Esta não será uma coluna normal, nem poderia sê-lo. É
preciso que eu demonstre minha satisfação por termos em apenas
um ano arregimentado tanta gente boa, tantos artistas de peso, artistas que
batalham por algum espaço numa mídia de cartas marcadas, em leis
de incentivo confusas e num mercado escasso que não valoriza a arte.
E uso a palavra arregimentar não apenas para designar os mais de 530
artistas cadastrados ou as dezenas de colaboradores, e sim os 50 artistas que
enfrentaram o calor de Porto Alegre para prestigiar a festa de 1 ano do Portal
Artistas Gaúchos, no Studio Clio, dia 28 de novembro.
O evento começou com um Papo especial sobre a importância do profissionalismo
no trabalho do artista. A produtora cultural Dedé Ribeiro, o escritor
e presidente da Associação Gaúcha de Escritores Luiz Paulo
Faccioli e o músico Felipe Azevedo abordaram a questão sobre diferentes
ângulos: Dedé lembrou da importância da produção,
seja ela feita pelo artista ou por um profissional, e da dificuldade de se encontrar
um bom produtor no mercado, algo que estaria mudando muito rapidamente com o
crescimento dessa profissão. Luiz Paulo brincou que a AGES muito pouco
pode fazer pelo profissionalismo do escritor, e lamentou que ainda haja desrespeito
e desvalorização desse trabalho por escolas e prefeituras. Que,
acrescento eu, se negam a pagar cachê ou atrasam o pagamento do escritor
enquanto contratam bandas musicais famosas por valores astronômicos. Felipe
Azevedo brincou que sempre tem de explicar que vive de música, e apenas
de música, e aproveitando a deixa citou algumas formas de se viver da
arte, como ministrar aulas, participar de grupos, fazer trabalhos sob encomenda,
mas sempre sem esquecer o lado mais autêntico, autoral do artista, pois,
segundo Felipe, sem emoção o artista perde sua razão de
ser.
Num segundo momento Felipe Azevedo apresentou duas composições
suas, sendo muito aplaudido pela platéia, composta de gente como o produtor
cultural Claudio Troian, o músico Hubertus Hoffmann, a artista Maria
Tomaselli, a escritora Marô Barbieri e tantos outros músicos, escritores,
artistas, cartunistas e produtores. A todos foi apresentado em primeira mão
o novo layout do AG para seu segundo ano.
Alguns deles eram os finalistas do I Prêmio Gaúcho de Arte Eletrônica,
entregue a seguir. O prêmio foi lançado em agosto de 2008 com o
objetivo de mapear e fomentar o uso das novas tecnologias na produção
artística gaúcha. Na primeira fase, cerca de 100 trabalhos foram
inscritos nas categorias literatura, artes visuais e cartum. Um júri
selecionou os melhores trabalhos de cada categoria para a votação
final, feita pelos artistas cadastrados no portal. O resultado e a entrega do
Troféu Adriana Xaplin aos vencedores de cada categoria foi marcado pela
presença maciça dos contemplados e pela grata surpresa do público
ao assistir as obras vencedoras.
De modo geral, o prêmio mostrou ao mesmo tempo que as novas tecnologias
oferecem um potencial muito grande para a produção artística
e que tal produção ainda é tímida no Estado. Ainda
assim, os onze trabalhos escolhidos pelo júri demonstram a variedade
e apontam para uma tendência que certamente irá se multiplicar
ao longo dos anos.
Em artes visuais chamaram a atenção vídeos-montagens postados
no YouTube, sendo o vencedor o de Letícia Lampert, "Escala da cor
no tempo". Letícia, designer gráfica e graduanda de Artes
Visuais, afirmou ter feito todo o projeto, desde a concepção até
a execução. Mesmo caso de Monika Papescu, vencedora na categoria
Cartum com "Animações". Monika, aliás, encantou
o público apresentando sua filha, inspiração para uma das
animações premiadas.
É importante notar, porém, que num projeto multimídia
de arte eletrônica nem sempre o artista dá conta de todo o processo,
o que é absolutamente natural. "Finais Felizes", e-book de
Ana Mello premiado na categoria Literatura, tem texto da autora e diagramação
da revista portuguesa Minguante. Assim como o projeto "Ciber Poesia",
de Sérgio Capparelli e Ana Gruzynski, que recebeu o Prêmio Especial
do Júri. Neste último, além do trabalho em conjunto do
escritor e da ilustradora, outros tantos ilustradores e animadores trabalharam
para dar ao projeto essa forma.
Enfim, fica nesse final de ano um gostinho bom de missão cumprida. Foram
sete eventos, um em Caxias do Sul e seis aqui na Capital, totalizando um público
de quase 200 pessoas. Tenho certeza de que essas pessoas são daquelas
que a gente chama de multiplicadores, e já estão levando adiante
noções de profissionalismo que valorizarão o trabalho do
artista gaúcho para lidar com os desafios e oportunidades do mercado
contemporâneo.
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