Há muito tempo, pergunto-me o que seria um bom ator. Já ouvi várias definições a respeito, como: generoso, dedicado, disciplinado, disponível, entre outras. A meu ver, elas parecem mais qualidades de um bom colega de cena e de um bom profissional que propriamente de um bom ator. Por certo, um ator deve possuir as características acima citadas, mas falando mais propriamente do trabalho do ator, do que ele faz quando está atuando, indo mais profundamente na sua essência: que características um bom ator deve possuir?
Há muitas discussões sobre as diferenças entre aquele ator de “incorpora” um personagem com características completamente diferentes das que ele próprio possui e aquele ator que é ótimo, mesmo sendo ele mesmo em todos os personagens que faz. Esta diferenciação é feita desde muito tempo, sendo encontrada em registros, no entanto, a partir do Paradoxo do Comediante, de Diderot, somente no final do século XIX.
A partir de uma pesquisa informal feita por mim, pude notar que a maioria das pessoas prefere o primeiro tipo de ator, aquele que encarna o personagem e se transforma em cena. Os atores do segundo tipo, muitos disseram que são sempre iguais em cena, colocando características suas nos personagens, muito comum em telenovelas. Porém, há quem diga que é um exercício de completa generosidade emprestar características próprias a uma outra vida que não lhe pertence. No jargão hollywoodiano, os atores do primeiro tipo são chamados de impersonators, e são muito exaltados na mídia, como é o caso de Meryl Streep e Daniel Day-Lewis. Inclusive, se observarmos a mais badalada premiação do cinema, o Oscar, através dos anos, veremos que quase sempre os atores ganham a tão sonhada estatueta ao realizarem um trabalho dessa forma. Alguns atores, ainda que sempre emprestem características suas aos personagens que fazem, conseguem um espaço diferenciado no showbusiness, como George Clooney e Whoopi Goldberg.
Pois bem, minha busca no meu trabalho de conclusão no curso de Bacharelado em Teatro, no DAD/UFRGS, Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos, também foi construir um Paco com características diferentes de mim. Queria ser um ator que “incorpora” o seu personagem. No entanto, acabei percebendo que, por mais que o papel seja diferente do ator, é impossível se ausentar de si mesmo no exercício de nossa profissão. O ator também está ali no palco, posicionando-se corretamente no foco de luz, lembrando do seu texto, olhando nos olhos do colega de cena, percebendo a reação do público e se alimentando com ela, entre outras coisas. Ser um “impersonator” deixou de ser importante para mim com esse processo. Essa busca, que era primordial para mim desde o início da minha trajetória no DAD, acabou sendo substituída pelo respeito. Respeito com a equipe que está participando no projeto, respeito ao autor que criou a obra, respeito à vida que merece ser empregada na composição do personagem e, principalmente, um respeito enorme às pessoas que saem do conforto de suas casas para assistirem ao nosso trabalho. Essa última busca é o que me faz seguir nessa arte, trabalhando da forma mais honesta, competente e profissional possível. Hoje, acredito que o respeito é a principal qualidade de um ator.
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