Não se trata de apologia. Dimensionar o valor do livro e da leitura e dizer do quanto a leitura foi e sempre será essencial na formação da humanidade e na sociedade em que se vive, é algo que vem sendo recorrente e fundamentado, não só restrito aos projetos explicitamente educacionais, mas principalmente potencializado pelos diferentes setores ligados à comunicação.
Imprensa falada e escrita e empresariado em geral vem concebendo um espaço irrefutável para o livro, e consequentemente, para a leitura. Profissionais atentos às recentes oportunidades, tem se valido das ofertas culturais vindas desses setores e criado seus próprios e diferentes projetos de leitura nas escolas e fora delas. Instituições governamentais, como é de responsabilidade, encontram-se imbuídas em fazer o seu melhor. Hoje, são muitos os projetos direcionados ao fomento da leitura. Ainda não o suficiente, como exige e necessita a população, mas provavelmente estejamos a caminho. O bom é o que o horizonte acena: ações públicas e privadas, unidas em prol da leitura, abertas à informação e formação do pequeno e jovem leitor.
E ele, o leitor, onde está? O que lhe interessa como leitura? Ou ainda: entre a população que cresce e estuda e trabalha e convive, há aqueles que fazem da leitura, um dever, um prazer, um hábito?
Com pesar, sabemos que a resposta é não. Com esperança, precisamos acreditar no sim.
Porque, no estado de crise e ameaças de todo tipo em que a espécie humana depara, o hábito de ler e de buscar na leitura, não apenas o prazer, mas principalmente o entendimento, poderá salvar a humanidade e também o planeta. Não se trata de apologia.
A literatura detém o poder da palavra. É a partir da palavra, que se dá a educação que há de se expressar também pela palavra - de compreensão, de fé, de responsabilidade e de preservação da vida.
Já de algum tempo, escolas, bibliotecas, organizações comunitárias e outras tantas iniciativas vem se dedicando intensamente à hora do conto. Aos contadores de história, deve-se a ampliação do espaço da oralidade, como tradição que atrai crianças de todas as idades. Tenho presenciado como os pequenos, e também os maiores vem se habituando, com facilidade, a ouvir histórias. Isto, sem dúvida, é muito bom.
O que é mau, é que tantos uns como os outros, estejam se distanciando dos livros e da leitura porque ouvir é menos trabalhoso. Daí que vamos, cada vez mais, nos afastando da leitura, seja ela grupal ou individual. A contação de história pode e deve acontecer da forma como vem acontecendo, em muitas ocasiões. Porém, é preciso intermediá-la com outra forma de chegar a história à criança – menos contada e mais lida. Uma forma que privilegie o livro e a leitura, que permita à criança a intervenção ao opinar, identificar-se, discordar, exemplificar, sugerir, questionar, duvidar, emocionar-se e posicionar-se perante os fatos frutos do imaginário, mas que guardam pouca distância do real.
O livro, abrindo-se a cada página, discorrendo as cenas na voz de um mediador de leitura que lê com emoção, com gestual apropriado e com pausas regulares, estará oportunizando a reflexão e o espírito crítico, ampliando a percepção de tempo e espaço, inserindo o pequeno e o jovem leitor, pouco a pouco, nas questões existenciais próprias do indivíduo e do mundo que o cerca. Mais adiante, se conquistará a autonomia, o buscar por conta própria – a aventura de ler porque é prazeroso, porque é do gosto e principalmente, porque é um hábito que permanecerá pela vida afora.
Não poucas vezes, as questões complexas, consideradas tabus – como morte, separações e violência – são abordadas nos livros, justamente como facilitadoras de discussões no seio da família e no meio escolar. A leitura tem a capacidade de direcionar o sujeito a melhores procedimentos e a escolhas criteriosas que priorizam a saúde emocional, social e moral da humanidade, inviabilizando o caos.
Não se trata de apologia, mas de salvação. E tem urgência.
A literatura é fenômeno criativo que representa o mundo, a vida e o homem por meio da palavra. Observar e respeitar diferentes pontos de vista e os vários discursos, oportunizar a reflexão e o espírito crítico, pensar, duvidar, questionar, discordar, ampliar a percepção de tempo e espaço, ampliar o vocabulário, são, entre tantos, os grandes benefícios que advém do diálogo entre leitor e obra literária.
Obrigada, amiga.
Talvez tenhamos que fazer uma corrente junto com profissionais da literatura para sensibilizar o professor e a famÃlia quanto à leitura. Questões existenciais discutidas em sala de aula, no anonimato do personagem, torna mais fácil a abordagem.
Jacira Fagundes, Porto Alegre /RS 09/04/2015 - 20:56
Muito bom o seu texto, Jacira! Bem pertinente. Há pairando no ar, um ar nostálgico dos velhos tempos de leitura.Infelizmente, encontramos muitos professores que precisam utilizar da obrigatoriedade ao ato de ler, pois cada vez mais, alunos têm vindo apenas com a experiência do ouvir e teclar. E o livro? Qual o seu lugar? Parabéns pela reflexão. Bj
Cláudia de Villar, Porto Alegre/RS 09/04/2015 - 14:06
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