Uma cama e dois casais, um em cena e outro nos bastidores. Uma cama no palco
e vários casais na plateia e, também, gente solteira, se divertindo,
se reconhecendo ao ver cenas comuns já vividas por qualquer pessoa que
já teve algum relacionamento mais sério, com mais convívio
e mais intimidade.
A peça nasceu por acaso; Ellen D`Ávila e Ronald Radde conversavam
sobre o tema “cama de casal” e acharam que renderia uma boa peça.
Assim, começou o grande desafio de Radde, que em mais de 40 anos de dramaturgia,
nunca havia feito comédia.
Para viver a protagonista da trama, Ellen pensou logo na divertida Karen Radde
e escreveu a personagem inspirada na personalidade da atriz. “Foi fácil
e muito prazeroso escrever pensando que já tinha a figura na cabeça”,
revela Ellen. A talentosa filha do diretor de Cama de Casal encarna a personagem
Naná, que vive a rotina de um casamento comum. Eles têm maus momentos,
como aquelas briguinhas de casal, iniciadas sabe-se lá como ou por quê,
gerando discussões malucas e intermináveis, mas se adoram e não
conseguem ficar muito tempo longe um do outro.
Reconheceu a cena? A julgar pelas risadas da grande maioria das pessoas que
compareceram ao Teatro de Câmara, em fevereiro, no Porto Verão
Alegre (PVA), muita gente se viu no palco. A identificação do
público com as personagens é tanta que Karen já recebeu
pedidos de aconselhamento sentimental, inclusive por e-mail. Afinal, Naná
é terapeuta; nada mais natural do que o público acreditar nisso
(se o ator for bom, é claro). Baseados na observação de
situações comuns a casais, relatos e comentários de amigos,
nasceram as cenas de Cama de Casal.
Do riso surge o pânico
O espetáculo reúne algumas histórias e situações
reais colhidas ao longo do projeto. Uma amiga de Ellen, já falecida,
inspirou a frase que resume a sensação de descartabilidade de
relações externada pela personagem Naná: “Como diria
minha amiga Elô: somos todos muito nobres, mas esquecemos nosso passado
venéreo”, diz Naná. O comentário despretencioso da
personagem faz o público rir, mas também refletir sobre comportamentos
pós-modernos e seus riscos.
Assim, a peça segue falando sobre relacionamentos, intercalando as cenas
corriqueiras, como da alegria de uma xeretada básica no celular do parceiro
ao pânico em ser descoberta e as brigas que acabam literalmente em pizza,
com depoimentos de personalidades, passados em um telão. Além
de ajudar na hora da troca de figurinos das personagens (por sinal, variados
e muito bem cuidados como toda a produção), o vídeo serve
para reafirmar a ideia central da peça: apesar da grande dificuldade
em manter relações duradouras, com bom humor e cumplicidade é
possível uma longa e agradável vida a dois.
Profissão: Casal
Ellen D`Ávila conta que nenhum dos convidados para falar sobre casamento
conhecia o texto da peça antes de dar o depoimento, mas mesmo assim os
discursos foram semelhantes. Os desafios da vida a dois são abordados
pelo psiquiatra Salvador Célia, a escritora Lya Luft, a artista plástica
Zoravia Bettiol e os apresentadores Túlio Milman e Tânia Carvalho
de forma a dar ritmo à comédia. “Casamento não é
para qualquer um, é coisa para profissional”, afirma no depoimento
a apresentadora da RBS. Pelo o que se observa na plateia, Tânia tem razão.
Radde conta que dos bastidores tem o retorno do público ao ver casais
se cutucando, cochichando e rindo a cada diálogo. Com tanto tempo de
estrada, o diretor consegue perceber também quando o espetáculo
está “frio” ou não. “Os casais dançam,
saem abraçadinhos, se beijando no final”, revela o diretor ao avaliar
como fria a estreia no PVA.
De olho nas sogras
Cama de Casal entrou em cartaz em 2007 e, desde então, as propostas
de apresentação foram as mais diversas, variando desde sessões
para empresas que investem em endomarketing, até uma adaptação
da peça para um congresso de síndicos. Na ocasião, Naná
assumia também o papel de síndica do condomínio, se envolvendo
em novas confusões.
O espetáculo tem sido tão bem recebido que, ainda em 2009, a
Cia Teatro Novo prepara a sequencia: “Uma cama de casal e um quarto de
hóspedes”, com estreia prevista para maio. Dessa vez, o casal vai
receber as respectivas sogras, ou seja, desafio duplicado para manter a relação
saudável.
Ronald Radde atua no teatro gaúcho desde a década de 60. Entre
seus sucessos destaca: “Transe” e “B.. em cadeira de rodas”,
feitas na época da ditadura. Em 2008, com “Ópera de Sangue”,
o diretor comemorou seus 40 anos de trabalho, junto à Cia Teatro Novo.
No teatro infantil, o destaque vai para “Histórias de bruxa boa”
(adaptação de dois livros de Lya Luft), que está concorrendo
a vários prêmios, e para a estreia da nova roupagem de Peter Pan,
em 15 de março. “Tem tudo o que uma criança espera de um
espetáculo: tem magia, tem beleza, voo no palco”, antecipa o diretor
para o AG.
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