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Literatura

A compaixão mais forte
Ronald Augusto


o poeta edson cruz

O que é e já foi, um dia, o homem – ou o ego scriptor de – Edson Cruz, está muito bem presentificado via linguagem (sistema que se exaure e se renova a cada gesto poeticamente crucial) nesse conjunto de poemas intitulado Sambaqui. Se o poeta, parafraseando um trecho do poema “Caravana solitária”, por meio do desatino da linguagem, consegue “acariciar” o seu próprio destino, isso tem a ver com as limitações inerentes ao objeto verbal de que se serve, pois “as palavras não sabem/ nem saberão...” dar conta dos sentidos (e não do sentimento) do mundo. A poesia de Edson Cruz faz menção lateral à humildade (enquanto estilo poético) de Manuel Bandeira, uma compaixão mais forte, desonerada de qualquer martírio ou inação contemplativa. O poeta está comprometido e em ação, mas sempre com e via linguagem: “tantas intenções projetadas/ e continuamos a tatear/ redundâncias”.

Edson faz crítica através da linguagem, isto é, através dos jubilosos equívocos semânticos que nutrem a tarefa poética. Combinação de ecos, camadas discursivas provenientes de controversos tempos e espaços: acervo harmônico, em sentido marioandradino, isto é, por oposição ao melodioso, ao dócil. A palavra designa essa alma sem calma (topos pessoano) que foge ao “desfile de horrores”, à “ação que se conclui”, ao logro do xeque-mate. Em cada poema do conjunto Sambaqui deparamos o soft de base e o hard alusivo, entrelaçados com capricho. Os poemas reconhecem similaridades entre John Cage e o samba, entre as redundâncias e a vertigem da cegueira, entre a dádiva imerecida e o sal que corrói a pele da alma.

Edson Cruz é um poeta que mobiliza as palavras no poema de modo a deslustrar o entendimento pela intuição e a sugerir o entulho no antolho do sabido. Sua poesia representa a mudez ruidosa do mundo por meio tanto da dualidade do ser, como da ambiguidade da signagem estética. O silêncio, constitutivo da composição do poema, uiva vivo em Sambaqui, para Edson Cruz trata-se de um “cão sem dono/ entregue/ à própria sorte”.


22/11/2011

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Comentários:

Eu amei o texto. Poético, bem escrito. Emocionante. Que bom dispor de companhias tão sabiamente poéticias, neste quadrado gelado onde dedilhamos nossas emoções. Muito bom.
Almeri Espindola de Souza, Porto Alegre 23/11/2011 - 11:43

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  Ronald Augusto

Ronald Augusto nasceu em 1961 no estado do Rio Grande do Sul. O escritor atua em inúmeras áreas: é músico, letrista, ensaísta e possui ainda um trabalho significativo no âmbito da literatura. Como poeta alcançou expressividade no cenário nacional e até mesmo mundial, de tal forma que suas produções foram publicados em revistas literárias, bem como em antologias, dentre elas destacamos: A razão da Chama, organizada por Oswaldo de Camargo (1986), a revista americana Callaloo: African Brasilian Literature: a special issue EUA (1995), a revista alemã Dichtungsring Zeitschrift für Literatur, e outras.

dacostara@hotmail.com
www.poesiacoisanenhuma.blogspot.com
twitter.com/ronaldpoesiapau


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