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Literatura

O que importa é a curtição
Ronald Augusto

A atividade crítica, como há pouco escreveu o poeta Marcus Fabiano, mantém estreita analogia com a tarefa do jurado de qualquer prêmio ou concurso literário (esse comentário se restringe ao campo da literatura, mas o problema seria o mesmo se falássemos do ponto de vista de qualquer outra atividade artística). Mas num certo momento seus caminhos se bifurcam.

O jurado assim como o crítico, a partir de critérios principalmente estéticos (por agora vamos dizer que deveria ser assim), assume a responsabilidade de apontar dentre aquelas obras apresentadas à competição, as mais bem logradas. O crítico, seja por seu próprio apetite, seja por dever de ofício, se dobra sobre a produção do presente e do passado e propõe leituras (eu diria que se dispõe a uma interlocução) a propósito das valências compositivas desses exemplares e avalia os resultados.

Enquanto a decisão não vem à público, jurado e crítico estão seguros. “Deixemo-los lá, os dois, fazendo o seu trabalho de suma importância para continuação do sistema literário”. Tão logo o resultado do julgamento ou da interpretação é conhecido, separando os melhores dos piores, seu recorte passa a ser severamente criticado.

A diferença entre o jurado e o crítico é que este dá a ver publicamente não só as obras literárias bem logradas que teve sob seus olhos. O jurado, por sua vez, faz uma crítica indireta, quase apaziguadora de conflitos, pois oferece (por agora vamos aceitar que é assim) ao leitor modelos do que considera um bom ou excelente trabalho literário. No caso dos prêmios e concursos, exceto se algum derrotado/excluído não vem a público para lançar dúvidas sobre a decisão do jurado, nem sabemos quem morreu no caminho. O silêncio entre desdenhoso e vaidoso como que deixa tudo em panos quentes e, aparentemente, todos concordam que a justiça foi feita. “Eu? Não, não mandei nenhum original para esse prêmio. Nem sei quem ganhou”.

  

O crítico, ao menos dentro das condições do presente, enfrenta e produz alguns problemas, vejamos: (1) se ele escreve a favor de determinado autor, não faz bem porque poucos sabem escrever “a favor” hoje em dia; essa ideia de “coletivo de escritores” reduz o “a favor” a um vergonhoso estilo laudatório que preserva mais o sujeito que elogia do que o elogiado, pois no momento seguinte o objeto dos confetes lançados terá de retribuir o gesto na mesma moeda. Escrever “a favor” é sinônimo de relação corruptora.

E (2) se o crítico escreve contra, ele é um filho da puta porque esse “coletivo de escritores”, todos eles conectados graças às redes sociais, esse coletivo de ativistas, forma um campo benfazejo onde se criou a ideia – inclusive para que ninguém sofra um surto psicótico – de que não existem mais bons nem maus escritores. O que importa é participar; ser um representante desse coletivo.


11/01/2013

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Comentários:

Ronald, amigo poeta, crítico e musicista. A crítica feita à obra é valiosa e necessária. Penso crítica como verificação da qualidade, da criatividade, do inédito ou mesmo do assemelhado a algo já criado. O crítico em Literatura, pra mim, é mais ainda necessário nos dias que correm em função até das maiores possibilidades, antes inexistentes, da simples cópia de algo já criado em outro lugar, em outra cultura, em língua outra. Essa mundialização que torna possível pensar humanidade "latu sensu" ao passo que anula as distâncias geográficas, oferece a espertos (não é tradução de experts) o plágio à canhestra mão ligeira. Também não muito me ensina ler comentários recorrentes do tipo lindo, belo, uau! a publicações em "coletivos", mesmo que participe de coletivos e uma que outra vez, por gosto, ante a qualidade do publicado, resuma a avaliação ao aplauso a isso assemelhado. Diferente de ti, penso, um crítico de obra escrita não está a buscar o retorno agradecido do autor de obra que criticou. Justamente por entender que o privado entre pessoas nada tem a ver com a obra oferecida a público ou a crítica deva alcançar o autor em sua privacidade. Ou, estamos em acordo, e atos assim, de adulação e a realimentação da auto-estima de avaliador em razão de escrito sobre obra criada, não são de crítica, mas correspondência entre amigos, conhecidos ou coisa outra fora da Literatura interessa a pessoa que o simples e necessário ato da crítica. Siga sendo. Sigo lendo com gosto, porque sempre aprendo.
Adroaldo Bauer, Porto Alegre/RS 26/01/2013 - 22:55
marcos, sou a favor de críticos e jurados; faço crítica, como você já deve ter percebido e, eventualmente, faço também papel de jurado, o texto só apresenta um estado de coisas. não é contra a crítica. é um piparote em quem quer produzir apenas recebendo elogios, até!
ronald augusto, Porto Alegre 18/01/2013 - 16:32
Ronald, para todas as funções exercidas na face da terra, principalmente as que outorgam mais poder a quem as detem, são passiveis de críticas. Até o ato do conviver harmoniosamente, existente nas redes sociais. Que seja bem vista a crítica eo o julgamento, posto que se é julgado, é visto. Um escritor deve ser lido, mesmo que seja pelo crítico ou o jurado de um concurso literário. Mas, a despeito de opiniões causadoras de mal estar, pensemos: E se não houvessem os críticos? E se só nossos pares pudessem nos analisar e dar um veredicto pelo que escrevemos? Ah, acho que, como nas redes sociais, viveriamos a ilusão de que tudo o que dizemos e escrevemos é lindo e maravilhoso, quando no fundo de nossos mais belos sonhos sabemos que não é uma verdade. E que venham as críticas. Abraço fraterno.
Marcos de Andrade, Passo Fundo/RS 18/01/2013 - 13:18

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  Ronald Augusto

Ronald Augusto nasceu em 1961 no estado do Rio Grande do Sul. O escritor atua em inúmeras áreas: é músico, letrista, ensaísta e possui ainda um trabalho significativo no âmbito da literatura. Como poeta alcançou expressividade no cenário nacional e até mesmo mundial, de tal forma que suas produções foram publicados em revistas literárias, bem como em antologias, dentre elas destacamos: A razão da Chama, organizada por Oswaldo de Camargo (1986), a revista americana Callaloo: African Brasilian Literature: a special issue EUA (1995), a revista alemã Dichtungsring Zeitschrift für Literatur, e outras.

dacostara@hotmail.com
www.poesiacoisanenhuma.blogspot.com
twitter.com/ronaldpoesiapau


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