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Música

Poder de síntese
Felipe Azevedo

Alguém já disse que a arquitetura é música congelada. Podemos pensar, portanto, que se esta arquitetura não está a olhos vistos, mas presente em nosso mundo sonoro através de vestígios, códigos, rastros culturais... ela se torna uma arquitetura invisível, atemporal, porém dinâmica; em outras palavras, viva.

É de consenso entre inúmeros autores de que os primeiros traços de consolidação de uma arquitetura sonora brasileira remontam ao lento processo de desvinculamento natural e espontâneo das manifestações de caráter ritualístico, religioso e pagão de brancos, negros e mestiços de função puramente comunitária para um sentido coletivo, e mais tarde mercadológico e de lazer, entretenimento.

A constante mistura de batuques, cantos e danças ritualísticas de índios e afro-brasileiros com as cantorias do culto católico e as cantigas e danças dos folguedos populares trazidos da Europa gerou um processo fermentativo e fecundo típicos de um sincretismo cultural.

A participação cada vez mais constante e crescente de brancos e mulatos nesses folguedos iniciou um processo de adaptação resultando num casamento polissêmico da percussão, da coreografia, do canto africano crioulo (responsorial) com danças, ritmos, melodias e novo instrumental, incluindo a viola de arame.

Grande parte do repertório de ritmos e gêneros brasileiros, que também geraram canções, se originou ou é desdobramento dos gêneros danças: o lundu, o maxixe, a polca, a schotisch, a mazurca, a habanera, a quadrilha, o coco, o maracatu, o afoxé, o maculelê, o cateretê, o samba, a ciranda, o baião....enfim vários são os casos em que o corpo desempenha um papel significativo e demarcatório,: o chão, a terra, a base, o pulso é muito presente. Segundo Tinhorão em seu livro As origens da Canção Urbana, em 1880 um tocador de viola (noticiado num periódico) ao demonstrar as possibilidades do instrumento na música de concerto, ao passar do repertório erudito para o popular, imediatamente trocou os ponteados (dedilhados) pelos rasgados (batidas), tocando com desenvoltura fados, cateretês e sambas – aqui ainda com um sentido abrangente.

Mais tarde, com a chegada do violão, todo este arsenal de recursos desenvolvidos na viola, esta arquitetura sonora foi recodificada, reaproriada, reassimilada, readaptada ao contexto do novo instrumento que acabou se integrando e desenvolvendo no ambiente urbano - sem esquecer é claro da literatura própria já adquirida e desenvolvida pelo violão no seu ambiente de origem.

A partir do momento em que efetivamente este processo de reproduzir, aglutinar, sintetizar sons, levadas, ritmos se consolidou no repertório de recursos técnicos do violão, o instrumento ganhou um caráter popular mais sólido e tipicamente brasileiro, pois em busca de novas sonoridades e abrangências estéticas, mastigando e deglutindo os mais variados condimentos: erudito, rural, urbano, pop, jazz, batuques, etc., no seu processo evolutivo e agregador jamais deixou sob qualquer aspecto de se apropriar daquilo que pudesse inovar, renovar ou reprocessar o já adquirido, assimilado. Nestes termos, conforme já foi dito, o violão brasileiro ganhou, adquiriu o seu poder de síntese.

13/03/2008

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  Felipe Azevedo

Felipe Azevedo é compositor e violonista, premiado com 5 prêmios Açorianos, além de prêmios em festivais locais e nacionais. Licenciado em Música (IPA) e Letras (PUC), o músico também estudou Harmonia, Contraponto e Forma e Análise com Fernando Mattos; Harmonia e Improvisação com Cristiano Kotlinski; técnica violonística com Eduardo Castañera e atualmente recebe Orientação Vocal aplicada ao seu trabalho de compositor com Lúcia Passos. Com 03 álbuns lançados Felipe está em fase de finalização de seu novo CD – Tamburilando Canções – Felipe Azevedo – Violão com Voz, prêmio FUNARTE – RJ.

felipaz@terra.com.br
www.felipercussive.blogspot.com
twitter.com/felipazev


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