artistasgauchos












Desenvolvido por:
msmidia

Teatro

A censura no teatro porto-alegrense: histórias escondidas no Espaço Sonia Duro do Teatro de Arena
Douglas Carvalho

A temática a respeito da censura no período da ditadura militar sempre me interessou, desde quando estudei sobre o assunto no Ensino Médio, nas aulas de História. Nasci já no período de abertura política, e me espetava o fato de algo tão cruel ter acontecido há tão pouco tempo. E ainda hoje as marcas dessa ditadura podem ser vistas na sociedade atual. Agora, como artista profissional, trato o assunto de forma artística, buscando refletir sobre as causas, consequências e implicações futuras dessa repressão. Haja vista meu espetáculo CALE-SE: As Músicas Censuradas Pela Ditadura Militar, no qual canto composições célebres que sofreram algum tipo de veto nesse período. Mais recentemente, fui contemplado com o Prêmio Décio Freitas da Secretaria Municipal de Cultura para realizar a pesquisa intitulada A censura no teatro porto-alegrense: histórias escondidas no Espaço Sonia Duro do Teatro de Arena.
 
O Teatro de Arena de Porto Alegre, fundado em 1967, fechou suas portas em 1979, durante o período do governo militar no Brasil. Em 1988, após a abertura política, o então Secretário de Estado da Cultura, Carlos Jorge Appel, decidiu atender a uma reivindicação dos artistas locais: reabrir o Teatro de Arena. Iniciou os processos legais para aquisição do local pela Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul em parceria com Dilmar Messias, diretor do Instituto Estadual de Artes Cênicas naquela época. Messias, então, convidou a atriz Sonia Duro para ser a primeira diretora do Teatro de Arena e responsabilizar-se por liderar todas as ações necessárias para a reabertura da instituição, realizada em 1991. Um dos objetivos de Sonia Duro foi a criação do Centro de Desenvolvimento, Pesquisa e Documentação em Artes Cênicas do Rio Grande do Sul, com o intuito de abrigar documentos relativos à área e possibilitar o desenvolvimento de pesquisas. Infelizmente, Sonia Duro falece em setembro de 2002. Em 19 de agosto de 2004, como uma homenagem à primeira diretora do Teatro de Arena, o governador Germano Rigotto assinou decreto instituindo o Espaço Sonia Duro - Centro de Documentação e Pesquisa em Artes Cênicas.
 
Ainda durante a gestão de Sonia Duro, Dilmar Messias soube que a Censura Federal pretendia incinerar textos teatrais de espetáculos realizados no Rio Grande do Sul durante o período do governo militar brasileiro. Ele, então, entrou em contato com o Departamento de Censura e solicitou a doação dos textos. Em 1992, com a mudança de governo, Sonia Duro deixou a direção do Teatro de Arena e o então Centro de Desenvolvimento, Pesquisa e Documentação em Artes Cênicas do Rio Grande do Sul foi inaugurado em 04 de agosto do mesmo ano, sob a direção de Olga Reverbel, contendo o acervo doado pela Censura Federal de aproximadamente 2.100 textos dramáticos, de autores nacionais e estrangeiros, adultos e infantis.
 
As principais ações realizadas no Espaço Sonia Duro foram a de armazenamento e catalogação dos textos lá presentes. Esse processo iniciou-se durante a gestão de Rosa Maria de Campos Velho, por iniciativa da própria, e, atualmente, através do projeto de extensão Textos de Teatro: organização e descrição dos textos de teatro do Espaço Sonia Duro/Teatro de Arena, desenvolvido pela professora Valéria Bertotti, do Curso de Arquivologia da FURG, e pela historiadora Maria Lúcia Souto, está em processo a organização e acondicionamento dos textos provenientes do Departamento de Censura, de forma científica, de acordo com as normas oficiais de preservação de documentos históricos. A presença de Bertotti e Souto no Espaço Sonia Duro teve início durante a gestão de Viviane Juguero, que firmou parceria com as pesquisadoras, e está sendo mantida pela atual gestão de Marlise Damin.
 
