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Entrevista

Entrevista com o poeta Sidnei Schneider
Adriana Bandeira

Sidnei Schneider é poeta, contista e tradutor. Publicou os livros de poesia Quichiligangues (Dahmer, 2008) e Plano de Navegação (Dahmer, 1999). Em breve lança Andorinhas e outros enganos (contos). Trata aqui de poesia, literatura, psicanálise, tribos amazônicas e assuntos correlatos.


Foto: Rodrigo dMart

1-Preciso começar esta entrevista perguntando sobre o impronunciável. Talvez pelo que me faça lembrar da forma como nos conhecemos, em que existia uma pronúncia letra por letra do nome próprio. Pois bem, o que seria o impronunciável na poesia?
Sidnei com “d” mudo e tudo com “i”? É, gosto de me reconhecer quando recebo um livro autografado (risos). Penso que a poesia vai ao limite da aproximação da linguagem com o real. O poeta quer porque quer o impossível, dar a ver o mundo e as relações humanas usando apenas uns vinte e poucos símbolos, o alfabeto. Por isso rejeita a expressão gasta, opera desvios na linguagem corrente, usa diversos recursos que a língua oferece. Como se pode concluir, alguma coisa sempre ficará de fora, permanecerá não dita, porque o real e a linguagem não são a mesma coisa. Posso descrever uma fruta, mas não me alimentar da palavra bergamota. Como estou falando com uma psicanalista, talvez devesse acrescentar que, evidentemente, conforme Freud já apontava, também na psique humana o manancial do inconsciente não se esgotará, por mais que o transformemos em literatura ou objeto de análise.

2-Este impronunciável faz parceria letra a letra, palavra a palavra. O que pensas disso?
Toda a letra ou palavra, todo o significante, isolado ou em relação ao que há ou não há a sua volta no texto, é significativo, nas suas múltiplas possibilidades de leitura, especialmente na poesia. O vazio não é desprezado, as chamadas entrelinhas falam e colocam-se como espaço aberto à participação do leitor. Algo vai restar não dito, porque a linguagem não dá conta de se equiparar completamente ao real da realidade, do mesmo modo como não simboliza completamente o real do inconsciente. Creio que temos aí pontos de encontro interessantes entre poesia e psicanálise.

3-Nisso incluímos os contrários, contidos nas raízes dos vocábulos. Assim tudo muito igual ao que faz uma escuta em psicanálise. A negação como forma de falar de algo. A poesia se coloca a favor disso por, justamente, testemunhar o que não é acessível, o que é construído na hora, pelo leitor. Assim, quais as semelhanças ou diferenças entre poetar e analisar-se?
Sim, a lógica aristotélica, que dizia que se A é A, então A não pode ser não-A, excluída uma terceira possibilidade, só serve para casos mais simples e limitados. Amor e ódio, vida e morte são faces contraditórias da mesma medalha, compõe uma unidade dialética e podem se transformar um no outro ao menor sinal, à menor mudança. Assim como a atração e repulsão das partículas que dão existência ao átomo ou a gravidade centralizante e a fusão nuclear explosiva que “equilibram” uma estrela, o pensamento só existe a partir de contínuas contradições e sínteses em movimento. A palavra, da mesma forma, é unidade contraditória, para além das modificações de suas raízes etimológicas. João Cabral de Melo Neto, em Dúvidas apócrifas de Marianne Moore, trata da negação: “Como saber, se há tanta coisa/ de que falar ou não falar?/ E se o evitá-la, o não falar,/ é forma de falar da coisa?” Num poema, cada expressão ou palavra já é escolhida pelo poeta objetivando uma matriz ampla de significados, embora, obviamente, outros lhe escapem. O leitor, que vai ao poema com suas vivências e leituras, sua consciência e inconsciência, termina de criar o poema que o autor, muito modestamente, só esboçou. Assim, uma obra admite múltiplas e variadas leituras, embora dela não se possa extrair leituras quaisquer, como sugeriu Umberto Eco. Podem haver leituras que não correspondem ao que um texto, enquanto objeto artístico acabado, tem a oferecer através dos seus signos ou de suas elipses. Eventualmente podem ser úteis se trazidas para a análise clínica, mas fogem completamente do campo da literatura. Porque são leituras particularíssimas, somente daquela pessoa, impossíveis de serem aceitas pelos outros. Assim, se um psicopata lê os versos de Camões “Amor é fogo que arde sem se ver/ É ferida que dói e não se sente” e interpreta que eles são neonazistas e o autorizam a abrir fogo contra a multidão, essa leitura, do ponto de vista do seu histórico pessoal, deve fazer algum sentido, mas é impossível de ser compartilhada socialmente, por mais explicações que se desse para justificá-la. Ou seja, saímos do campo da literatura, e entramos no dá psicanálise, sendo que o leitor não precisaria ser um perturbado mental, mas apenas uma pessoa comum fazendo uma leitura demasiado particular de um texto qualquer.

