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Arrastão de solidões sentidas no travo da poesia
Lívia Petry Jahn

            Marlon de Almeida é um dos raros poetas que acompanho desde seu livro “Histórias de um domingo qualquer”, passando pelos excelentes “Malabares...” e  “Prosa do Mar” e desaguando neste mar de solidões sentidas com o travo da poesia que é Arrastão.

        A receita de Marlon é conhecida de muitos poetas, mas poucos a praticam: quando menos é mais, ou seja, menos imagens, menos adjetivos, e mais força, mais vida, mais intensidade poética.

          A poesia é feita de síntese: nem sístole, nem diástole, mas o pulsar das duas juntas, num só cantar, num só coração. É este coração sangrando, pulsando, vibrando, que enxergamos na poesia de Marlon. Começando pelo canto fúnebre que abre o espaço do verso e faz do pai, a memória do pó, o que já não há, mas se quer cinzas sobre o mar. Continuando com Helena, que espera, que reza, que sabe, grávida de véspera...Ou ainda desfolhando-se feito árvore seca, lembrando a praia azul que a amada conhece/ desconhece, porque o amor já esfriou... Ou porque o mar já é outro e não há mais tarrafa nem atum pra pescaria, sobrando turistas e cachaça...e essa imensa solidão.

             Solidão composta de cartas velhas de namoradas antigas, das partidas, das despedidas, da (in) compreensão de Ana sobre as coisas do mundo, este mundo às avessas de quem faz o trotoir. Solidão feita de oceanos e barcos, luares que não cabem na tarrafa, peixes que não se deixam pescar...Solidão de Dona Dorinha, sem mais sentido para a vida, solidão dos sapatos na vitrine, solidão do corpo, do pé arruinado, da alma e da desalma.

         Ao longo do livro, Marlon vai construindo um oceano de solidões incomunicáveis, todas entrelaçadas pelo verso, pela música, pela poesia. Todas trabalhadas na ourivesaria do poema, com imagens sintéticas, com palavras de intensidade, buscando a alma do leitor na alma do criador / poeta. Entre hai-kais e poemas curtos, ele vai construindo o universo, demiurgo de nossos recônditos, vai criando o mundo vasto mundo, da solidão interminável e ácida de que é feita nossa humanidade. E, como numa sonata de inverno, ele nos lembra dos dias gelados, / em que desejo a textura dos teus calçados/ para os meus pés / desparelhados de rimas...


22/07/2015

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