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Teatro

Salomé no teatro Universitário
Fabiane Machnacz Lima

Cartaz da peça universitária
Cartaz da peça universitária

Que o Porto Verão Alegre reúne espetáculos de qualidade a preços acessíveis não é novidade, mas o que ainda nem todos sabem é que a programação inclui também apresentações gratuitas, caso das peças apresentadas na sala Qorpo Santo, nas dependências da UFRGS. E para quem acha que ficam aquém das demais, por se tratarem de peças de teatro universitário abertas ao público, muito se engana: a longa fila muitos minutos antes do horário de início já era um sinal de que o público seria grande. E, de fato, a casa teve lotação esgotada em todas as noites.

Neste ano foram quatro peças apresentadas, uma a cada semana, e o encerramento não poderia ser melhor, com a montagem de Salomé – o amor e sua sombra. Inspirada na obra de Oscar Wilde e na própria história bíblica, a trama encena o assassinato de João Batista (para quem ficou em dúvida, é sim o que batizava Jesus), conforme o desejo de Salomé. Em troca de agradar o rei Herodes com sua famosa dança, a princesa pediu que ele fosse decapitado, ficando ambíguo se o fez para agradar a mãe, a quem muito incomodava as previsões do profeta, ou por retaliação, afinal não teve seu amor correspondido. Ou os dois motivos. A hipótese que fica mais latente na peça é a segunda, assim como na obra de Wilde, que foi o primeiro a relatar a história como um ato de paixão, já que no Evangelho o nome de Salomé nem é citado, apenas o de Herodes.

A voz de Salomé pedindo a cabeça de João Batista em uma bandeja de prata (quantas mulheres já não desejaram isso para o homem que lhe menospreza?) ecoa pelo teatro e comove. Salomé consegue seu objeto de desejo numa cena intensa - assim como todo o espetáculo -, intenso como a cor vermelha do sangue do apóstolo, único elemento colorido. Todo o figurino e o cenário são em preto e branco, simplicidade que só acrescenta ao espetáculo feito por talentosos atores atuando descalços e cada um com detalhe claro diferente sobrepondo sua roupa escura.

A peça de 50 minutos parece se passar em cinco, pois cativa o público e é aplaudida em pé. Na saída, como de praxe em exibições gratuitas, havia um chapéu para quem quisesse deixar contribuições espontâneas. Quando saí – e não fui uma das últimas – estava bem cheio, mais uma prova de que o público faz questão de estimular iniciativas como estas.

14/02/2008

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