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Literatura

A cidade à beira do arqvivo
Ronald Augusto

A poesia ocupa um lugar anterior ao surgimento da cidade. Para esta, a poesia seria a representação do atraso, a música do mundo agrário e ágrafo, povoado de bestas mitológicas e divindades bárbaras. A poesia, espécie de pensamento teocrático, finge o deus a quem tão devotamente dessacraliza. O cidadão comparece nessa cena como o hipócrita leitor baudelairiano, mentalidade pública, o caroço mesmo da democracia. Mas “em algum lugar da utopia, ou do ativismo político, operou-se o divórcio entre dirigente e dirigido, entre governo e povo” (Mirko Lauer). A cidade deixa de ser a concreção da possível arte da política e é rebaixada à condição de ruína glamourizada, monturo, despojo dos conflitos ideológicos.

Um poema de verdade, poema bom, dizem, parece falar de tudo e de nada ao mesmo tempo, seja quando fala da luz de uma nuvem, do baque de uma onda, ou do inexistente. A memória flui e reflui como uma invenção da poesia; e o imaginário se configura num elemento fundamental perante a economia do esquecimento. Mas a memória acaba por ser incorporada à política como história. As ideologias, no fundo, são amnésicas, por isso amparam-se na noção de história como diacronia e na reverência museológica, canônica. Museus são braços políticos mais do que instituições públicas, ou privadas, interessadas na valorização ou na problematização do saber. O aporte da tradição ao presente se dá como acervo mítico.

Passado transformado em arquivo, taxidermia catalogável, resumo de objetos e documentos tão raros quanto remotos. Visitamos estes despojos movidos por uma espécie de culto narcísico, votados à construção de uma identidade e de um verismo nacionais. O projeto museu é o conhecimento ordenado por pessoas de “renomada erudição” e concebido de tal maneira que as próximas gerações e os interessados de agora não “percam tempo” no uso de sua liberdade de pensamento questionando as razões que fizeram as escolhas desses polígrafos recaírem sobre estas obras e não aquelas, estes artistas em detrimento de outros.


01/04/2011

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  Ronald Augusto

Ronald Augusto nasceu em 1961 no estado do Rio Grande do Sul. O escritor atua em inúmeras áreas: é músico, letrista, ensaísta e possui ainda um trabalho significativo no âmbito da literatura. Como poeta alcançou expressividade no cenário nacional e até mesmo mundial, de tal forma que suas produções foram publicados em revistas literárias, bem como em antologias, dentre elas destacamos: A razão da Chama, organizada por Oswaldo de Camargo (1986), a revista americana Callaloo: African Brasilian Literature: a special issue EUA (1995), a revista alemã Dichtungsring Zeitschrift für Literatur, e outras.

dacostara@hotmail.com
www.poesiacoisanenhuma.blogspot.com
twitter.com/ronaldpoesiapau


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