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Teatro

Cama de Casal
Isabel Bonorino

Uma cama e dois casais, um em cena e outro nos bastidores. Uma cama no palco e vários casais na plateia e, também, gente solteira, se divertindo, se reconhecendo ao ver cenas comuns já vividas por qualquer pessoa que já teve algum relacionamento mais sério, com mais convívio e mais intimidade.

A peça nasceu por acaso; Ellen D`Ávila e Ronald Radde conversavam sobre o tema “cama de casal” e acharam que renderia uma boa peça. Assim, começou o grande desafio de Radde, que em mais de 40 anos de dramaturgia, nunca havia feito comédia.

Para viver a protagonista da trama, Ellen pensou logo na divertida Karen Radde e escreveu a personagem inspirada na personalidade da atriz. “Foi fácil e muito prazeroso escrever pensando que já tinha a figura na cabeça”, revela Ellen. A talentosa filha do diretor de Cama de Casal encarna a personagem Naná, que vive a rotina de um casamento comum. Eles têm maus momentos, como aquelas briguinhas de casal, iniciadas sabe-se lá como ou por quê, gerando discussões malucas e intermináveis, mas se adoram e não conseguem ficar muito tempo longe um do outro.

Reconheceu a cena? A julgar pelas risadas da grande maioria das pessoas que compareceram ao Teatro de Câmara, em fevereiro, no Porto Verão Alegre (PVA), muita gente se viu no palco. A identificação do público com as personagens é tanta que Karen já recebeu pedidos de aconselhamento sentimental, inclusive por e-mail. Afinal, Naná é terapeuta; nada mais natural do que o público acreditar nisso (se o ator for bom, é claro). Baseados na observação de situações comuns a casais, relatos e comentários de amigos, nasceram as cenas de Cama de Casal.

Do riso surge o pânico

O espetáculo reúne algumas histórias e situações reais colhidas ao longo do projeto. Uma amiga de Ellen, já falecida, inspirou a frase que resume a sensação de descartabilidade de relações externada pela personagem Naná: “Como diria minha amiga Elô: somos todos muito nobres, mas esquecemos nosso passado venéreo”, diz Naná. O comentário despretencioso da personagem faz o público rir, mas também refletir sobre comportamentos pós-modernos e seus riscos.

Assim, a peça segue falando sobre relacionamentos, intercalando as cenas corriqueiras, como da alegria de uma xeretada básica no celular do parceiro ao pânico em ser descoberta e as brigas que acabam literalmente em pizza, com depoimentos de personalidades, passados em um telão. Além de ajudar na hora da troca de figurinos das personagens (por sinal, variados e muito bem cuidados como toda a produção), o vídeo serve para reafirmar a ideia central da peça: apesar da grande dificuldade em manter relações duradouras, com bom humor e cumplicidade é possível uma longa e agradável vida a dois.

Profissão: Casal

Ellen D`Ávila conta que nenhum dos convidados para falar sobre casamento conhecia o texto da peça antes de dar o depoimento, mas mesmo assim os discursos foram semelhantes. Os desafios da vida a dois são abordados pelo psiquiatra Salvador Célia, a escritora Lya Luft, a artista plástica Zoravia Bettiol e os apresentadores Túlio Milman e Tânia Carvalho de forma a dar ritmo à comédia. “Casamento não é para qualquer um, é coisa para profissional”, afirma no depoimento a apresentadora da RBS. Pelo o que se observa na plateia, Tânia tem razão.

Radde conta que dos bastidores tem o retorno do público ao ver casais se cutucando, cochichando e rindo a cada diálogo. Com tanto tempo de estrada, o diretor consegue perceber também quando o espetáculo está “frio” ou não. “Os casais dançam, saem abraçadinhos, se beijando no final”, revela o diretor ao avaliar como fria a estreia no PVA.

De olho nas sogras

Cama de Casal entrou em cartaz em 2007 e, desde então, as propostas de apresentação foram as mais diversas, variando desde sessões para empresas que investem em endomarketing, até uma adaptação da peça para um congresso de síndicos. Na ocasião, Naná assumia também o papel de síndica do condomínio, se envolvendo em novas confusões.

O espetáculo tem sido tão bem recebido que, ainda em 2009, a Cia Teatro Novo prepara a sequencia: “Uma cama de casal e um quarto de hóspedes”, com estreia prevista para maio. Dessa vez, o casal vai receber as respectivas sogras, ou seja, desafio duplicado para manter a relação saudável.

Ronald Radde atua no teatro gaúcho desde a década de 60. Entre seus sucessos destaca: “Transe” e “B.. em cadeira de rodas”, feitas na época da ditadura. Em 2008, com “Ópera de Sangue”, o diretor comemorou seus 40 anos de trabalho, junto à Cia Teatro Novo. No teatro infantil, o destaque vai para “Histórias de bruxa boa” (adaptação de dois livros de Lya Luft), que está concorrendo a vários prêmios, e para a estreia da nova roupagem de Peter Pan, em 15 de março. “Tem tudo o que uma criança espera de um espetáculo: tem magia, tem beleza, voo no palco”, antecipa o diretor para o AG.


19/03/2009

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  Isabel Bonorino

Isabel Bonorino é jornalista, radialista e relações públicas. Musicista, dedicou-se ao canto lírico de 1995 a 2005, atuando como soprano nos corais da Ospa e PUC. Foi colaboradora da Revista Literária Blau e produtora/apresentadora na Rádio da Universidade, onde criou o programa "UFRGS em Canto". Atualmente é produtora e repórter da TV Assembléia.

isabel@artistasgauchos.com.br
twitter.com/ISAbonorino


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