O poeta Leonardo Marona, convidado da FestiPoa Literária, lançou no evento “Pequenas biografias não-autorizadas” (ed. 7 letras, 2009). Sobre o livro, Marona fala um pouco na entrevista abaixo.
Pequenas biografias não-autorizadas é seu primeiro livro de poesia, aos 26 anos. Você é um cara que escreve constantemente e produz muito, no seu blog há dois/três poemas publicados semanalmente. Como você chegou à ideia do livro, poemas biográficos de artistas? O livro é dividido em duas partes, que abrangem os 25 e os 26 anos da sua vida, e isso vale também como uma pequena autobiografia sua também? Eu escrevia os poemas aleatoriamente, sem nenhuma preocupação. Mas quanto mais velho, mais eu ficava preocupado. Conversei um pouco com o finado Fausto Wolff, que me disse que eu tinha que continuar escrevendo e não me preocupar ainda com publicação. Ele disse que ele mesmo tinha muitos problemas com a publicação, mesmo depois de velho. Isso me aliviou um pouco, mas não por muito tempo. Eu achava que tinha que assumir os poemas, e que isso só poderia ser feito quando eu os expusesse aos tapas do mundo. Então, o Marcelino Freire veio e soltou uma bomba no meu colo, com essa conversa de que era preciso encontrar uma unidade entre os textos, por melhores ou piores que fossem, para ter um livro. Os meus textos não tinham isso e que tive que inventar. Como havia muitos poemas em homenagem aos meus escritores, atores, personagens favoritos, eu achei que o mote poderia ser uma espécie de biografia poética que, ao mesmo tempo, mostrasse que eu era através do que eu absorvi num determinado período de tempo: no caso, dos 25 aos 26 anos.
E quanto à forma dos poemas? Por exemplo, você começa a escrever um poema sobre Bukowski e a forma é "pensada" para aquele personagem, ou você formaliza o poema no seu ritmo e na sua voz poética e depois “trabalha” detalhes narrativos? Houve preocupação de elaboração de uma linha narrativa poética, no sentido de que você estava escrevendo biografias, embora "pequenas", e se dispunha a contar sobre os personagens biografados? É meio difícil falar em regras. Cada poema tem a sua regra própria. Porque imagina a chatice que seria se todos seguissem os mesmos parâmetros. O que eu tento fazer é imaginar o que representa para mim cada pessoa daquelas, onde elas se instalam na minha emoção. Alguns se transformam em personagens, outros são apenas sensações aglomeradas que sintetizam um aspecto de alguém ou alguma situação. Mas é difícil saber. Eu poderia falar contigo como foi feito com cada um, mas, nesse aspecto, acho que não conseguiria definir uma unidade de estilo.
Uma pessoa viu a capa do Pequenas biografias, numa livraria aqui em Porto Alegre, e me perguntou se era um livro de terror. Achei engraçado isso, pois a capa do Victor Hugo Cecatto passa um pouco desse terror, digamos terror poético, a figura da capa é de muito impacto visual. Você acha que a poesia pode também ter uma característica aterradora, assim naquele sentido que Mario Quintana falava "a poesia é a verdadeira tomada da bastilha"? Ela pode expressar aterradoras experiências humanas e mostrar o quanto de aterrorizante é viver? Eu acho que o dever da poesia é fazer abrir os olhos. No mundo, abrir os olhos é extremamente perigoso. E quanto mais abrimos os olhos, mais temos dificuldade de compreender. E estar num redemoinho de sensação vagas e falhas irremediáveis, pelos menos em mim, causa um misto de terror e coragem, que eu acho que seja a síntese da poesia. A dor do movimento contínuo. Mas também deve ter a ver com o tipo de poesia que eu leio. Se você pegar o Rimbaud, o Nerval, o Baudelaire, o Allan Poe, Sylvia Plath, Ana Cristina Cesar, Lautreamont, Bukowski, provavelmente não vai ter muito do que rir.
Leonardo Marona é um jovem escritor porto-alegrense radicado no Rio de Janeiro.
Preencha os campos abaixo.