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Artes Cênicas
O Professor no Teatro Local
Douglas Carvalho
Coincidência? Talvez. O fato é que este ano de 2010 pode ser considerado como o ano dos espetáculos teatrais que tratam sobre professores. No 11º Porto Verão Alegre, realizado logo no início do ano, três espetáculos já giravam em torno dessa temática: Adolescer, Apareceu a Margarida e A Aurora da Minha Vida (esse último contando com a participação deste que vos escreve). Mas o que parecia ser uma simples coincidência, acabou virando febre.
Zé Adão Barbosa voltou em cartaz com a sua terceira versão para O Despertar da Primavera, de Frank Wedekind, que mostra toda a repressão escolar do sistema de ensino alemão do final do século XIX, mostrando os personagens docentes de forma expressionista, em contraste com os discentes, interpretados de forma realista. As três sessões, praticamente lotadas, no Theatro São Pedro deram a oportunidade de vivência profissional para alunos de uma oficina da Casa de Teatro, ministrada pelo próprio Zé Adão. A importância de se montar esse belíssimo texto é inegável. Além dos poucos espetáculos para o público jovem no mercado, Despertar também trata de descoberta da sexualidade, aborto, sistema repressor de ensino, violência doméstica, homossexualidade, entre outras questões que precisam ser discutidas atualmente.
Agora, no mês das crianças, que também contém o Dia do Professor no seu dia de número 15, estreou no Teatro de Arena o espetáculo A Lição, mais nova produção da Cia. de Teatro Ao Quadrado que segue em cartaz até dezembro, todo final de semana. Mais uma vez, a figura do professor, interpretada de forma suprema por Marcelo Adams, aparece, simbolizando a crueldade da sociedade contemporânea, que se anestesia diante da violência urbana. A aluna, que tem certas dificuldades de aprendizado, é aos poucos torturada pelo professor que acaba assassinando-a cruelmente, num jogo tenso que nos faz pular dos assentos vermelhos do Arena muitas vezes. É um jogo entre opressor e oprimido, esta última figura sendo delegada a atriz Luísa Herter, que está inteiramente mergulhada em sua interpretação, dando emoções verossímeis a sua personagem. Com direção de Margarida Leoni Peixoto, enriquecida com o cenário de Zoé Degani e a iluminação de Fernando Ochôa, esta Lição vale a pena ser vista por ser um trabalho de extrema qualidade, com altíssimo nível e que provoca reflexão, como todo bom espetáculo teatral tem a missão de fazer.
E, puxando a brasa para o meu assado, a Cia. de Teatro Gato&Sapato também entrou na onda docente e emplacou no início de outubro o espetáculo Pigmalião, de Bernard Shaw, reconhecido mundialmente por ter inspirado o famoso musical My Fair Lady, na Broadway e em Hollywood. O projeto foi-me apresentado no final do ano passado pela atriz Fernanda Majorczyk, para ser seu estágio de atuação I, uma disciplina do curso de Bacharelado em Teatro da UFRGS na qual os alunos devem atuar em um espetáculo teatral em temporada. O resultado acabou sendo muito satisfatório e pretendemos voltar em cartaz com ele no ano que vem. Mas, por enquanto, posso dizer que interpretar o professor de fonética Henrique Higgins foi um presente. Um personagem muito complexo, com diversas nuances, e historicamente interpretado por excelentes atores como Rex Harrison (na Broadway e em Hollywood, quando ganhou o Oscar, inclusive), Procópio Ferreira, Paulo Autran e Daniel Boaventura (na versão mais recente do musical em São Paulo). Disse à Fernanda, que interpretou a também difícil personagem Eliza, que este poderia ter sido o meu estágio também, tamanho o desafio de atuação ao qual nos propusemos.
E, por fim, a Cia. de Teatro Gato&Sapato volta em cartaz com A Aurora da Minha Vida, na Sala Carlos Carvalho, da Casa de Cultura Mário Quintana, sempre às sextas, sábados e domingos, 20 horas, a partir de 12 de novembro. Inspirado livremente na obra de Naum Alves de Souza, o espetáculo mostra o cotidiano de uma turma de alunos desde o primário até a formatura no ginasial, mostrando a visão da criança para as descobertas do mundo adulto. O elenco, formado por oito atores, interpretam diversos personagens. A mim, coube a missão de viver quatro deles: o Diretor da Escola, o Padre (que leciona Religião, Moral e Cívica e Latim), o Professor de Inglês e o aluno taxado como Bobo. E, agora, vem a pergunta: por que tantos espetáculos falando de professores atualmente? Será o ensino uma preocupação social recorrente que merece ser discutida de forma tão intensa? Responda você mesmo a essas perguntas assistindo aos espetáculos A Lição e A Aurora da Minha Vida. Espero que você ganhe um A pelo seu desempenho.
10/12/2010
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Douglas Carvalho
Douglas Carvalho é ator, produtor cultural e professor de interpretação para Teatro, TV e Cinema. Bacharel em Teatro pela UFRGS, atualmente cursa também a Licenciatura em Teatro pela mesma universidade. Participou do seriado VidAnormal, da TVCom e atuou em três curtas-metragem como protagonista: Inversus (2008), Não Olhe (2010) e Inferno Azul (2010). No teatro, atuou em 11 espetáculos, entre os quais destaca Salomé - o amor e sua sombra (2007/2008), O Balcão (2007/2008), Dois Perdidos Numa Noite Suja (2008/2009) e A Aurora da Minha Vida (2009/2010), estes dois últimos com a Cia. de Teatro Gato&Sapato da qual faz parte atualmente, desenvolvendo seu trabalho como ator e produtor.
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