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Música

Amy, no caminho da linha invisível
José Antônio Silva

Há uma linha invisível, e no entanto tão concreta, ligando alguns dos maiores talentos do rock, do blues/jazz, do pop, à atração fatal dos excessos. Agora foi a vez da extraordinária Amy Winehouse. Custou a vida dela e deles, mas para nós não custa muito lembrar e citar alguns: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones, Kurt Cobain, Jim Morrison, ou mesmo o já então decadente Elvis Presley. E - por que não? – Michael Jackson. Não ficamos muito atrás, em terras brasileiras: Raul Seixas, Cazuza, Cássia Eller, Renato Russo (alguns saltaram a tempo da barca do velho Caronte e voltaram a nado para a praia, esgotados mas vivos, como Ângela Ro Ro. Ou Eric Clapton, depois de várias internações hospitalares, ao longo dos anos, em decorrência da heroína, bebida, acidentes de carro...).

Não que todos os citados tenham morrido diretamente por overdose de drogas ou álcool. Mas de certo modo estavam depauperados física, emocional e psicologicamente ao abandonarem este mundo cruel, por doenças ou suicídio formal (Cobain). Mesmo a aids – mortal nos anos 80 e 90 – inseria-se então num quadro existencial de descontrole comportamental (“exagerado, eu sou mesmo exagerado”, cantou um dia, confessionalmente, Cazuza).

Paraíso e inferno
Drogas e álcool eram, e são, paraíso e inferno, euforia e depressão – uma rima mas não uma solução. Questão de dose, de intermináveis doses. Estes grandes artistas, alta sensibilidade, brilharam intensamente por períodos relativamente curtos, para morrerem ainda jovens.

A britânica de origem judaica Amy Winehouse, todos sabem, tinha voz privilegiada e cantava visceralmente – assim como a americana, ainda maior, Janis Joplin. Ambas influenciadas pelas grandes divas do jazz, como Ella Fitzgerald, sintonizadas com o espírito do blues, com cuja dor se identificavam. Mas Amy, aos 27 aninhos de idade (a tal “maldição dos 27”), perdera o corpo exuberante do início da carreira, pelo menos um dente, o viço da juventude e o rumo na vida. Mesmo a divina música, muitas vezes ela já não conseguia cantar.

Tragédias que hoje de alguma maneira já são até esperadas, no universo onde brilham os astros do pop. Como se fosse natural apoiarem-se nesta bengala de perna frágil para continuar subindo aos palcos.

Talvez se mirem no exemplo fora do comum de Keith Richards, ícone do rock n’ roll, 67 anos de idade e uma cara de pergaminho egípcio. Diz ele que largou a heroína no final dos anos 70, e a cocaína em 2006. Cheio de marra, desafia: “Meu corpo é meu templo. Ninguém vai me dizer o que fazer com ele!”.

Igrejas frágeis
O grande problema dos demais astros, consumidos até a morte neste caminho, é que seus corpos eram igrejas frágeis. Ao que parece, para seguir adiante e envelhecer orgulhoso de suas cicatrizes e seu estilo, só mesmo contando com a simpatia pelo e do demônio.


http://lavralivre.blogspot.com/


28/07/2011

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