Nessa vida de blogueiro, tenho lido vários comentários de peças de teatro, assim como tenho feito alguns e tenho notado algo curioso. Muitos textos que falam sobre peças de teatro são bem sublimes, quase sempre falam somente dos pontos positivos do espetáculo e, se falam dos pontos negativos, são de tamanha doçura e cuidado que quase chegam a se passar por elogios, ou comentários desnecessários feitos pelo autor que não tiram o brilho do trabalho em questão.
Obviamente, falo aqui de críticas escritas em blogs, por pessoas que não ganham para isso. Até porque crítica profissional (se é que podemos chamar assim) acredito que deva ser feita por alguém com profundo conhecimento de teatro, com uma bagagem artística extensa e que avalie o espetáculo em sua totalidade, sendo o mais isento possível. Logicamente, isenção completa não existe, e nem deveria existir. Toda vez que alguém comenta sobre algum espetáculo, fala sobre a relação que estabeleceu com o que foi apresentado, o seu olhar particular e individual sobre o produto teatral. E o que eu faço em meu blog é exatamente isso: apenas falar do que eu achei da peça, na minha visão, acredito que até um pouco limitada, de recém-formado em teatro, com 5 anos de carreira artística apenas. Uma pessoa especializada na área, como Antônio Hohlfeldt, por exemplo (um ótimo exemplo, mas, infelizmente, o único de crítica profissional que posso citar), certamente seria um pouco mais isenta que eu. Um pouco, nunca totalmente.
Apesar disso, já muitas pessoas leem meu blog e comentam (nele próprio ou pessoalmente) e me convidam para assistir aos seus espetáculos esperando que eu escreva algo, como se eu fosse um Hohlfeldt da vida. Com isso, chego à conclusão de que a classe teatral está com uma profunda ânsia de críticos teatrais, tanto pela falta que se tem desses profissionais necessários para o aprimoramento de nossa arte, como pela busca de um reconhecimento e respeito maior pelo teatro local, já que havendo mais críticos, o mercado se “agita” mais, pois o público procura frequentar mais as salas de teatro.
O porém é que, assim como eu, outros blogueiros que comentam sobre peças de teatro são pessoas ligadas de alguma forma à classe, com amigos, colegas, ou mesmo conhecidos atuando, dirigindo, enfim, trabalhando de alguma forma nos espetáculos que são expostos em seus blogs. Pois bem, acredito que essa “proximidade” de relação causa um certo receio em apontar os pontos a serem melhorados. Sinceramente, acredito que não é politicamente correto agir dessa forma. Acredito que a política mais eficiente seja fazer um comentário sincero para que os espetáculos evoluam e a qualidade do teatro gaúcho aumente cada vez mais e nos orgulhe de pertencer à “classe teatral”.
Falando agora como “gente de teatro”, o mundo teatral mexe com a nossa vaidade, com nossos medos, nossas incertezas e inseguranças. E é desconfortável ver tudo isso exposto ali em um blog para que todo mundo leia e tire suas próprias conclusões. Antes disso, é desconfortável saber que não causamos uma boa impressão para o nosso amigo, colega ou conhecido, no exercício de uma arte que nos apaixona tanto (aqui faço essa generalização porque quem escolhe fazer teatro é porque é realmente apaixonado pelo que faz).
Talvez, por isso, muitos colegas blogueiros optam pelo politicamente correto em seus comentários, exaltando os pontos bons e escondendo, disfarçando ou, simplesmente, ignorando os pontos a melhorar. Além disso, o nosso mercado cada vez mais se fecha em oportunidades e um comentário polêmico pode acabar por nos fazer perder possíveis chances de futuros trabalhos. Acredito que a classe, por mais ansiosa que esteja em ter seus espetáculos avaliados, ainda não está preparada para enfrentar uma “crítica”, salvo exceções. Muitas pessoas ainda tomam as opiniões de outrem como pessoais, ignorando ou justificando os comentários daquele que usou do seu tempo para, além de apreciar o espetáculo, escrever sobre ele.
Entretanto, por bem ou por mal, os blogs que comentam sobre teatro vêm crescendo em números e comentários. E isso é algo bom para o nosso teatro. Tanto para quem escreve, como para quem faz e, principalmente, para quem assiste. Espero que, aos poucos, esse “receio da crítica” vá mudando e os comentários sobre peças de teatro em blogs vão crescendo em qualidade, assim como os espetáculos. Isso, sim, é politicamente correto.
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