4-Tua escrita é encantadora, revelando espaços inusitados enquanto traz marcado o cuidado com a palavra, com a significância. Prefiro chamar isso de cuidado com o tempo, quando apresentas um ritmo de construção definido pela cautela, pelo rigor poético. Qual tua formação, teus conhecimentos nisto que segue como campo da palavra?
Esse elogio, “encantadora”, eu não tinha recebido ainda (risos). Sei lá quais são os meus conhecimentos, prefiro bater na porta do desconhecido. Li e leio de um tudo, muita poesia, um tanto de ficção, estudos críticos, passei por um curso de Letras, fiz teatro, atuei na política. Não só literatura me interessa, nem apenas filosofia, história, economia, antropologia, as chamadas ciências humanas. Gosto de geologia, paleontologia, astrofísica, química e física quânticas, etc.

5-Já perdi a conta de quantas vezes tu me puxaste as orelhas. E quando gostas do texto... pior ainda! Lembro de um personagem, meu cortador de mato... Então tua paixão pelo texto, teu envolvimento é arrebatador, no sentido de que ficamos pensando se fomos negligentes com aquele personagem, se não o qualificamos, se não o apresentamos como devíamos. Isso é fantástico porque, para mim, faz referência a esta existência, em cada um, de muitos, e a escrita fazendo valer isso, da melhor forma ou da pior. O que me dizes?
Bem, nunca pretendi puxar orelhas de ninguém, não é esse o meu foco. Quando me pedem uma opinião sobre determinado texto, se tenho tempo e condições eu dou. Digo sempre que não desejo a concordância do escritor, mas provocar o seu debate interno, destravar a sua discussão quando já não consegue pensar nada criticamente novo sobre o que produziu.  Uma vez que opinei algo, o escritor necessariamente vai se confrontar com isso, para discordar, concordar, pensar outra coisa ou eleger as razões do acerto que fez e eu não percebi. Imagino que é como ter a experiência da crítica pública antecipada, o que talvez possibilite ampliar a consciência sobre a própria linguagem. Não acredito que a poesia ou a ficção possam ser uma espécie de vômito do inconsciente. É necessário muito trabalho, aproveitar essa matéria inicial até transformá-la em arte, dar duro. Não confiar na espontaneidade, de que assim se alcançaria um bom resultado. O espontâneo é uma escrita imediata, ainda pouco endereçada ao outro enquanto objeto estético, ainda não totalmente construída com esse fim, sendo uma possível exceção a isso rara, pouco frequente.

