artistasgauchos












Literatura

De perto
Rubem Penz

E a vida o que é?
Diga lá meu irmão
Gonzaguinha

O teórico Antonio Cândido analisando a crônica – gênero literário que está diante de seus olhos – festeja o fato de ela ter um status menor. Chega a afirmar que jamais teremos um Nobel cronista, o que, de fato, a história apenas confirma. Lá pelas tantas, cita que essa característica é muito útil: “E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura.”

Pois hoje, repousando os pés no chão depois de sorver a enorme celebração que foi o lançamento da antologia Santa Sede – crônicas de botequim, Safra 2012 (Ed. Literalis), posso afirmar que a inversão do raciocínio também é uma oração verdadeira: a crônica para muitos pode servir de caminho não apenas para a literatura, que ela serve de perto, mas para a vida.

A participação de pessoas com diversas ocupações laborais em oficinas literárias faz surgir, no mínimo, leitores mais qualificados – fato que ninguém contesta. Afinal, trilhar caminhos que nossos melhores escritores já passaram, e estar defrontado com a tarefa de percorrê-los a partir da própria elaboração, desenvolve a capacidade de ler os textos em sua estrutura, desvendando aos poucos as estratégias que muito nos encantam. Mas, boas experiências levam ainda mais adiante.

O patamar seguinte é o de reconhecer-se capaz de produzir literatura, boa literatura, perseguindo o brilho dos grandes astros. Encontrar a voz mais confortável e estendê-la aos limites da criação sem perder-se na pauta. Conhecer a voz do outro e aceitar as diferenças com naturalidade. Mais: maravilhar-se com a diversidade de interpretações sobre um mesmo tema lendo-a como diferente, não melhor ou pior. Apenas outra.

Alcançar esses dois estágios – qualificar a leitura e capacitar a composição – é um bom destino para toda oficina literária. Agora, o caráter confessional e o grau de exposição inerentes à crônica, quando a turma conquista um patamar de confiança mútua, nos faz passar para adiante dessa fronteira. E a Santa Sede tem chegado lá.

Ao cabo de seu terceiro ano, no adeus à terceira turma, depois de estarmos tão perto uns dos outros, afirmo sem medo: concluímos a passagem pela mesa de boteco, além de melhores escritores, pessoas melhores. Sou grato por terem me dito em palavras e gestos, afinal, o que é a vida. Isso é a vida.


21/11/2012

Compartilhe

 

Comentários:

Envie seu comentário

Preencha os campos abaixo.

Nome :
E-mail :
Cidade/UF:
Mensagem:
Verificação: Repita os caracteres "104912" no campo ao lado.
 
  

 

  Rubem Penz

Publicitário, escritor e músico. Orientador da oficina literária Santa Sede, crônicas de botequim - projeto iniciado em 2010 com, em 2018, 14 publicações e dois prêmios (Açorianos de Literatura como Destaque Literário e Livro do Ano AGES com A persistência do amor, Ed. Buqui). Entre outros veículos, foi colunista do Metro Jornal entre 2012 e 2018. Compõe o Conselho Editorial do IEL e o corpo docente da Metamorfose, StudioClio e Casamundi Cultura. Entre os livros publicados estão O Y da questão (Literalis), Inter Pares (Literalis), Enquanto Tempo (BesouroBox) e Greve de Sexo (Buqui).

rubempenz@gmail.com
www.rubempenz.net
www.facebook.com/rubem.penz


Colunas de Rubem Penz:


Os comentários são publicados no portal da forma como foram enviados em respeito
ao usuário, não responsabilizando-se o AG ou o autor pelo teor dos comentários
nem pela sua correção linguística.


Projeto desenvolvido pela Metamorfose Cursos e Editora - contato@metamorfosecursos.com.br






Confira nosso canal no


Vídeos em destaque


Cursos de Escrita

Cursos de Escrita

Curso Online de
Formação de Escritores

Curso inédito e exclusivo para todo o Brasil, com aulas online semanais AO VIVO

Mais informações


Cursos de Escrita

Oficinas de escrita online

Os cursos online da Metamorfose Cursos aliam a flexibilidade de um curso online, que você faz no seu tempo, onde e quando puder, com a presença ativa do professor.

Mais informações