali fomos para um outro lugar que era intermediação para uma outra coisa que não recordo mais. Fizemos o trajeto em silêncio. À noite o show foi de uma massa sonora que ecoou nas paredes, pátio, salas de aula, calçadas, janelas, vizinhança, tudo! Os músicos estavam eufóricos, felizes tocando uma música que para mim era complicadÃssima de tentar entender como conseguiam memorizar tudo aquilo e principalmente, como conseguiam tocar tão sincronizados. O presidente do diretório acadêmico me falou com um olhar embasbacado: ”não entendi nada que estes caras tocaram, mas curti pra c....!”
A noite terminou, o Raiz de Pedra foi embora e eu terminei a Licenciatura em Letras, em 1989. Numa noite, tempos depois, na Rua Santa Terezinha aqui em Porto Alegre cruzei com o Marcelo Nadruz. Conversamos e eufórico lhe perguntei: ”tu lembra daquela noite em Uruguaiana, o show de vocês tudo, nós lá junto com vocês?” Educadamente o Marcelo respondeu que sim, que lembrava.
Passou o tempo e outra vaga notÃcia: a banda foi embora, largou do Brasil!
Hoje, novembro de 2008 comprei o CD Trajetória do Raiz de Pedra. Coloquei direto na ‘Alameda das OrquÃdeasÂ’. Um filme passou por mim. Aprendi com Ciro Trindade duas coisas fundamentais que até hoje me auxiliam musicalmente: escutar a minha intuição e sorver dela as inconsciências que um dia eu possa e consiga conscientizar e respeitar o tempo de cada um. Sutilmente aquele grande músico não discordou de mim, porém conseguiu me deixar inquieto. Hoje, mais que saber que ‘massa sonoraÂ’ e textura musical são coisas semelhantes, ambas resguardam uma lição de música e humanidade que Bruno Kiefer ensinou para um grande amigo e professor que tive Fernando Mattos – ‘a textura musical, o contraponto ocorre muito fruto da solidariedade entre as vozes!Â’ Hoje quando em minha trajetória de vida e musical re-encontro na Banda Municipal meu caro amigo e maestro Marcelo Nadruz, num evento como o Encontrabanda podemos lembrar-nos e rirmos disso tudo com muita alegria e carinho. Resolvi narrar este recorte do tempo apenas para dizer que este disco continua fantástico e fazendo uma grande diferença em minha trajetória.
18/11/2008
Comentários:
Tudo maravilha!!!!!!!!!!Legal saber que a banda Raiz tá com tudo eu,os conheci e,ameifoi na Lagoa da Conçeiçao.Afinal preciso saber mais do Ciro.Só pCiro recordar ele mesmo env cartão pmim qdo estavaHamburg tocando seus show.Valeu Ciro Trindade
graça da lagoa da conçeiçao Florianopolis , Fpolis 19/03/2012 - 21:14
Tudo maravilha!!!!!!!!!!Legal saber que a banda Raiz tá com tudo eu,os conheci e,ameifoi na Lagoa da Conçeiçao.Afinal preciso saber mais do Ciro.Só pCiro recordar ele mesmo env cartão pmim qdo estavaHamburg tocando seus show.Valeu Ciro Trindade
graça da lagoa da conçeiçao Florianopolis , Fpolis 19/03/2012 - 21:13
Super historia!!!!Valeu Felipe!Tambem voltei no tepo!Até!
Cesar Audi , Porto Alegre,RS. 31/03/2010 - 22:16
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Felipe Azevedo
Felipe Azevedo é compositor e violonista, premiado com 5 prêmios Açorianos, além de prêmios em festivais locais e nacionais. Licenciado em Música (IPA) e Letras (PUC), o músico também estudou Harmonia, Contraponto e Forma e Análise com Fernando Mattos; Harmonia e Improvisação com Cristiano Kotlinski; técnica violonÃstica com Eduardo Castañera e atualmente recebe Orientação Vocal aplicada ao seu trabalho de compositor com Lúcia Passos. Com 03 álbuns lançados Felipe está em fase de finalização de seu novo CD – Tamburilando Canções – Felipe Azevedo – Violão com Voz, prêmio FUNARTE – RJ.
Colunas de Felipe Azevedo:
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