Se por um lado a crítica de arte busca reflexão e posicionamento
que acompanhe a complexidade de propostas da arte contemporânea, por outro
deixa de se manifestar por pensar demais no que vai dizer e se preservar de declarações
de risco.
O resultado desse impasse é que, por um lado a produção
de textos de arte no Rio Grande do Sul, especificamente para o grande público,
que não possui repertório nos conteúdos da arte, tem deixado
de existir e por outro, a produção crítico-literária
existente acaba circulando exclusivamente nos circuitos internos ou, no máximo,
para simpatizantes já iniciados.
São raras as opiniões especializadas em mídias de acesso
popular, que esclareçam sobre a profusão de exposições
que se empilham em convites na caixa de e-mail. Em geral, temos um texto de
apresentação que visam causar boa impressão na classe artística,
mas que nada dizem à quem não freqüenta o circuito interno.
Considere-se registro às iluminadas exceções, mas é
raro...
Assumo desde já que minhas leituras teóricas são limitadas,
mas, ao cumprir formação pela academia, tenho suficientes conhecimentos
práticos e teóricos, pra saber que é possível, sim,
olharmos uma obra ou exposição e tecermos comentários técnicos,
agradavelmente analíticos e inteligíveis sobre obra e artista,
que possam realmente divulgar e seduzir o público a se aproximar. E esse
público deveria ser bem mais do que os colegas, parentes do artista e
os reincidentes freqüentadores de sempre. Quero geólogos, advogados,
médicos, dentistas, arquitetos e todo mundo que decora seus escritórios
e consultórios com objetos pseudo artísticos industrializados
de gosto duvidoso. Imagino que essas pessoas gostariam de ostentar arte em suas
paredes/prateleiras, mas parece que a arte não chega até elas...e
porque não?
Claro que não quero dizer com isto que se substitua a boa crítica,
em linguagem erudita. Seria grande ingenuidade... Pelo contrário, minha
idéia é pensar em alternativas para que se preencha uma lacuna
que anda fazendo falta para a articulação do sistema de arte,
não invalidar o que já existe. Como sempre, não se trata
de argumentar contra a academia ou ir contra a crítica, pelo inverso,
minha idéia é de complementar para expandir as possibilidades,
de criar oportunidades de aplicação de conhecimentos democraticamente
em prol do benefício da sociedade, tanto para acadêmicos, quanto
para público em geral.
Assim, reivindico a criação de uma nova classe de textos para
a arte, exposições e artistas: o Comentarista de Arte.
Na minha poética idealização, o comentarista de arte tem
formação universitária especializada – noções
teórico-práticas em arte, e capacidade literária-jornalistica
de escrever um texto coloquial que aproxime obra/processo-artístico/artista
para um maior entendimento/entrosamento com o público.
A diferença do comentarista para o crítico de arte é que
o texto do primeiro tem linguagem mais acessível, dirigido ao grande
público, sua opinião é de orientação e de
informação, o comentarista situa o público, contrária
à do crítico que propõe uma linguagem técnica e
questões profundas e internas aos conteúdos da arte, tem uma pesquisa
própria com grande carga de responsabilidade formal.
Claro que, apesar de coloquial, o comentarista como formador de opinião,
não pode ser leviano e deve buscar no conhecimento técnico e crítico,
os subsídios para a formulação de seu texto, que não
defende questões, apenas às apresenta. Desde já é
óbvio presumir que seu texto não irá conseguir, e nem deve
pretender, ser isento de escolhas e personalidade, mas que seja tecnicamente
bem articulado com os conteúdos da arte. Assim teríamos várias
opções e opiniões que diluiriam as atuais hegemonias legitimadas
à pasteurização...
Veja bem que não estou falando sobre uma texto superficial e publicitário,
nem sobre mediação pedagógica... mas porque não
disponibilizar, facilitar o acesso – de forma popular - informações,
curiosidades, referências, caminhos e opções sobre obra/artista?
Se houvessem mais textos sobre arte, mais comentários sobre arte, talvez
as pessoas perguntassem menos: "...mas o que o artista quer dizer?"
(essa pergunta é muito chata, feita o tempo todo, mas coerente como reflexo
dessa falta de comunicação...). Falta uma experiência cotidiana
com o assunto, que construa uma bagagem cultural mínima com naturalidade
e inserida no dia-a-dia. O público em geral muitas vezes adora quando
o artista fala. Tem curiosidade sobre arte. Nosso jargão técnico
é que muitas vezes o constrange.
Claro que pode-se presumir que será difícil de uma hora pra outra
as pessoas se interessarem em ler comentários sobre arte, mas se nos
apropriarmos da estratégia de mídia que funciona pela quantidade
e insistência, talvez nessa presença cotidiana resida uma gênese
para a memória e conhecimento.
Argumento, assim, pela diversidade de informações sobre arte e
artistas sem necessariamente ser através de galeria, museu ou biblioteca.
Façamos uma campanha por uma coluna específica diária na
Zero Hora ou Correio do Povo, ou Jornal do Comércio...ou em todos eles
juntos. Insisitir em solicitar que divulgem o site/blog do artista nas entrevistas
e coberturas, no tijolinho da agenda no jornal... Vamos negociar um horário
específico no rádio, criar blogs que comentem exposições,
programas de debate sobre arte postados no youtube , orkut´s de crítica
de arte, sites que comentem arte para além de obra, biografia ou questões
profundíssimas...pelo contrário, sites que falem de tudo isso
mostrando o quanto pode ser divertido e "baladeiro" conhecer sobre
este artista ou aquela técnica...
Para dar exemplo, assumo minhas próprias palavras e me arrisco em publicar
textos que têm a pretensão de motivar o leitor a seguir em frente
por suas próprias pernas até o objeto de arte e quem sabe, se
interessar ao ponto de levá-lo pra casa, seja debaixo do braço
ou na idéia.
Num próximo texto eliminarei apresentações e vou falar
de arte sim...se quiser continuar acompanhando esses comentários, acesse
www.azulgaleria.com.br, Menu Artigos.
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