Toda mulher gosta de uma história triste, algumas pra rir, outras pra chorar. A frase é da Condessa Jane Marie, a mais experiente personagem de “Hotel Rosa-Flor”, e sintetiza a proposta da recente peça da Cômica que esteve em curtÃssima temporada no Porto Verão Alegre dias 09 e 10 de fevereiro.
“Hotel Rosa-Flor” mostra um fim de semana da vida na vida de seis mulheres que se encontram num hotel familiar de uma pequena cidade gaúcha, mulheres de diferentes idades, classes sociais, origens étnicas, mas todas vivendo um momento crucial da vida, todas diante de oportunidades, desafios, decisões. E apesar do cenário, iluminação e elenco impecáveis, é o texto de Patsy Cecato o ponto forte da peça, um texto simples, clássico (com inÃcio, meio e fim em ordem direta), que poderia ter sido transformado em conto, romance ou cinema, mas virou teatro dirigido por Julio Conte.
A história começa equilibrando-se entre o estereótipo e o clichê, apresentando o pequeno hotel, a insegura proprietária, a graciosa e bela e indiscreta empregada, uma hóspede ladina e outra idosa, cheia de tÃtulos e soberbas. Enquanto o público vai se acostumando com o cenário e o enredo, poucos sorrisos e muita dúvida de onde quer chegar aquele enredo aparentemente despretensioso. Até que surgem as novas hóspedes, a recepção começa a ficar cheia e os fios até então soltos começam a se entrelaçar de forma surpreendente, original e instigante.
Claro que não nos cabe antecipar o final, mas como não poderia deixar de ser, todas as seis personagens verão suas vidas se transformarem ao longo desse fim de semana, expondo e dividindo medos, preconceitos, desejos, sonhos e fracassos. A altiva condessa revelará sua fraqueza, a pobre Deise reafirmará seus sonhos, a traÃda Helena demonstrará forças, a ambiciosa Beatriz, humildade, e a determinada Maira, coragem. Fraqueza, sonho, força, humildade e coragem que ajudarão a protagonista, Rosa-Flor, a tomar a mais difÃcil decisão de sua vida, marcada até ali por perdas e tristezas, e ecoarão num público que não revela como as personagens – mas sente ao vê-las – seus medos, seus segredos, suas histórias tristes.
Se a reação diante dos pequenos e cotidianos dramas das hóspedes de Rosa-Flor será de riso ou choro, como diria a Condessa, depende de cada um. Talvez haja momentos para ambos, o momento da reflexão ao som de “Luar do Sertão”, o momento da graça quando as hóspedes despem-se de alma e corpo. No fundo, no fundo as histórias não são tristes, muito menos trágicas, são apenas histórias cotidianas e profundas de mulheres em busca de companhia, de um sexo em busca de identidade, de uma humanidade em busca de respostas.
Escrita em 1996 e montada apenas dez anos depois, o elenco de “Hotel Rosa-Flor” conta com Patsy Cecato, Margarida Leoni Peixoto, Juliana Brondani, Márcia Ohlson, Melissa Dornelles e Larissa Maciel.
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