artistasgauchos












Resenha

A explosão Enola Holmes
Thasciane Caiel

Há pouco mais de duas semanas, a Netflix lançou em seu catálogo o filme “Enola Holmes”. Sucesso mundial quase que imediato e com grandes nomes do cinema em seu elenco. Mas, o que poucos sabem é que a protagonista e também produtora, Millie Bobby Brown (estrela britânica, que despontou após sua estréia em “Stranger Things”, também do streamer) é uma grande fã de Nancy Springer, autora americana de uma série de livros infantojuvenis, homônima.

O filme da Netflix foi baseado no primeiro livro da autora, em sua saga “Os mistérios de Enola Holmes: O caso do marquês desaparecido” (The case of the missing marquees), publicado em 2006. Saga que conta com outros cinco livros: “O caso da senhorita canhota” (2007), “O caso dos buquês bizarros” (2008), “O caso do estranho leque rosa” (2008), “O caso da crinolina misteriosa” (2009) e “O caso do adeus cigano” (2010).

A novela de Nancy Springer tem um ritmo muito bom de ser acompanhada, com frases claras e que prendem o leitor à narrativa. A história é bem construída e com enredo amarrado do início ao fim. Narrada em primeira pessoa, exceto pelo prelúdio e prólogo que são em terceira pessoa, por um narrador observador, dialoga com seu público alvo, visto que a personagem principal tem seus recém feitos catorze anos.

A trama já começa com a mãe de Enola Holmes desaparecendo no dia de seu aniversário, fazendo com que a menina comece por si uma busca solitária pela mãe. Enola Holmes nada mais é do que a irmã caçula do grande investigador Sherlock Holmes.

Com um ritmo cadenciado, a autora mostra o gradual crescimento da personagem, suas camadas de conflito, bem como as decepções com o próprio irmão detetive, que tem pensamentos um tanto quanto controversos e machistas, principalmente em relação à mãe. De forma muito sutil e inteligente, a autora desnuda assuntos sensíveis como empoderamento feminino, a vergonha à época de ser mãe tardiamente e a voz silenciada das mulheres; sendo a novela situada em Londres de 1888, época onde nem existia direito igualitário ao voto.

A novela tem pouco mais de cem páginas, com fonte confortável à leitura. A autora utiliza quase dois terços do primeiro enredo apenas para situar a personagem e construí-la para o leitor, o que ajuda na empatia e torcida quando o grande mistério proposto é apresentado; o qual é resolvido de forma rápida e inteligente, utilizando dos conhecimentos adquiridos pela personagem até o momento.

Por ser uma novela traduzida do inglês, alguns dos enigmas e anagramas propostos perdem um pouco de sua força. Como o próprio nome da personagem, que é um anagrama da palavra “alone”. O que no contexto geral não atrapalha a trama, somente não cativa tanto quanto o original, pois não se torna intuitiva as resoluções de enigmas propostas durante a leitura.

Se por um lado o livro consegue construir a essência da personagem e cativar a mesma de forma gradual, no filme da Netflix senti que a personagem é apresentada rápida demais e praticamente pronta desde a primeira cena. O que, se por um lado nos aproxima quase que de imediato à personagem, trabalha um plano muito linear da mesma (bem como seus outros personagens), principalmente após a leitura da obra homônima.

Alguns problemas de narrativa no filme também podem ser questionados, como enquanto a obra sendo narrada em primeira pessoa, ter apenas uma cena em terceira pessoa, podendo ser suprimida sem causar danos a mesma.

Acredito que devido à ânsia de ser um filme controverso, e trazer assuntos importantes à pauta, pecou em querer abranger várias “pautas polêmicas” de forma linear e acabou caindo em clichês de filmes de sessão da tarde. O que pode em muito agradar seu público alvo, visto que é uma produção infanto juvenil, mas ao mesmo tempo, não consegue como outros filmes direcionados à família, cativar outros públicos, algo que produções como a da Pixar fazem de forma primorosa.

O que fica de bom com a explosão Enola Holmes é o impulso para conhecer a autora Nancy ao público infanto-juvenil.

13/10/2020

Compartilhe

 

Comentários:

Enola Holmes, hist Gosto de histórias dessa época, principalmente nas grandes capitais da Europa, abordando as dificuldades e o lugar determinado para as mulheres. Quando vemos uma tomar o rumo diferente do que lhe era determinado e serve de exemplo pra algumas,é compensador.
Maria José Monte Holanda, Fortaleza 14/10/2020 - 11:52
Perfeita a colocação sobre o filme! Eu adorei, acho que toda mulher consegue se ver um pouco na Enola e sua jornada de auto conhecimento e liberdade. Um pouco sessão da tarde? Sim. Mas quem não curte um filminho leve e com uma mensagem positiva né hehe beijos
Bianca M. B., Porto alegre - RS 13/10/2020 - 20:46
Que incrível! Concordo muito, queria ter lido o livro também, sabia que tinha algo que eu achei que faltou, só não sabia o que hahahaha demais!
Jéssica Motta, POA 13/10/2020 - 18:40

Envie seu comentário

Preencha os campos abaixo.

Nome :
E-mail :
Cidade/UF:
Mensagem:
Verificação: Repita os caracteres "071508" no campo ao lado.
 
  

 

  Resenhas

As resenhas pubicadas no portal Artistas Gaúchos são de inteira responsabilidade dos articulistas. Se você deseja enviar um texto, entre em contato com o editor do portal. Não é necessário estar cadastrado no portal para enviar resenhas e a veiculação ou não é uma escolha editorial.

editor@artistasgauchos.com.br


Colunas de Resenhas:


Os comentários são publicados no portal da forma como foram enviados em respeito
ao usuário, não responsabilizando-se o AG ou o autor pelo teor dos comentários
nem pela sua correção linguística.


Projeto desenvolvido pela Metamorfose Cursos e Editora - contato@metamorfosecursos.com.br






Confira nosso canal no


Vídeos em destaque


Cursos de Escrita

Cursos de Escrita

Curso Online de
Formação de Escritores

Curso inédito e exclusivo para todo o Brasil, com aulas online semanais AO VIVO

Mais informações


Cursos de Escrita

Oficinas de escrita online

Os cursos online da Metamorfose Cursos aliam a flexibilidade de um curso online, que você faz no seu tempo, onde e quando puder, com a presença ativa do professor.

Mais informações