6-Acrescento que a forma como abordas o texto alheio faz esta báscula: texto próprio, texto do Outro. Este cuidado com que determinas uma aliança legítima entre privado e público: o texto tem um autor mas...é do Outro. O que achas disso?
Muitas coisas que podem satisfazer o escritor, que possui todas as conexões e referências, igualmente podem não fazer sentido nenhum para a recepção. O poeta Paulo Henriques Brito escreveu em Um pouco de Strauss: “Não escrevas versos íntimos, sinceros,/ como quem mete o dedo no nariz./ Lá dentro não há nada que compense/ todo esse trabalho de perfuratriz,/ só muco e lero-lero.//(...)// Esquece o eu, esse negócio escroto/ e pegajoso, esse mal sem remédio/ que suga tudo e não dá nada em troca/ além de solidão e tédio:/ escreve pros outros.// Mas se de tudo que há no vasto mundo/ só gostas mesmo é dessa coisa falsa/ que se disfarça fingindo se expressar,/ então enfia o dedo no nariz, bem fundo,/ e escreve, escreve até estourar. E tome valsa.” Escreve-se para alguém, para um público, desde um público. “Le style, c’est l’homme”, o estilo é o homem (faz o homem), mas vem do outro: “o homem a quem nos dirigimos”, acresceu Lacan, “apenas para alongar a sentença”. “Le style, c’est l’Autre”, diria ele, apesar de nunca ter feito essa brincadeira com a frase proferida em 1753 pelo naturalista Leclerc de Buffon e utilizada depois por Karl Marx para se defender da censura prussiana, sendo a recente de Haroldo de Campos.

7-Estes dias falávamos sobre o amor pelas palavras. Há um certo encantamento, envolvimento que faz as vezes de paixão pela palavra. Nelas não há limites, podem ser o que imaginamos, trazer vestígios de lembranças ou lugares não visitados. Então lembro Freud, naquilo que apontava como estranho familiar, sua perspicácia para dizer sobre as revisitações na fala. O que seria, na escrita, um estranho familiar?
Poetas e ficcionistas, talvez mais que outros leitores, sentem amor pelas palavras. Mas um criador não pode simplesmente morrer de amor pelo que enfileirou no jorro inicial. Um poema, um conto, um romance exigem bem mais. Da mesma forma como não é corriqueiro se conseguir expor com exatidão e clareza a complexidade do que se está pensando ou sentindo a cada instante, não é tão imediato traduzir em um objeto de poesia as ideias, imagens e sons das palavras que se movimentam na cabeça do poeta. É preciso trabalhar muito, tanto para melhor expressar o que se pretendeu como para chegar ao que há de desconhecido e que não se revelou antes. Existe a necessidade de apresentar aos leitores, e inicialmente a si mesmo, algo esteticamente interessante e bem acabado. Nesse sentido, escrever causa prazer, mas também exaustão e até dor. Um escritor brasileiro da atualidade, nesse momento não recordo quem, disse que escrever é uma atividade inglória, pois mais do que escrever a atividade do escritor é cortar, cortar palavras, períodos, textos inteiros que vão parar no lixo ou são deletados, nos quais havíamos colocado tanto, independente de serem autobiográficos ou não, enfim, que cortar é sempre cortar na carne e isso dói. Não amar demais as próprias palavras, saltar para fora do círculo narcísico, faz bem à literatura. Claro, há prazer também, no meu caso principalmente quando o texto está nascendo e quando o dou por finalizado, depois de muitos cortes e modificações. O excessivo amor por qualquer coisa que se expeliu bordeja o amor pelas fezes. Podemos mais do que isso, oferecer nosso melhor.

Se, desde Freud, o sujeito não é mais visto como de todo apreensível, a retomada obsessiva dos mesmos temas ou imagens por um escritor, tão comum na literatura, remete ao estranho (oculto) e familiar (conhecido). Olhar para o próprio texto depois de muito tempo, sem lembrar necessariamente de todo o percurso de trabalho que o tornou o que é, pode causar essa impressão de estranheza e familiaridade, de ter sido um outro o seu autor. O estranho-familiar faz pensar numa arte que não causa somente prazer no receptor, como Freud havia proposto inicialmente, mas instigação e perturbação, ocorridas durante sua visita ao Moisés de Michelangelo. Para mim é uma questão interessante e não totalmente resolvida, porque essa perturbação acaba redundando, mais cedo ou mais tarde, se a obra atinge a arte maior, em motivo de prazer estético. Admiramos estupefaciados, por exemplo, uma obra francamente horrível como Saturno devorando os filhos, o deus do tempo pintado por Goya. Um poema de Brecht revela a busca do estranhamento enquanto estética: “Sob o familiar, descubram o insólito./ Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável./ Que tudo que é considerado habitual/ Provoque inquietação./ Na regra, descubram o abuso./ E sempre que o abuso for encontrado/ Encontrem o remédio.” (A exceção e a regra). De todo modo, penso que essa pergunta melhor caberia aos psicanalistas.

