No último dia 14 de setembro, houve, em Porto Alegre, a Passeata pela Cultura, organizada pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculo de Diversões do Rio Grande do Sul (SATED/RS), entre outras entidades sindicais ligadas à área cultural. Um dos motivos da passeata é o cumprimento do artigo presente em legislação municipal que prevê a equiparação do valor no orçamento do município de Porto Alegre destinado ao FUNCULTURA (Fundo de Apoio Pró-Cultura de Porto Alegre, destinado à manutenção da estrutura física dos edifícios culturais do município, além de financiar alguns eventos tradicionais em Porto Alegre) com o valor destinado ao FUMPROARTE (Fundo de Apoio à Produção Artística, destinado a financiar a produção de obras artísticas de grupos e artistas locais). Nada mais justo, afinal, de que adianta, por exemplo, uma galeria de arte muito bem equipada, com tecnologias de última geração, se não há obras artísticas para se expor? Ou, de que adiantam teatros todos reformados, com todos os equipamentos básicos de luz e som, se não há espetáculos para se apresentar? Além do mais, essa equiparação está prevista em lei. Não é, portanto, uma reivindicação de mudança, mas, sim, de cumprimento do que está na lei e que vem sendo negligenciado pelo município, prejudicando grupos e artistas locais.
Bem, a passeata teve efeitos positivos, embora achasse que não estava presente nem 10% da categoria artística de Porto Alegre para reivindicar seus direitos. Claro, era quarta-feira de tarde, há muitos trabalhos artísticos e culturais a serem feitos. Eu mesmo deixei de escrever projetos, decorar textos e correr atrás de patrocínios, para ir à passeata. De qualquer forma, não bastasse os próprios artistas não se unirem em prol de um benefício maior para todos, soma-se a isso o fato de que a cultura sempre foi desvalorizada nas questões governamentais. Fala-se muito, em campanhas políticas, de projetos para saúde, educação, segurança, saneamento básico, e quase nunca se fala de CULTURA! E se nem mesmo essas tão importantes necessidades do ser humano são atendidas, como se vai atender a uma coisa supérflua como a cultura?
Logicamente, estou sendo irônico. Nada é mais básico que a cultura! Ouso inclusive dizer que a cultura deveria ser atendida antes de qualquer necessidade considerada como básica. A cultura e a arte, em todas as suas formas, na sociedade primitiva, eram atividades comuns a todos e elevava todos os homens acima do mundo animal, e mesmo depois da fragmentação da sociedade em classes, a arte sempre resistiu em seu caráter coletivo. Quem conhece um pouquinho de história da humanidade e da arte sabe do que estou falando. Somente a verdadeira e autêntica arte consegue recriar a unidade entre o singular e o universal. Somente a arte consegue elevar o homem de um estado fragmentado a um estado de ser íntegro e total. A arte é uma realidade social. A sociedade precisa do artista, uma vez que ela capacita o indivíduo a compreender a sua realidade, e mais ainda, a suportá-la e, ainda melhor, a transformá-la, tornando-a mais humana e hospitaleira para a humanidade.
Portanto, uma sociedade organizada que mantivesse a arte e a cultura em sua devida importância, reduziria automaticamente seus problemas em relação à saúde, saneamento básico, educação, moradia, segurança, transporte, etc, pois, como se diz no ditado popular “ensinaria os homens a pescar, ao invés de lhes dar os peixes”. Ensinaria os homens a escolher melhor seus governantes, a reivindicar seus direitos, a olhar o outro ser humano como seu semelhante e a lutar pelos direitos coletivos que beneficiam toda uma sociedade, em vez de interesses próprios. Basicamente, uma sociedade que mantivesse a arte em sua devida importância, faria os homens pensarem e refletirem sobre suas vidas, e os incitaria a transformá-la. Mas, agora pergunto: Será que é bom, na visão de quem governa, que as pessoas reflitam sobre suas vidas? É saudável para um governo que o povo, após refletir, reivindique o tempo todo os seus direitos? É interessante, para quem detém o poder, que toda uma sociedade PENSE? Ano que vem terá eleições municipais. Estamos de olho!
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