No entanto, ainda não há uma análise qualitativa desses arquivos, o que essa pesquisa buscou realizar. O Espaço Sonia Duro guarda em si uma história ainda escondida que precisa ser revelada. Há anos luta-se pela abertura dos arquivos da ditadura militar. São poucos os documentos e registros que nos permitem saber realmente o que aconteceu na época e a verdade que ainda permanece obscura. A abertura dos arquivos permitiria que toda essa história fosse revelada, reconstruída e esclarecida. No entanto, ainda há um receio de que os poucos documentos que ainda existem sejam revelados ao grande público. As feridas deste período são visíveis até hoje, e se refletem em todas as áreas da sociedade. Ao menos os textos teatrais arquivados no Teatro de Arena são dos poucos meios disponíveis para se conhecer algo sobre aquele período, ainda que sobre um assunto tão específico: o papel da censura federal no teatro daquela época.
 
Procurou-se explorar os documentos históricos arquivados no Espaço Sonia Duro com o intuito de conhecer o teatro porto-alegrense que se fazia na época do governo militar e de compreender os mecanismos de funcionamento da censura federal durante esse período, expondo o reflexo de uma sociedade em constante vigilância repressiva. Procurou-se também entender quais artifícios os dramaturgos buscavam na época para poderem se expressar através da arte, quais temas eram mais vetados e traçar um panorama sobre a censura nas artes cênicas gaúchas. Mais do que resgatar a memória de um período, um dos objetivos do projeto é também exaltar a dramaturgia local como obra de arte a ser apreciada e que muito ainda tem a oferecer a todos os artistas locais.
 
Para tal, além da publicação de um artigo, haverá um seminário intitulado Expondo os Cortes, no qual a referida pesquisa será apresentada ao público com a presença de Dilmar Messias e Ronald Radde, importantes dramaturgos locais que sofreram censura em seus textos na época da ditadura militar. Expondo os Cortes será realizado no Teatro de Arena no próximo dia 26 de Agosto, às 20h, com entrada franca. E CALE-SE: As Músicas Censuradas pela Ditadura Militar, há quase três anos em atividade, voltará a cartaz nos dias 07 e 08 de setembro, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana. Não perca!

05/08/2013

Compartilhe

 

Comentários:

Um verdadeiro resgate. Muito interessante, vamos divulgar o seminário no Jornal Fala Bom Fim (12 anos circulando) Sucesso.
Paulo Pruss, Porto Alegre 14/08/2013 - 07:52

Envie seu comentário

Preencha os campos abaixo.

Nome :
E-mail :
Cidade/UF:
Mensagem:
Verificação: Repita os caracteres "552603" no campo ao lado.
 
  

 

  Douglas Carvalho

Douglas Carvalho é ator, produtor cultural e professor de interpretação para Teatro, TV e Cinema. Bacharel em Teatro pela UFRGS, atualmente cursa também a Licenciatura em Teatro pela mesma universidade. Participou do seriado VidAnormal, da TVCom e atuou em três curtas-metragem como protagonista: Inversus (2008), Não Olhe (2010) e Inferno Azul (2010). No teatro, atuou em 11 espetáculos, entre os quais destaca Salomé - o amor e sua sombra (2007/2008), O Balcão (2007/2008), Dois Perdidos Numa Noite Suja (2008/2009) e A Aurora da Minha Vida (2009/2010), estes dois últimos com a Cia. de Teatro Gato&Sapato da qual faz parte atualmente, desenvolvendo seu trabalho como ator e produtor.

carvalho.douglas@gmail.com
douglasdad.blogspot.com
https://www.facebook.com/douglascarvalho7777


Colunas de Douglas Carvalho:


Os comentários são publicados no portal da forma como foram enviados em respeito
ao usuário, não responsabilizando-se o AG ou o autor pelo teor dos comentários
nem pela sua correção linguística.


Copyright © msmidia.com






Confira nosso canal no


Vídeos em destaque

Carreira de Escritor

Escrevendo para redes sociais


Cursos de Escrita

Cursos de Escrita

Curso Online de
Formação de Escritores

Curso inédito e exclusivo para todo o Brasil, com aulas online semanais AO VIVO

Mais informações


Cursos de Escrita

Oficinas de escrita online

Os cursos online da Metamorfose Cursos aliam a flexibilidade de um curso online, que você faz no seu tempo, onde e quando puder, com a presença ativa do professor.

Mais informações