8-Amor pela palavra, amor pela cidade, amor por uma mulher. Quais as diferenças?
No caso da tua enumeração, são todas femininas. Amo também, desde adolescente, a realidade: por pior que seja quero estar bem próximo, saber dela. Isso não tem a ver, necessariamente, com escrita realista estilo século 19, já que toda ficção é um universo inventado, uma mentira. Mas toda boa ficção, seja fabular, realista, científica, fantástica ou qualquer outra, é tanto melhor quanto mais consegue dar, através dos liames entre o mundo criado e o real, pela mentira uma verdade.

9-Sei de teus conhecimentos sobre a cultura grega e o quanto em alguns textos isso aparece. Como o poema “Prometeu”. Poderias falar um pouco disso?
A escritora e professora Jane Tutikian, ao apresentar meu livro de poesia Quichiligangues (2008), sugeriu que meu interesse pelo mundo grego devia ser consequência do curso de Letras. Sem desdizê-la, eu poderia afirmar que é anterior. Quando criança, meu pai me contou a história do rio em que não se entra duas vezes, achei fantástica. Mais tarde descobri que era de Heráclito e não sei se meu pai sabia do autor. Entre os sete e os dez anos li os doze volumes de uma enciclopédia: a espada de Dâmocles e outros relatos se inscreveram para sempre na minha memória. Na sexta série precisava escolher um livro para leitura. Fiquei entre dois na livraria, o que não escolhi era Prometeu acorrentado, de Ésquilo. A curiosidade permaneceu e mais tarde a satisfiz.

10-Além de algumas entrevistas, podemos assistir tua fala dizendo poesia. É o caso de “Porta”, que se encontra no YouTube. O que isso contribui na construção de um dizer poético?
Acredito que a verbalização do poema pode despertar o interesse de um novo leitor e ajuda na divulgação da poesia. Nos últimos dez anos, mais ou menos, esse tipo de expediente serviu para tirar a poesia do limbo. Multiplicaram-se os saraus, os eventos, os festivais no Brasil inteiro. Posso dizer poemas em público, realizar palestras, dar oficinas, participar de debates, mas para mim não há nada mais produtivo do que a escrita e a leitura silenciosas.

11-O que é campo da fala, para ti?
Não pretendo, visto não ser especialista, mero leitor curioso, abordar essa expressão de Lacan em termos psicanalíticos. Talvez se possa sugerir apenas que a poesia busca desvendar o que não é percebido imediatamente. Se um poeta escreve sobre um pano de chão, poderá tratar das relações de trabalho pelas quais esse trapo passou até chegar a uma determinada casa, lembrar a flor de algodão que um dia ele já foi, etc. Ou seja, a poesia amplia a perspectiva e suspende as certezas do leitor, muitas vezes as do próprio poeta. É claro que há no escritor um processo de escuta (leitura, no sentido amplo do termo) de si mesmo e do outro, que busca o desconhecido: “ouço, como um, aviso/ o que não diz nada/ não como um sino/ mas um sopro”, escrevi há uns vinte anos.

Assim, o campo da fala para a literatura, para a minha pelo menos, é o do silêncio. A observação, a rememoração, a elaboração interna, a escrita e a leitura realizadas na quietude. Não importa que entrem aí a vivência de infinitas falas, intertextualidades oriundas de leituras e diversas artes, etc. Meu campo, minha fala, minha produção advém desse silêncio. Em suma, meu silêncio é minha fala. E como todos sabem, o silêncio fala.

12-Filhos, filhos... És um pai de três. Para mim a maternidade acrescentou possibilidades neste campo da fala. Costumo brincar que a maternidade rompe qualquer significado, sendo uma experiência do Real, da qual nunca retornaremos. O que é ser pai, para ti?
Depois que me divorciei, após um ano e pouco, meu filho pequeno veio morar comigo. Um pouco mais, veio a filha do meio. Similar a muitas mães, fui um pai solteiro. Curti a função, então socialmente nova, amava e amo meus filhos, e não deixei de fazer o que gostava. Recentemente, minha filha menor, já adulta e universitária, por razões inusitadas, também veio. Tenho dificuldades para fazer muitas coisas, mas recordo que sempre que pintava um problema grande com um dos filhos, instantaneamente eu me mobilizava e era como se soubesse exatamente o que fazer. Por pior que fosse a fatura, ficava alerta e lúcido como uma serpente.

