Resenha
Josué Montello
Luiz Carlos Gomes Junior
Ouso comentar a obra do excelente Josué Montello, escritor maranhense, nascido em agosto de 1917, em São LuÃs do Maranhão. Desde muito jovem dirigiu diversos jornais e aos trinta anos foi nomeado diretor da Biblioteca Nacional, já no Rio de Janeiro. Teve a carreira de escritor iniciada no modernismo, mas ainda sob forte influência do romantismo nos respiros finais. Em novembro de 1954 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, sendo seu mais jovem admitido até então. Muito tempo depois, Montello foi presidente da mesma Academia Brasileira de Letras, sucessor de Austregésilo de Athayde, honraria merecida frente à prolÃfica e diversa obra literária.
Diferente dos escritores nordestinos seus contemporâneos, tais como José Lins do Rego, Graciliano Ramos ou mesmo José Américo, Montello não se atém a uma paisagem de caatinga, por vezes antagonista aos personagens, um tanto inóspita e agreste. Escreve com ambientação urbana, na cidade, em especial São LuÃs, que é descrita nos espaços e ruas quase no detalhe. Ao lê-lo, dá vontade de recorrer a um aplicativo de mapa, para verificar por onde andava aquele personagem. Eu sempre o faço, aliás, mas esse é um recurso disponÃvel apenas para os leitores atuais e que não existia ou era insipiente até sua morte, em março de 2006.
Acompanhando a extensa obra do autor, dá-se viajar por uma constante ascendente em estilo e trato dos personagens, onde passa por análises introspectivas, como em A Luz da Estrela Morta, e chega a uma liberdade com seus tipos, em que se percebe sua feição psicológica brotando da narrativa e o leitor passa a conhecê-los ao sabor da leitura. São descobertos e compreendidos na maneira do seu comportamento e com as reações aos acontecimentos trazidos no desenrolar da trama, numa liberdade que somente com experiência narrativa e criatividade se consegue tratar os personagens. Dá-nos deleite com obras tais como Labirinto de Espelhos, Cais da Sagração (trata sobre conflito de gerações e a vontade férrea do protagonista), Os Degraus do ParaÃso (onde aborda a intolerância e o fanatismo religiosos), O Baile da Despedida ou a obra referência Os Tambores de São LuÃs, visão do fim da chaga escravagista no Brasil.
Outra grande qualidade do seu texto é a concisão. De forma alguma deixa de ser rico nas descrições e ambientações, muito marcantes nos romances de sua autoria, mas tudo no estilo instiga a continuidade da leitura, numa narrativa que prende o leitor.
Muito se fala da inspiração de Machado de Assis na produção literária de Montello, desde as primeiras composições. Entre os personagens encontramos ecos diversos dos de Machado, grande mestre, de quem era admirador e entusiasta. Por exemplo, do seu primeiro romance Janelas Fechadas, vê-se a personagem Benzinho ter a verve de uma Capitu ou cabe observar a desconfiança de Bentinho na aflição de Abelardo, personagem central de A Décima Noite. Na narrativa também existem alguns paralelos, sem deixar de notar a diferença na linguagem advinda da não contemporaneidade dos autores.
06/08/2024
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