Como todo mundo sabe, circulam pela internet muitos textos – quase sempre bem intencionados, politicamente corretos, mas fracos estilisticamente – assinados por jornalistas famosos, cronistas e escritores prestigiados. As “vítimas” deste estelionato autoral são quase sempre as mesmas. Luis Fernando Verissimo, Arnaldo Jabor, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Martha Medeiros, Caio Fernando Abreu – e ainda José Saramago, Jorge Luiz Borges, Gabriel Garcia Márquez...
Alguns desses escritores (os vivos, claro) já se manifestaram várias vezes para negar serem os autores desta ou daquela crônica ou parágrafo – quase sempre redigida em estilo canhestro, por mais sucesso que faça na internet. Em vão. Muitas pessoas preferem acreditar que o texto de que tanto gostaram seja de alguém a quem admiram (ou de quem já ouviram falar) do que de um desconhecido qualquer.
E aí (do outro lado do balcão) acontece um fenômeno curioso: o verdadeiro autor do tal texto escolhe um nome de griffe para assinar a sua criação, desinteressado em prestígio pessoal... Com postura militante, aparentemente quer passar com mais vigor e força de convencimento a sua mensagem, sua ideologia, sua crítica ou protesto. Mas não ousa dizer o próprio nome.
Esse, ao que tudo indica, é o caso de uma crônica de levada feminista e correção política que vem ganhando inúmeros “curtir” no Facebook e comentários engajados – mas que com certeza não foi gestada pelo brilho de Verissimo, embora seja o nome dele que aparece como autor. O conteúdo é antimachista, mas o estilo é agressivo e passa a quilômetros da delicadeza, sutileza e do fino humor do maior cronista brasileiro.
Mas quem se importa?
26/09/2012
Compartilhe
Comentários:
Os falsos textos do Mário Quintana são fáceis de identiicar. Ele nunca usava o "você", apenas o "tu". Portanto, se o texto tiver a palavra "você", não é do Mário Quintana. roberto niederauer, caxias do sul/rs28/09/2012 - 10:42
Eu também dou combate sem trégua a essa palhaçada. Por mais constrangedor que seja vc informar uma candidata à namorada, por exemplo, que aquele texto que ela te cita — encantada com o seu conteúdo e tentando passar uma mensagem sedutora — não é do autor que ela imagina. E todo o encanto do momento escoa pelo ralo.
O que é pior: em geral são textos fuleiros, fáceis de se identificar que nada têm a ver com o estilo do autor mencionado, pra quem conhece um pouco. Armando, Porto Alegre27/09/2012 - 20:30
Muito bom !!! raul ellwanger, Porto Alegre - RS27/09/2012 - 19:03
Ainda bem que tem gente como você, que não deixa barato esse absurdo diário. Obrigado pelos elogios, Angela. José Antônio Silva, Porto Alegre/UF27/09/2012 - 17:05
Alguns se importam, eu entre eles e passo por antipática, cri-cri, metida etc... ao tentar corrigir ou denunciar estes textos apócrifos. Fico gratíssima por seu lúcido e bem escrito artigo. Aleluia! Angela Schnoor, Rio de Janeiro27/09/2012 - 16:51
Envie seu comentário
Preencha os campos abaixo.
Resenhas
As resenhas pubicadas no portal Artistas Gaúchos são de inteira responsabilidade dos articulistas. Se você deseja enviar um texto, entre em contato com o editor do portal. Não é necessário estar cadastrado no portal para enviar resenhas e a veiculação ou não é uma escolha editorial.
Os comentários são publicados no portal da forma como foram enviados em respeito
ao usuário, não responsabilizando-se o AG ou o autor pelo teor dos comentários
nem pela sua correção linguística.