13-Tuas experiências com os índios... O que mais te fez diferença nelas?
Não são lá grandes experiências, mas fiz duas viagens enormes pela Amazônia, uma mais pelo Brasil, a outra adentrando a Amazônia Peruana. Não saí esperando encontrar aldeias intocadas, mas atento às modificações culturais devido ao contato com a nossa civilização. No Baixo Mucajaí, em Roraima, os poucos habitantes, de origem nordestina, pescam de rede ou anzol, mas os Yanomammi migrados da Guiana Inglesa não se adaptaram, continuam pescando com arco e flecha. No entanto, a ponta da flecha, originalmente de osso de peixe, agora é feita com alumínio industrial batido em forma de seta, e o fio do arco, à exceção de uma pequena parte de fibras vegetais, é de arame. No Mato Grosso diziam, por brincadeira, que os Uru-Eu-Wau-Wau de Rondônia iam me pegar, mas nem sei se eram mesmo antropófagos, como os Juma. No Acre, próximo ao Rio Juruá, os Kampa fazem beberagens de plantas alucinógenas até surgir o dia atrás das árvores altas, então pegam um espinho e espetam um sapo deixado num cercadinho, e depois espetam em si o leite do sapo, ficando imediatamente sóbrios. Próximo da Laguna de Yarinacocha, em Pucallpa, no Peru, vivem os Shipibo, que fabricam tecidos inacreditáveis, cerâmicas lindíssimas e praticam rituais do yagé em palafitas, com um lugar reservado para o vomitório, que acreditam purificador.

14-O trabalho é o próprio, o que se produz sem contestação. Porém, no que se refere à poesia, sabemos que não dá para sobreviver se contarmos somente com a escrita. O que é para ti o trabalho como produção no mundo e o trabalho que te dá subsistência? Há diferença? Há padecimento?
Vivo dentro de uma equação pré-estabelecida: trabalho com estatística para sobreviver e fico livre para fazer o trabalho que eu quiser em termos de poesia e literatura. Acredito, com Maiakóvski, que poetar é um trabalho.

15-Quais os trabalhos que mais gostaste de fazer? Quero dizer, incluindo oficinas, publicações, palestras...
Em literatura, o que mais gosto é de ler e escrever.

16-E das publicações, qual a que te deu mais gosto?
Quichiligangues, um livro pequeno, teve uma acolhida ao mesmo tempo modesta e extraordinária. Ver impressa minha primeira publicação, uma tradução de José Martí, foi uma grande alegria. Assim como ter bastante gente no lançamento de Plano de Navegação, meu primeiro livro autoral, pois eu temia que não fosse ninguém.

17-Aliás... o que é publicar?
Começar a fazer coisas no mundo com a linguagem da poesia. Ou da ficção: meu primeiro livro de contos, Andorinhas e outros enganos, já está na editora.

18-Fizeste trabalhos em parcerias, projetos para leitura e escrita, organização de espaços de discussão, etc. Poderias falar um pouco disso?
Produzi eventos de poesia, mas é um fato que, mais ocupado, se escreve menos. Por dois anos estive à frente da produção do PortoPoesia, no entanto resolvi me desligar no final de 2008 por discordância quanto a uma relação conflituosa com organizadores de eventos similares e doei minha parte da produtora aos outros três, depois dois, sócios. Com a artista plástica Anico Herskovitz, organizei duas edições do Poemas Gravados. Dou respaldo à FestiPoa Literária, ao Cidade Poema e a outros eventos. Em 2011, participei do Sport Club Literatura no StudioClio (Prêmio Fato Literário), da III Jornada de Poesia Moderna da PUC-RS, do Cabaré do Verbo na Casa de Cultura Mario Quintana, de coletivas do Castelinho Cultural do Alto da Bronze, da Feira do Livro de Porto Alegre, do Sarau Literário da Zona Sul, viajei pelo interior através do ArteSesc, percorri escolas, etc. Colaboro com a revista Verbo 21, editada pelo escritor Lima Trindade desde Salvador, atendo a convites de periódicos, escrevo apresentações, faço entrevistas, mas decidi me dedicar mais à escrita criativa, deixando um tanto de lado a produção de eventos.

