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Cinema

Uma linda mulher
Solon Saldanha

Muitas vezes um filme se destaca e cai no agrado do público, sem que necessariamente traga na sua história ou no modo como ela foi contada algo de especial. Não é por ser inovador na temática, ter sido bafejado por recursos estratosféricos, ser assinado por um diretor tido como gênio ou efeitos especiais mirabolantes, tampouco, que estará entre os mais lembrados. Há fatores muitas vezes imponderáveis que pesam a seu favor, para a alegria dos produtores e estúdios que sentem o retorno da aceitação na bilheteria. E na longevidade da obra, também.

É bastante provável que cada um de nós já tenha visto mais de uma vez Uma Linda Mulher (Pretty Woman), dirigido por de Garry Marshall, com Julia Roberts (Vivian Ward) e Richard Gere (Edward Lewis) sendo os protagonistas. Ele foi lançado em 1990 e até hoje é daqueles que todas as redes de televisão vira e mexe reprisam. Isso porque sabem que sempre haverá ótima audiência. Afinal, no fundo se trata de um conto de fadas contemporâneo, uma história de amor, algo que inclusive quem jura que odeia espia e gosta. Seu sucesso foi tamanho que, mais de 30 anos passados, ele segue sendo considerado como um modelo em termos de comédia romântica. Poucos dias atrás voltou a ser mostrado na TV por assinatura.

Edward é um homem de negócios de Nova York, que se caracteriza pela frieza com que age. Ele adquire por preço baixo empresas que estão em sérias dificuldades e depois as revende fatiadas, colocando suas ações na Bolsa de Valores, com imensa margem de lucro. Ele vai fazer uma dessas aquisições em Los Angeles e se obriga a ficar uns dias a mais na cidade do que pretendia. Ao pegar o automóvel esportivo de seu advogado, por empréstimo, enfrenta dificuldades em conduzi-lo e acaba parando inadvertidamente em uma zona de meretrício. Abordado por Vivian, que o auxilia, ele acaba por contratar a moça para que lhe faça companhia, uma proposta sem conotação sexual a princípio. O convívio entre os dois termina sendo determinante para que ambos sofram uma profunda transformação. Ela redescobre a esperança de ter outra vida e ele aprende que existe algo a se fazer no mundo, além de dinheiro.

Existem várias histórias em torno do filme, no entanto, que podem ser contadas, independente do que foi para as telas. A primeira delas é que o roteiro original era totalmente diverso, pretendendo ser uma crítica à prostituição que gravita em torno da vida glamurosa de Hollywood. Seu título deveria ser "Três Mil Dólares", fazendo uma referência ao valor que Edward pagaria pelos serviços de Vivian. Mas, a atriz discordou do final, que seria ela sendo paga e cada um seguindo seu rumo. Isso quase a fez desistir do papel. Entretanto, uma troca na propriedade dos direitos transformou o que seria um drama em uma comédia romântica, também por pressão da atriz.

Interessante é que a dupla imaginada para os papéis eram Al Pacino e Meg Ryan, mas ambos recusaram os convites. Julia Roberts, depois de ter aceito, foi fundamental no convencimento de Richard Gere. A química entre ambos foi tão perfeita que se torna impossível imaginar como seria o filme com outros atores contracenando. E seus desempenhos em Uma Linda Mulher serviram para alavancar as carreiras de ambos. Também se destaca o fato de algumas cenas terem sido improvisadas, justamente devido ao entrosamento. Uma delas não estava sequer prevista: aquela na qual Edward brinca com Vivian fechando a tampa de uma caixa de jóias no momento em que ela colocava a mão. Surpreendida, a atriz deu uma sonora gargalhada que, de tão genuína, ficou no filme.

Para quem gosta de encontrar erros de continuidade nos filmes, esse também oferece um para a coleção. Aos 32 minutos, Vivian e Edward tomam café da manhã. De um corte para outro na cena, a personagem feminina está comendo um croissant, que se transforma em panqueca do nada. Quanto à trilha sonora, há também alguns fatos curiosos: a ópera La Traviata (A Mulher Caída), que tem um fragmento dramático mostrado quando ambos vão juntos ao teatro, fala justo da paixão de um jovem de "família respeitável" da Provence, que se apaixona por uma cortesã. A peça para piano que Gere interpreta no lobby do hotel foi composta e de fato executada por ele. Julia canta a música Kiss (Beijo), de Prince, no momento em que o personagem de Gere está ao telefone. E a canção principal do filme, It Must Have Been Love (Deve Ter Sido Amor), da banda Roxette, chegou ao primeiro lugar na Billboard.


01/08/2024

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  Solon Saldanha

Solon José da Cunha Saldanha, graduado em jornalismo, tem especialização em Comunicação e Política, além de mestrado em Letras. Com experiencia na mídia impressa, rádio e assessoria de imprensa, atua como revisor estilístico de textos e professor universitário. Escreve contos e crônicas.

solonsaldanha@gmail.com


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