Três atores entram em cena para tentar levar adiante um espetáculo
fadado ao fracasso. Eles não têm talento, não são
bonitos, não são famosos, não têm o mínimo
de charme ou glamour. Além disso, o quarto homem que deveria estar em
cena morreu. Eles são colegas, voltaram do velório e sofrem, mas
mesmo assim decidem que o melhor a fazer é continuar seu estúpido
show.
Assim começa a peça “Homens de Perto”, dessa vez
apresentada no palco do Teatro Padre Werner, em março, durante a Calourada
2009, a recepção aos alunos da Unisinos. Já no início
do espetáculo, o público de mais de 700 pessoas, que trocou dois
quilos de alimentos não perecíveis por um ingresso, sentiu o que
vinha pela frente. “Vocês podem pedir o alimento de volta se não
gostarem da peça”, avisava o cômico Beretta. Juntamente com
Oscar Simch e Zé Victor Castiel eles interpretam algo que poderia ser
uma caricatura de si mesmos na peça escrita pelo ator e diretor Artur
José Pinto.
Objetividade masculina
Com a verdadeira avalanche de peças que orbitam pelo universo feminino,
“Homens de Perto” parece ser mais do que uma sátira a talvez
duvidosa criatividade dos grupos de teatro gaúcho. O filão do
mundo feminino, por vezes até estereotipado, foi o responsável
pela grande quantidade de roteiros que entraram em cartaz nos últimos
anos nos nossos palcos. A boa aceitação do público levou
muitas peças com a mesma temática aos teatros.
O que se vê na peça dirigida por Néstor Monastério
pode ser encarado como uma alfinetada de um talentoso grupo teatral, que aproveita
sua habilidade em fazer comédia para debochar de si mesmo e da própria
classe artística. Afinal, para que contar uma história inteira,
cheia de blablablá se o objetivo é apenas fazer rir? Nada melhor
do que a objetividade masculina para ir direto ao ponto e contar logo a piada
que vai gerar o riso, sem precisar de conexões para isso.
Esquetes sabor infância
Na peça, que poderia muito bem ser classificada como uma série
de esquetes, o que se vê é justamente o abuso de recursos usados
exaustivamente em nossos palcos. A diferença é que “Homens
de perto” não tem a preocupação em contextualizar
as piadas com o roteiro. Mesmo porquê, as personagens são atores
que ganham a vida fazendo aquele tipo de peça e ponto. Seja com anedotas
velhas no estilo “Morreu como um passarinho..” ou tiradas mais atuais
como “Vou fazer uma loucura, vou fazer um concurso público!”
o trio faz qualquer um rir.
O engraçado e inusitado da peça é ver comediantes já
consagrados pelo público e pela crítica usarem diálogos
no melhor e mais batido modelo de “Os Trapalhões”. Seja no
quartel como oficial e recrutas, ou na hora do `discriminado` Beretta mostrar
seu talento musical, vê-se nitidamente a intenção escancarada
nas caras e bocas dos três atores: apenas fazer rir. Impagáveis
estavam Simch e Castiel, que beiravam o natural e já induziam o público
das primeiras filas às gargalhadas num simples piscar de olhos.
Beretta bem de perto
A surpresa também vem do show de improvisação, que por
vezes chega a, talvez premeditadamente, saturar o público. Um bom exemplo
é quando Beretta vai para a plateia e começa seu stand up. Interagindo
com o público, o ator mostra os vários tipos de chato existentes
e consegue convencer no papel a que se propõe. Ele monta uma festa surpresa
para uma pessoa da plateia, enquanto apelida outras tantas com quem resolve
conversar. Faz todos participarem da`hola` e cantarem do “parabéns
a você” até o constrangedor “Com quem será que
o fulano vai casar.” Sem limites e com tanto improviso dos atores, o espetáculo
dura cerca de uma hora e quarenta e cinco minutos. E ninguém reclama,
afinal se for para rir, o tempo passa rapidamente, sem ninguém se dar
conta.
E nada de passar mensagens no meio da peça ou dar o recado no final.
“Homens de perto” não tem moral da história. Tem começo
e fim, o meio é o riso descompromissado com uma amostra de formatos possíveis
dentro da dramaturgia. São apenas profissionais fazendo o melhor trabalho
possível, aquele em que atingem seu objetivo e ainda ganham para se divertir.
Quer coisa melhor?
Parabéns pela crÃtica. Maravilhosa ! Uma verdadeira reflexão, sobre nosso teatro e as comédias, que tem grande público, mas que alguns relutam em aceitar.
Reissoli Moreira, Porto Alegre 30/08/2009 - 00:23
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