19-Qual a função social do escritor, hoje? E do texto?
O escritor se manifesta como cidadão e principalmente através da sua obra. O texto responde a uma época histórica, direta ou indiretamente, e tanto melhor se está em consonância com ela, apontando para o futuro. Sinteticamente, a função social do escritor é humanizar o mundo através da celebração e da crítica presente nos seus textos, na melhor forma estética que ele consiga atingir depois de dar o máximo de esforço. A velha e entrada em séculos tese da arte pela arte acaba maltratando a arte que imagina defender.

20-Gostaria de falar mais alguma coisa?
Agradecer o convite para a entrevista e a gentileza da entrevistadora. Desculpar-me pela demora na resposta.

A entrevistadora Adriana Bandeira é escritora e psicanalista, autora de Chá das Cinco (AGE, 2008). Entrevista publicada originalmente em Indecentes Palavras, fev. 2012.


13/03/2012

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Comentários:

Excelente entrevista onde pude conhecer melhor o trabalho do Sidnei e admiro muito a amiga Adriana Bandeira, um grande abraço! Diego Ferreira www.escapeteatro.blogspot.com
Diego Ferreira, Montenegro 22/03/2012 - 14:15
A entrevista feita com o escritor Sidney Shchneider se notabiliza pelas múltiplas áreas com que examina a literatura.Uma leitura apenas impossibilita a absorçao das temáticas apresentadas. O escritor é dotado de extensa rede de conhecimentos a enriquecer o seu dizer. Levarei o texto para meu grupo de estudos -que estuda, escreve e publica- para alargamento de conceitos sobre a prática literária. Um abraço da Arlita
ARLITA AZAMBUJA, poa 20/03/2012 - 10:37
Adriana Bandeira rsrsr...Na verdade o objetivo das entrevistas no indecentespalavras é apresentar o autor, o sujeito que escreve na sua inevitável nudez!.Não por isso ou aquilo rsrsr mas, simplesmente, porque há alguém que escreve, que traduz um endereçamento...e já está! Mas...podemos nos perguntar: qual o motivo? No meu entendimento, hoje, isso faz falta no mundo.Gostamos do texto, da obra, da música e não é raro esquecermos que existe um ( e suas palavras ou notas,ou cores,ou gestos) que passou tempo ali, esteve rasgando verso rsrsrs,esteve numa dedicação sem fim para deixar marca no mundo.Isso é a contrapartida ao que chamamos descartável.Não podemos ser! Ninguém é...descartável, simplesmente porque estamos na linguagem.Alguns registram suas metáforas e metonímias, suas poesias...outros não.Porém...elas existem...as poesias e o sujeito que a faz.Aliás o humano é sujeito de poesia...e isso é certo!Pois bem...Sidnei relamente se mostrou e embora esta entrevista tenha sido muito aguardada ( quase um ano! rsrs), teve seu objetivo alcançado, o sujeito dizendo si.Aliás, esta forma de entrevista não se deve tanto assim ao lugar da psicanálsie na minha vida rsrsrsr...mais faz valer meus 13 aninhos quando eu queria ser repórter e entrevistava pessoas para o jornal ' O progresso", aqui de Montenegro.As perguntas, a forma de entrevistar...é pura saudade do que me faz escrever, cada vez mais!E então...bem, a psicanálise também está!Valeu,Sidnei! Parabéns!Beijo grande
Adriana Bandeira, Montenegro 14/03/2012 - 12:20
Fantástica entrevista! É muito bom conhecer Sidnei Schneider pelos olhos de uma psicanalista. O trabalho deste poeta gaúcho que conheço há tanto tempo é inestimável!
Guilherme Bender, Jaraguá do Sul/SC 13/03/2012 - 16:47

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